Programas estruturantes ligados à logística que prometem mudar a cara do Estado. Investimentos pesados no turismo, agronegócio pujante e pronto para ter resultados melhores do que no ano passado. As perspectivas para o Espírito Santo em 2025 bem como a forma que o Estado pretende alinhar todas as possibilidades para ter um ano ainda melhor do que 2024.
E não tem como falar em possibilidades no Estado sem citar a logística. À frente de projetos importantes nesta área está o vice-governador e secretário de Estado de Desenvolvimento, Ricardo Ferraço. Ele explica o programa ParklogBR/ES, que deve otimizar a estrutura de acesso a portos no Norte. Do mesmo modo fala sobre os investimentos no Sul e vai além.
Ferraço crava que o agro capixaba vai bater novos recorde em 2025, depois de ter em 2024 o ano mais produtivo da história. Além disso, fala de crédito, reforma tributária e também de sucessão. Nesse sentido, o mercado político aponta o nome dele como o natural sucessor de Casagrande em 2026.
Veja abaixo a entrevista com Ricardo Ferraço:
O que o projeto estruturante ParklogBR/ES significa para a logística do ES?
O nosso Estado tem uma relação com o comércio exterior desde sempre. Somos o Estado brasileiro com o maior grau de abertura em sua economia. Nesse sentido, ao compararmos o PIB capixaba com o volume de importações e exportações, temos a maior participação efetiva entre os 26 estados do país.
Nossa vocação para o comércio exterior vem das nossas origens com o café. O Espírito Santo é o segundo maior produtor de café do Brasil e, no caso do café conilon, somos extremamente relevantes.
Se fôssemos um país, seríamos o segundo maior produtor mundial de conilon, atrás apenas do Vietnã. No ano passado, além disso, superamos o Vietnã devido a um problema climático sério que afetou a produção deles. Isso elevou o preço da saca de café para valores históricos, beneficiando nossos produtores.
Além do café, temos uma forte tradição na exportação de rochas ornamentais. O comércio exterior está diretamente ligado à infraestrutura, incluindo rodovias, ferrovias e portos.
Atualmente, recebemos grandes investimentos nesses setores, e o ParklogBR/ES surge nesse contexto, localizado em Aracruz e com impacto em municípios como Serra, João Neiva, Ibiraçu, Fundão, Colatina e Linhares.
Quais são os principais componentes desse parque logístico?
O ParklogBR/ES nasce com três portos. Temos Portocel, da Companhia Suzano, que está ampliando suas operações para além da celulose. Além disso, inclui ainda a movimentação de automóveis, café e rochas ornamentais.
Há também a VPorts, antiga Codesa, que está desenvolvendo uma área em Barra do Riacho. Do mesmo modo tem a Imetame, uma empresa capixaba que está construindo um dos maiores terminais de uso privativo do país, com águas profundas de até 23 metros.
Tudo isso permitirá a operação de navios de grande porte, essenciais para rotas internacionais como para a China.
Além dos portos, o parque contará com dois aeroportos (Aracruz e Linhares) e uma Zona de Processamento de Exportação (ZPE). Ou seja, a região oferece incentivos para empresas que importam insumos e exportam produtos manufaturados.
Nosso objetivo é atrair investimentos e fortalecer nossa base econômica.
E quanto à infraestrutura rodoviária, como o ParklogBR/ES deve se conectar ao restante do Estado?
Estamos investindo fortemente na infraestrutura rodoviária. Nesse sentido, um dos principais projetos é a construção de uma nova rodovia ligando o Parque Industrial da Serra ao Parque Logístico de Aracruz. A primeira etapa, entre Serra e Nova Almeida, será inaugurada entre março e abril. A segunda etapa já está contratada.
Também realizamos melhorias na BR-101, BR-262 e BR-259, fundamentais para a logística estadual. Do mesmo modo, a BR-101 passará por um novo leilão entre abril e maio, garantindo investimentos em duplicação e melhorias, incluindo a construção de terceiras faixas onde há entraves ambientais para duplicação.
Esperamos ver avanços significativos já a partir de junho de 2025.
E o Sul, que tipo de melhorias logísticas deve receber?
No Sul estamos desenvolvendo o Parque Logístico Sul Capixaba, em Presidente Kennedy, impulsionado pelo Porto Central. As obras já começaram, e essa iniciativa vai impactar toda a Região Sul, conectando-se ao Polo de Cachoeiro de Itapemirim.
Nesse sentido, expandimos essa estratégia de planejamento e investimento para maximizar o desenvolvimento econômico em todas as regiões do Espírito Santo.
Como o governo do Estado lida com a reforma tributária e seus impactos?
A reforma tributária preocupa porque vai afetar nossa principal fonte de arrecadação, o ICMS. Em outras palavras, atualmente, o imposto é dividido entre origem e destino, mas passará a ser cobrado apenas no destino, o que pode reduzir nossa arrecadação.
Para mitigar esse impacto, aceleramos investimentos e nesse sentido diversificamos nossa base econômica.
Mantemos uma gestão equilibrada, combinando responsabilidade fiscal com investimentos estratégicos. O Espírito Santo é referência nacional em organização das contas públicas há 13 anos, mas isso não basta.
Precisamos traduzir essa responsabilidade em desenvolvimento e qualidade de vida para os capixabas. Do mesmo modo, em 2023, fizemos o maior investimento da história do Estado, e continuamos nesse ritmo para garantir um futuro próspero.
O Bandes anunciou um lucro recorde em 2024 e pretende ampliar as linhas de crédito. Como isso contribui para o desenvolvimento?
O crescimento do Bandes reflete nossa política de incentivo à economia. O lucro recorde permitirá ampliar o crédito para empresas e setores estratégicos, fomentando investimentos e impulsionando a geração de emprego e renda.
Como disse o governador, só faz sentido crescer se pudermos oferecer mais oportunidades para nossa população no futuro.
O que falta para que o crédito chegue com mais força para micro e pequenos empreendedores?
O crédito chega em abundância, especialmente na área do agronegócio, com diversos bancos que oferecem boas condições, como o Banco do Brasil, Banestes, Sicoob e Sicredi.
O plano safra de 2024 foi de aproximadamente R$ 8 bilhões, o maior da história. Para micro e pequenas empresas, há esforços da nossa Aderes e do Sebrae, com fundos de aval.
Além disso, startups de inovação recebem apoio do Fundo Soberano, com mais de R$ 300 milhões investidos em 2024. O Bandes também concede crédito com juros baixos e prazos estendidos. O banco emprestou mais de R$ 500 milhões na economia capixaba em 2024.
O Bandes anunciou um aumento significativo na oferta de crédito para empresas do setor de turismo. O que significa isso para o ES?
O turismo é uma das principais apostas do governo, inclusive como forma de compensar a reforma tributária. Estão sendo feitos investimentos em infraestrutura, como o novo Centro de Convenções no Pavilhão de Carapina, com R$ 200 milhões investidos.
O Bandes ofertou R$ 13 milhões em crédito para o setor em 2024 e em 2025 serão R$ 72 milhões. Muitos hotéis investem em energia solar para reduzir custos e tornar as operações mais sustentáveis.
O Espírito Santo tem preocupação com a sustentabilidade. O que isso significa para os negócios e a economia?
Em 2024 criamos o Fundo ESG com R$ 250 milhões para apoiar projetos sustentáveis. Além disso, lançaremos em 2025 o Fundo Clima, em parceria com o BNDES e possíveis fundos internacionais, com pelo menos R$ 500 milhões para energia renovável.
Está prevista ainda a inauguração da primeira usina de biometano do Estado, transformando lixo em gás.
O agronegócio capixaba teve seu melhor ano em 2024. Como devem ser os investimentos em 2025?
A tendência é de crescimento, especialmente na silvicultura para produção de celulose e papel, cafeicultura, cacau, pimenta-do-reino e fruticultura.
Um dos desafios que temos no campo capixaba é a diferença entre a capacidade instalada para processamento de leite e a produção leiteira.
Temos hoje um parque instalado três vezes maior do que estamos produzindo leite porque o produtor rural identifica alternativas mais rentáveis. A pimenta-do-reino é mais rentável do que o leite. O cacau é mais rentável do que o leite. O café é mais rentável do que o leite.
As pessoas se desenvolvem, buscam o que é natural, atividades que remunerem melhor. O grande desafio no agro é, de fato, a diferença entre a capacidade instalada para processar leite e a produção em nossas fazendas, até porque existe um outro desafio cultural. Os sucessores nas propriedades não querem trabalhar com leite.
É uma atividade muito dura. Você tem que acordar de domingo a domingo, quatro e meia da manhã, cinco horas da manhã, fazer o manejo do seu rebanho, fazer ordenha. Dá muito trabalho.
Como o agronegócio se encaixa na logística do ES?
O governo investe em infraestrutura rodoviária por meio do DER e do programa Caminhos do Campo, o que fortalece o agroturismo. Rodovias como a Rota do Lagarto são exemplos de sucesso. O investimento em estradas melhora a economia e também a qualidade de vida das pessoas.
O Norte tem incentivo da Sudene, mas e o Sul? O que o governo tem feito para tornar o Sul mais competitivo?
O governo investe na Ferrovia Sul-Litorânea, que ligará Santa Leopoldina a Anchieta, e na ferrovia Anchieta-RJ. O Porto Central, cujas obras já foram anunciadas, terá grande impacto econômico. Além disso, será inaugurado o novo aeroporto de Cachoeiro de Itapemirim. Essas iniciativas visam equilibrar o desenvolvimento das regiões.
Qual a vocação do Sul?
Depende da região. O Litoral Sul tem uma vocação, o Caparaó tem outra. No Caparaó, a vocação é o ecoturismo, o agroturismo, o turismo de montanha e a produção de café de qualidade, com pousadas extraordinárias. Os cafés da região são premiados no Brasil e no exterior.
Já na região de Cachoeiro de Itapemirim, a vocação é a rocha ornamental. A região concentra 90% da indústria brasileira desse setor.
No Litoral Sul, a vocação está mais voltada para a produção de petróleo e gás. O governo trabalha para identificar essas vocações e direcionar políticas e crédito para fomentar esses setores.
Como a política pode garantir o desenvolvimento do Estado?
Um governo organizado, equilibrado e previsível faz do planejamento uma rotina diária.
Quem planeja tem futuro, quem não planeja tem destino. A estabilidade de regras, segurança jurídica e um relacionamento republicano e honesto com o setor privado são fatores essenciais para o desenvolvimento.
O Espírito Santo tem se destacado por sua continuidade de políticas de Estado, independentemente do governo, o que garante um ambiente favorável para negócios e investimentos.
Como garantir segurança jurídica?
Segurança jurídica, previsibilidade e estabilidade são resultados de bons governos. Manter compromisso com o desenvolvimento, responsabilidade fiscal e investimentos contínuos é fundamental. Se continuarmos com essa abordagem, o Estado permanecerá no caminho certo.
Onde o ES pode chegar no cenário nacional e internacional?
O Espírito Santo nunca será o maior, pois tem um território e uma população relativamente pequenos em comparação com estados como Bahia, Minas Gerais e São Paulo. No entanto, podemos estar entre os melhores em qualidade de vida, prosperidade e oportunidades.
Avançamos muito em áreas como educação e segurança pública, saindo da posição de segundo estado mais violento do Brasil para o 16º ou 17º lugar. Continuaremos trabalhando para melhorar cada vez mais.
O senhor é apontado como principal nome para suceder o governador Casagrande. Como enxerga esse cenário até 2026?
Com muita humildade. Faço parte de um movimento político liderado pelo governador Renato Casagrande e tenho me dedicado intensamente ao Espírito Santo. Já atuei como Secretário de Agricultura, Vice-Governador e Senador, acumulando experiência.
No momento certo, quero ser candidato ao governo, mas reconheço que esse é um movimento político amplo, com outras lideranças capacitadas. O foco agora é continuar trabalhando para que 2025 seja um ano de grandes resultados.
A decisão sobre a sucessão será tomada no momento adequado, em conjunto com os aliados.
Ricardo Ferraço é vice-governador do Estado e secretário de Estado de Desenvolvimento
Veja abaixo a entrevista completa: