Entrevista de Domingo

Rodrigo Barbosa: "O mercado de imóveis exige reinvenção"

Com mais de 25 anos no mercado de imóveis, presidente da Grand Construtora acredita que chave para o sucesso é agregar valor em produtos para o consumidor final

"Quero ser reconhecido como um construtor que inovou, que criou coisas diferentes". Crédito: Reprodução de TV
"Quero ser reconhecido como um construtor que inovou, que criou coisas diferentes". Crédito: Reprodução de TV

Um mercado que bomba no Espírito Santo: o de imóveis. Dados do Índice FipeZap mais recentes, de janeiro deste ano, apontam que Vitória é a terceira cidade com o metro quadrado mais caro do país: R$ 12.522. Vila Velha está em 13º, com R$ 9.226,00 o metro quadrado. 

Mas você sabe por que os imóveis aqui no Espírito Santo, nessas cidades, valorizam tanto? Analistas de mercado garantem que esses preços não devem se sustentar por muito mais tempo. Mas, mesmo assim, o imóvel deve continuar como um investimento seguro aqui no Estado. 

Quem acredita nisso é o presidente da Grand Construtora, Rodrigo Barbosa. Ele tem mais de 25 anos de mercado no mercado imobiliário. Em 2013, fundou a Grand com uma visão ampla e diferente do mercado. Com foco no alto padrão e nos clientes com alto poder aquisitivo. 

Veja abaixo o que o executivo da Grand pensa do mercado imobiliário do ES:

Como você resolveu apostar em imóveis de alto padrão em Vila Velha?

Quando alguém, numa área vazia, faz a primeira incorporação e aplica o luxo, aplica um imóvel de valor mais alto, todos os outros terrenos do lado vão seguir a mesmíssima coisa. Isso é comum. Ninguém que tem um imóvel ao lado vai querer vender o seu terreno, permutar, para fazer algo mais simples do que aquilo que já existe. 

Você acha que chegamos ao ponto ideal do mercado ide imóveis capixaba, em termos de preço e oferta?

Eu penso que o preço mais justo é o de hoje. O noticiário tem falado amplamente que o metro quadrado de Vitória é um dos mais caros do país. Entre as capitais, é o mais caro, atrás apenas de Balneário Camboriú e Itapema, em Santa Catarina. 

Em Vila Velha, onde atuo há muitos anos, o preço sempre foi muito defasado devido à grande concorrência e ao uso do preço como estratégia de convencimento. 

Com nossa iniciativa de trazer empreendimentos de alto luxo para Vila Velha, conseguimos elevar o valor do metro quadrado. Porém, isso se sustenta porque oferecemos qualidade correspondente ao investimento.

Muitas pessoas falam sobre a possibilidade de uma bolha no mercado de imóveis. Você acredita nisso?

A bolha pode existir, mas hoje não estamos vivendo uma. Durante a pandemia, houve um grande consumo de imóveis. Isso criou um período de euforia no mercado. Naquela época, sim, houve uma bolha, pois a demanda disparou. 

No entanto, hoje o mercado está equilibrado. O preço do metro quadrado está correto e é o próprio consumidor que valida esse valor.

Muitas pessoas acham que o preço de imóveis está alto. O que você pensa?

Eu discordo. No mercado, ninguém pode exagerar, pois a concorrência é grande. O consumidor tem diversas opções e ele decide o que comprar. Algumas regiões, como a Praia do Canto, têm custos mais altos devido ao preço elevado dos terrenos e às altas taxas de permuta. 

Se um empreendimento similar for feito em um bairro com menor custo de terreno, o valor final dos imóveis será reduzido.

Como você identifica desafios e oportunidades no mercado capixaba de imóveis?

A pandemia foi uma surpresa. Eu não previ o crescimento do setor de imóveis durante esse período, apenas aproveitei a oportunidade. Desde então, continuamos com investimento e diversificação. 

Apesar de um cenário econômico desafiador, com a taxa Selic em alta, seguimos apostando em produtos diferenciados. Nesse sentido, o consumidor valoriza qualidade e exclusividade.

Qual ativo no ES tende a dar um bom retorno?

Sem dúvida, imóveis. O mercado imobiliário é um dos melhores investimentos. Enquanto aplicações financeiras podem parecer atraentes, o imóvel proporciona segurança e valorização ao longo do tempo. 

Além disso, ele não é um ativo circulante imediato, o que evita gastos impulsivos e contribui para a acumulação de patrimônio.

Quais são as principais demandas do empresariado da construção civil?

A burocracia sempre foi um desafio, mas percebo uma mudança positiva nos últimos anos. Os dirigentes municipais estão mais abertos ao diálogo e buscam incentivar investimentos. 

Esse tipo de apoio é fundamental para o desenvolvimento do setor e para a geração de empregos. Hoje, há um entendimento maior de que a construção civil e os imóveis são um motor importante para a economia.

Você acha que o mercado de imóveis no ES deve se concentrar na Grande Vitória? Quais são as próximas fronteiras para o setor?

A gente não se limita apenas à Grande Vitória. Recentemente, fizemos nosso primeiro lançamento em Colatina, de frente para a Avenida Beira Rio. A empresa sempre busca terrenos com boa visualização, e a experiência em Colatina está indo bem, até além do que esperávamos. 

No início, o mercado ficou cético com o preço, mas quem comprou viu o valor e não questionou. A gente investe muito para garantir um produto de qualidade.

Em 2013, a Grand foi lançada em um mercado com muitas construtoras tradicionais. Como foi entrar nesse universo na época?

Foi um desafio. Antes da Grand, eu já tinha uma outra construtora e como foi algo novo, surgiram dificuldades. Como é uma região metropolitana pequena, todos conheciam minha outra empresa de imóveis e isso facilitou um pouco, mas quando chegamos com algo mais ousado, a reação foi outra. 

As pessoas ficaram desconfiadas. Tive uma grande resistência, mas isso foi diminuindo com o tempo, especialmente no último ano.

Você mencionou diversificação. Para onde a construção civil no Espírito Santo caminha?

Nosso Estado tem um perfil conservador. Se as coisas vão bem com prédios, as construtoras continuam fazendo o mesmo tipo de imóvel. Mudam apenas a cor. Embora algumas empresas de fora tenham introduzido o conceito de condomínios horizontais, não vejo grandes mudanças por aqui. 

Eu gostaria que o Estado se transformasse em um destino turístico mais atrativo, assim como Gramado, no Rio Grande do Sul. Temos um potencial turístico incrível, mas não é explorado como poderia ser.

Como o empresário se prepara para os negócios?

O preparo vem com o tempo. Eu sempre me cerquei de pessoas que compartilham a mesma visão e trabalho com seriedade. Eu sou um homem simples, mas gosto de trabalhar. O segredo está em montar uma equipe forte e estar atento às mudanças. 

Não podemos parar. O mercado de imóveis exige reinvenção. Exige que estejamos sempre nos reinventando.

A escassez de mão de obra tem sido um desafio no ES. Como você lida com isso?

Esse é um problema nacional, mas aqui no Espírito Santo sentimos mais. A falta de profissionais qualificados é uma dor constante. Há uma mudança na mentalidade das novas gerações, que preferem carreiras mais “fáceis”, como influenciadores digitais ou motoristas de aplicativo. 

Isso se reflete na escassez de mão de obra na construção civil. Mas, ao mesmo tempo, a indústria tenta usar alternativas como drywall e steel frame, que exigem menos mão de obra qualificada, mas o consumidor ainda questiona a durabilidade e a qualidade desses materiais.

E como você vê a evolução do mercado imobiliário?

Eu acredito que vamos continuar com um mercado focado em prédios, mas talvez com algumas inovações. No futuro, vejo o Estado mais conectado ao turismo e com um mercado imobiliário mais diversificado. 

Se o turismo fosse mais explorado aqui, isso poderia transformar a economia e o mercado de imóveis de maneira significativa.

Como você vê a introdução de novas tecnologias na construção civil?

É um caminho sem volta. Nós somos arcaicos. Na construtora, sempre nos reunimos e mandamos gente para alguma feira para ver se inventaram alguma máquina diferente. Tudo isso nós usamos com tranquilidade e com antecipação. 

A modernização é inevitável.

Não deixa de ser modernização você largar lajota e usar drywall para fazer parede. Só que essas são decisões que eu tenho que tomar sempre pensando em mim, dono da construtora, e pensando no consumidor, que é o meu verdadeiro chefe. O consumidor, como nós somos bem interioranos ainda, não vê com bons olhos isso ainda. Mas vai ter que aceitar. 

Nos próximos cinco anos eles já vão ter que entender que vai ser assim porque vai faltar gente.

O que tem do Rodrigo no comando da Grand?

Disposição. Eu me assusto com a disposição que tenho. Antigamente, as pessoas falavam e eu pensava que era mole, mas agora reconheço que estou numa disposição tremenda.

Acho que a disposição é o que mais impulsiona a empresa. Eu trabalho junto com a equipe, eles me veem animado e acabam se tornando entusiastas.

Você acha que a política pode atrapalhar os negócios?

A política atrapalha sempre. O nosso maior exemplo de instabilidade no país é a política. Não estou falando de PT, PSDB, PL, nem conheço essas siglas todas, mas é assim: nos Estados Unidos, quando uma pessoa assume, o país continua andando, não importa quem seja. Aqui, não. Quando um assume, é um monte de imposto, aumento de custos. Isso precisa acabar. 

A instabilidade política no Brasil é algo que precisa ser resolvido. Isso faz bem para todos, até para os políticos, que conseguem arrecadar mais sem precisar aumentar imposto.

Qual o legado que você quer deixar para o mercado?

Eu quero ser reconhecido como um construtor que inovou, que criou coisas diferentes. Gosto de ser respeitado e respeito todos. Para mim, o legado que eu quero deixar é o de alguém que acreditou e inovou no mercado imobiliário, com ousadia. 

Não estou falando só de Taj, mas também de Una, Grã-Soleil, Colatina, Guarapari. Eu quero ser reconhecido pela inovação e pelo trabalho bem feito, por ter acreditado em regiões não tão desejadas.

Rodrigo Barbosa é fundador e presidente da Grand Construtora

Veja abaixo a entrevista completa: