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A vida de um presidente de clube de futebol: rotina, desafios e cobrança

A maioria dos presidentes do futebol brasileiro tem outro emprego

Foto: Lucas Uebel/Grêmio

Dos 20 times da Série A do Campeonato Brasileiro, 11 têm eleição para presidente marcada para o fim deste ano. São diversos candidatos em busca do cargo máximo do clube. Eles sabem das cobranças e responsabilidades, que precisam dedicar praticamente 24 horas por dia ao comando da agremiação. É assim a vida de presidente de clube de futebol, como contaram três deles ao Estadão.

A maioria dos presidentes do futebol brasileiro tem outro emprego. Afinal, o cargo máximo nos clubes quase nunca é remunerado. Um exemplo é Romildo Bolzan Júnior, que comanda o Grêmio desde 2014 e está em seu terceiro mandato, com validade até o fim de 2022. Além de presidir o time gaúcho, ele é advogado e administra uma propriedade rural da família.

“Minha vida tem uma rotina mais ou menos organizada. O Grêmio é full time, porque sempre tem assuntos para resolver por WhatsApp, por e-mail… São 24 horas por dia no ar”, diz Bolzan, de 60 anos. “O Grêmio é muito profissionalizado com todas as suas diretorias. Nosso conselho de administração se reúne todas as segundas e isso facilita muita coisa. Traçamos diretrizes, recebemos informações e repassamos toda nossa política de caixa e deliberamos sobre todos os assuntos, desde o futebol até o conceito de lojas. Tudo é discutido”, acrescenta o presidente, que conta com seis vices no clube.

Bolzan vai ao clube às segundas, quartas e quintas, além dos dias de jogos, incluindo o fim de semana. Nos outros dias da semana, comparece ao escritório de advocacia e prioriza a parte da manhã. Por fim, na sexta à tarde, ele parte para cuidar de sua propriedade rural. Há ainda outro fator que preenche a agenda do presidente do Grêmio: morar em Osório, a 100 quilômetros de Porto Alegre.

Em clubes menores, a rotina acaba não sendo tão puxada. Presidente do Mirassol há 26 anos, Edson Antonio Ermenegildo sabe bem como conciliar o comando do time com a profissão de delegado. “Nunca me atrapalhou na vida profissional”, diz dirigente de 63 anos.

Assim como o cargo de presidente, a profissão de delegado não costuma ter horários específicos de trabalho. “Em qualquer momento eu posso ser chamado para as duas funções”. Ermenegildo costuma ir ao clube antes de começar o expediente na delegacia, de segunda à sexta. Nos fins de semana, acompanha o time em treinos e jogos. Ele conta com a ajuda principalmente do vice e do diretor de futebol para administrar o clube que está na elite do Paulista e na Série D do Campeonato Brasileiro.

Ao contrário do que ocorre no Grêmio e no Mirassol, o Fortaleza tem um presidente remunerado desde o início de 2019. São R$ 98 mil por mês divididos entre o mandatário, seus dois vices e mais 13 dirigentes. Hoje aos 37 anos, Marcelo Paz largou a direção de uma escola particular da família para ser presidente do clube em 2017, com mandato até o fim de 2021.

“Tenho dedicação exclusiva ao Fortaleza. Eu e mais 15 pessoas (dois vices e 13 diretores) somos remunerados. Vivo o fortaleza full time. Vou aos jogos, acompanho a delegação, fico no mesmo hotel”, afirma Marcelo Paz. “É uma rotina bem intensa, não tem folga. Não tem um dia que eu falo ‘hoje vou ficar off'”.

OS DESAFIOS – O futebol movimenta bilhões de reais por ano, e administrar as finanças do clube é um dos principais desafios do presidente. São diversos contratos com patrocinadores, fornecedores de produtos e, claro, jogadores e demais funcionários. Além da parte financeira, a comunicação interna e externa é uma grande preocupação.

“Para mim, o mais desafiador de ser presidente do Grêmio é justificar o clube perante o torcedor e a opinião pública. Conciliar os sentimentos, fazer com que os torcedores entendam que o que estou fazendo é uma coisa boa, que comprem a ideia. Isso é o que faz o ambiente ficar tranquilo ou conturbado”, opina Bolzan.

No Fortaleza, Marcelo Paz também se esforça pelo “equilíbrio emocional”. “O desafio financeiro é grande, o clube tem muitas demandas, estamos nos reestruturando em termos de estrutura mesmo, como o CT. Mas tenho que investir no futebol, que é outro desafio enorme e foi agravado pela pandemia. A parte emocional também é muito grande, são muitas opiniões, muita pressão. Estamos sendo testados o tempo todo. Se o time ganha, pedem para contratar. Se perde, pedem ainda mais. E qualquer contratação mal feita gera um gasto muito grande, então precisamos ter esse equilíbrio emocional. As pessoas não veem o esforço, só veem o resultado”.

No Mirassol, sem a pressão externa de torcedores, a maior preocupação do presidente Ermenegildo é com a administração do dinheiro. “Nos meus primeiros anos, o principal desafio era organizar o clube financeiramente. Tínhamos uma dependência muito grande do poder público, e hoje não temos mais. Conseguimos resolver isso e construímos nosso tão sonhado centro de treinamentos”.