Onze corredores do Espírito Santo fazem parte do seleto grupo de 600 inscritos na Mizuno Uphill Marathon, uma das maratonas mais difíceis e desejadas do Brasil. No dia 1º de agosto eles vão percorrer os 42km com 1.420 metros de subidas íngremes, mais de 250 curvas, algumas delas fechadas em 180 graus, em um dos lugares mais paradisíacos e gelados do país: a Serra do Rio Rastro, em Santa Catarina.
O veterano Julio Paul é quem desafia a Uphill com 48 maratonas carimbadas no currículo. Beatriz Moyses leva tatuado no braço o nome e em pensamento o sorriso de uma criança que virou anjo. Luciene Trevizani corre com um terço na mão e com a leveza de quem deixou para trás a obesidade. Ibsen Pettersen aplica a disciplina das artes marciais no asfalto como um samurai segue o Bushido, o caminho do guerreiro.
Carlos Toledo celebra a vida da filha e comemora a ultramaratona que é se tornar pai. Bianca Passos nutre a alma e os pensamentos no filho, coloca os planos em dia e agradece a Deus por tudo. Cris Wickert troca as trilhas pelo asfalto, mas segue na busca pela grandeza da montanha.
Talles Cicilioti estende a mão e ainda compartilha a trilha sonora com o companheiro de pace. Ricardo Coelho larga ao lado da noiva, Beatriz Moyses, com quem divide muito mais do que percursos. Alexandre Faé encontra a namorada, Janusa Karla, o aplaudindo na linha de chegada. Thiago Lena debuta na maratona ao som de rock e registra tudo com uma câmera na mão.
Conheça o perfil dos capixabas que vão se tornar ninjas na Mizuno Uphill Marathon:
“O que me inspira é o desafio de encarar a Serra do Rio do Rastro e por ser também um lugar belíssimo”, Alexandre Faé.
O comerciário Alexandre Faé é da Equipe Helayne Aryane e tem 32 anos. Corredor há três anos, vai encarar os 42.195 metros pela segunda vez na Mizuno Uphill Marathon. Sua estreia foi na Maratona Caixa Bahia, em Salvador, em agosto de 2014.
Começou a treinar com foco na Uphill em fevereiro. “Treino corrida três vezes por semana, sendo dois dias (terça e quinta) de específicos (tiros, areia, educativos, ritmo, rodagem, etc.) e no final de semana faço os treinos longos. Todo planejamento é feito pelas minhas treinadoras e está em constante evolução, e ficando mais pesado (aumentando o volume e intensidade) a cada semana. Ainda bem que temos a oportunidade de desfrutar do privilégio de morar no Espírito Santo, com uma variedade imensa de locais para treinar”.
O segredo de Faé para encarar as 256 curvas e terminar a maratona? Garra, determinação e um coração de leão! “A cabeça comanda a mente e o corpo sempre”, afirma.
Seu objetivo é concluir a prova em 5 horas. E o maior medo é não conseguir completar o percurso. “Meu maior adversário atualmente é o meu corpo, ou seja, meu maior adversário sou eu mesmo”.
Além de mariola, gel carboidrato, paçoca e bala de sais, Alexandre vai levar para correr com ele toda a técnica e o conhecimento adquiridos nos treinos. “Cada passada, cada suor, cada dor, além de todas as abdicações para chegar lá”, diz.
Não pensa em correr ouvindo música, mas se rolar trilha sonora será com funk e axé! E os pensamentos durante os 42km? “Vou pensar primeiramente em completar a prova. Gosto sempre de ir lembrando cada treino, da preparação e de cada pessoa que me incentiva e apoia em minhas aventuras. Acreditar sempre que vencerei cada km, cada subida”.
“Terei uma motivação em especial para concluir essa prova. Perdi recentemente minha sobrinha e subirei com ela em meu pensamento, pois sei quão orgulhosa ela ficará (onde ela estiver) em saber que a dindinha dela conseguiu! Será por você, Elisa!”, Beatriz Moyses.
Corredora há 5 anos, a bióloga e professora Beatriz Moyses, da Equipe Treine Certo, tem 29 anos. A Uphill será sua terceira maratona. Sua estreia foi na Maratona do Rio 2014 e a segunda em Porto Alegre no mês passado.
Começou a incluir subidas em seus treinos e a treinar especificamente para a Uphill desde dezembro de 2014 e acredita que a prova será a mais difícil que já participou até agora. “No momento, minha planilha de treinos está com 5 dias de corrida na semana, fora a musculação. O volume de treino semanal está em torno dos 55 a 60 km semanais, mas irá aumentar com o passar das semanas. Os treinos tem variado entre intervalados com inclinação, longões também com inclinação, regenerativos e alguns treinos mais curtos e de intensidade forte”.
A corredora acredita que não há segredos para vencer as 256 curvas ao longo dos 42km. “A base de tudo está no treinamento, descanso e boa alimentação. Além, é claro, de muita confiança”, afirma.
Beatriz pretende concluir a prova abaixo do tempo máximo estabelecido pela organização, que é de 5h59min59seg. “Pretendo e estou treinando para concluir em menos tempo. O objetivo aproximadamente é de 5 horas para a conclusão”.
Ela já se sente preparada fisicamente e psicologicamente para a prova e embarca para Santa Catarina com a certeza de que vai conseguir concluir o percurso, mas revela um único medo: o escuro. “A Serra do Rio do Rastro assusta, e muito! E esse ano ainda tem o agravante de uma prova parcialmente noturna, pois se iniciará às 16h30. Pode parecer bobeira, mas tenho medo do escuro, da mata e de ficar sozinha em boa parte dos trechos, eu e toda essa imensidão da natureza. Para mim, será uma grande superação nessa parte também”, conta.
Além de toda a disposição, fé, coragem e confiança, Beatriz levará no braço uma tatuagem com o nome da afilhada Elisa, que morreu no início deste ano. E é em homenagem à pequena que ela vai encarar o desafio. “A Uphill é uma prova pra aquele que acredita e confia que pode chegar lá. Basta determinação e bom treinamento. Escolhi o desafio exatamente pelo nome (desafio), gosto de desafiar-me, acreditar que consigo e provar pra mim mesma que sou capaz. Superação é a palavra”.
Quando perguntada se pensa na Uphill todos os dias, a resposta é: “Sim, e além de pensar, sonho também. Quando acordo desanimada no final de semana para fazer os treinos longos ou cansada após o trabalho durante a semana, é só pensar nessa prova que tiro a disposição de onde não tenho. Nos sonhos, muitas vezes, não consigo completar a prova, ou então chego lá em Santa Catarina sem os acessórios adequados para a corrida, sem roupa térmica, sem tênis…uma coisa de doido mesmo”, brinca Beatriz.
A corredora pretende encarar, depois da Uphill, a Maratona de Búzios, em novembro, além de provas menores, como a Meia Maratona do Rio, a Dez Milhas Garoto e a Golden Four Asics.
“Gosto de desafios, a Uphill é uma prova bem organizada e diferente, gosto de encarar o que tenho mais dificuldade, fiz uma prova que tinha 12km de areia e detestava correr em areia, treinei muito e superei tudo. Ano passado tive que fazer treino em ladeiras e detestava, então tenho nas mãos uma possibilidade de superar isso”, Bianca Passos
A nutricionista Bianca Passos tem 35 anos e vai representar a Vila Olímpica na Uphill Marathon. Corre há quatro anos e essa será a sua quinta maratona – já esteve na Maratona do Rio 2014, Maratona do Espírito Santo 2014, na Run Disney Maratona – Desafio do Pateta 2015, e participa da Maratona do Rio no próximo dia 26.
Com a experiência de quem já correu uma meia maratona na véspera de uma maratona, Bianca não subestima a Uphill. “Em janeiro, fiz uma prova na Disney que foi bem difícil. Tinha que correr no sábado 21km e no domingo 42km e o clima era bem diferente do que estava acostumada. Estranhei muito, comia mal, não sabia falar bem o inglês e tive muitos medos . Fui sozinha para a prova e chorava na largada porque tinha medo de não conseguir. Mesmo assim, acho que a Uphill será uma das provas mais difíceis até hoje para mim e a intenção é essa mesma”, afirma.
Começou a treinar em março com foco na Uphill, depois de descansar 40 dias devido ao volume de corridas na Disney. “Tenho um plano de treino para maratonas, alternando ladeiras, areia e longos no final de semana. Treino corrida quatro vezes na semana e durante dois dias faço um trabalho personalizado com educativos e cross fit, no lugar da musculação. Volume em média na semana de até 50 a 60km. Próximo à prova o volume está aumentando e podendo chegar a 80km por semana”, explica.
Além do preparo físico, Bianca foca na alimentação, claro. “Sou nutricionista e preparo meu cardápio e fórmulas que me ajudam muito quanto ao desgaste. Procuro me alimentar bem e não sentir desgaste nos treinos. Como mais do que muita gente por aí”, revela.
Sem segredos para encarar a Uphill, Bianca diz que já se sente vitoriosa por encarar maratonas aos 35 anos e ter a coragem de se inscrever para essas 256 longas curvas. “Dormir bem, comer bem e ingerir bastante água, acho que são importantes para a preparação. Corro dentro do meu conforto, não sou velocista e a única intenção é cruzar a linha de chegada”.
A nutricionista quer manter o seu tempo pessoal de conclusão de maratona entre 4h50 a 5h. E avalia que o seu principal adversário será o vento. “É um adversário perigoso. Lá é uma área com muito vento e frio podendo a chegar a temperaturas muito baixas. Mas a força de vontade é a minha maior e melhor amiga e vai vencer”.
A trilha sonora de Bianca será a mesma dos antigos desafios. “Gosto de ouvir as mesmas músicas porque sempre me lembro dos antigos desafios e o quanto fui bem. Ah, e costumo cantar alto e pagar muito mico!”, brinca.
Antes dos quilômetros finais, a nutricionista corredora revela o que estará em seus pensamentos. “Costumo dizer que sair para correr é sair para pensar. Ali é um momento meu, onde coloco meus planos em dia, agradeço a Deus por essas vitórias, e penso na minha família e no meu filho. Só nos últimos quilômetros é que é difícil pensar em algo”.
“Quando minha filha nasceu eu prometi encarar uma ultramaratona para cada ano de vida dela, para me manter ativo e com saúde para curtir muito com ela. Nesse desejo de buscar provas novas e diferentes descobri a Uphill e me encantei com o desafio”, Carlos Toledo.
O consultor de negócios Carlos Toledo tem 35 anos e corre há 15. Representa a Vila Olímpica e tem no currículo de corredor quatro maratonas (a primeira foi a de São Paulo em 2010) e duas ultramaratonas. “Embora as ultras tenham distâncias maiores, a Uphill tem a dificuldade da subida e a altitude que tornam o desafio maior”, avalia.
Os treinamentos de Carlos com foco específico na Uphill começaram há dois meses. “Treino corrida quatro dias na semana e faço musculação. Os treinos estão focados em subida e nos próximos dias a tendência é diminuir o volume para não lesionar”.
O segredo de Carlos para a Uphill é foco e determinação. “Por ser minha primeira maratona de subidas, pretendo fazer em até 5h, mas acho difícil”. E o principal adversário, na opinião dele, será o clima frio com chuva.
Sem trilha sonora, Carlos pretende correr com o básico. “Não tenho amuletos ou simbolismos, vou levar só roupa de frio e tênis mesmo. Corro sem música e só ouço meu corpo e tudo ao redor”.
E os pensamentos ao longo dos 42km? Carlos conta que fica acompanhado o pace de cada quilômetro e fazendo contas para estimar o tempo de conclusão da prova. “Penso na minha família, tudo o que treinei até chegar ali, mas a maior parte do tempo fico fazendo contas mesmo”.
E a Uphill não será o único grande desafio do ultramaratonista em 2015. “Esse ano já fiz uma ultramaratona de 65 km quase toda de areia. Uma semana antes da Uphill faço a Maratona do Rio e assim começa uma saga: dia 09 de agosto farei 26km no Treinão Nuts, dia 16 de agosto a Dez Milhas Garoto e no dia 27 de setembro a Maratona do Espírito Santo.
“Resolvi encarar esse desafio por ser em montanha. É a minha paixão e como não tinha realizado ainda uma maratona de asfalto, a Uphill foi a escolhida por unir as duas coisas”, Cris Wickert.
A professora de educação física, Cris Wickert, tem 52 anos e vai representar a Ultra Sports na Mizuno Uphill Marathon. Adepta das corridas em trilhas e montanhas, a corredora que possui no currículo nove provas de 42km, escolheu fazer sua estreia no asfalto na Serra do Rio do Rastro. “Não posso dizer que será a prova mais difícil que já encarei. Te respondo no final da prova, pode ser? (Risos)”.
Cris se recupera de uma cirurgia e ainda não fez treinos específicos para a Uphill, mas a sua rotina de treinos antes do procedimento a credencia para a prova. “Volto a correr no dia 15 e terei 15 dias para focar nessa prova. Muito pouco. Geralmente treino 4 a 5 dias de corrida na semana e faço mais treinos funcionais e musculação”.
O foco da professora é controlar o ritmo no início da maratona para ter gás no final e completar a prova, já que não teve tempo hábil de treino específico para ela. “Não gosto de estipular tempo. Quero fazer no menor tempo possível dentro das minhas condições no dia da prova”.
Superar as limitações físicas e psicológicas que aparecerem durante o percurso também serão os objetivos de Cris Wickert. Sem trilha sonora, a corredora gosta de ficar atenta aos sinais do seu corpo e aos barulhos que o próprio ambiente da prova proporciona. “Há momentos que desligo e a mente viaja em um universo que só quem corre entende”.
Para Cris, a Uphill vem após uma prova dura de montanha com 90km e ela não vai parar nos 42km. No segundo semestre, pretende fazer mais três provas de montanha.
“Uma maratona não é uma prova para qualquer um. A Uphill é uma maratona com um trecho de mais ou menos 12km de subida muito íngrime em sua parte final. Vi a foto do trajeto em 2014 e fiquei louco pelo lugar e pelo desafio”, Ibsen Pettersen.
O gestor esportivo Ibsen Pettersen, 40 anos, vai levar a camisa da Vila Olímpica para a Serra do Rio do Rastro. Corredor há dois anos e judoca desde a adolescência, vai percorrer as 256 curvas da Uphill como um samurai segue o caminho do guerreiro e ao cruzar a linha de chegada vai se tornar ninja. “Eu vivo o judô desde os 13 anos de idade e sempre vivi bem a idéia do Bushido (caminho do guerreiro). Até existe um segredo para terminar a Uphill, mas esse eu revelo só no dia!
Com duas maratonas concluídas, acredita que a prova não será a mais difícil que já participou e afirma que estará com 80% do seu potencial para o desafio. “A Vila Olímpica tem uma equipe multi-disciplinar muito competente e o planejamento está sendo cumprido à risca. Meus treinos são de cinco a seis vezes por semana e alguns dias em dois períodos. A Uphill acontecerá em um momento que estarei com cerca de 80% do meu potencial. Apesar de um grande desafio, não é minha prova alvo no ano”.
Sem preocupação com o tempo de prova, sem medos, mas com respeito a um adversário. “Pretendo concluir a prova. O tempo não me importa. Quero me divertir e fazer novos amigos. Medo? Não há nenhum medo. Estando treinado, o resto é apenas controle emocional e foco no objetivo. Adversário? Não tenho um bom rendimento em baixa temperatura”, conta.
Ibsen pretende levar para a prova mel, sal e o mantra: “acreditar sempre!”. Não gosta de correr com trilha sonora, mas vai na companhia de um amigo que adora um sertanejo! “Não corro ouvindo música, mas o Talles Cicillioti tá indo, então vou ter que ouvir ele cantando música sertaneja do início ao fim da prova”, brinca.
Durante os 42km os pensamentos serão na familia e em todo o esforço dos treinamentos. “É hora de diversão e nenhuma preocupação me passa pela cabeça”.
“Não tem segredo. Se você está treinado, “confiança” é o que nos leva a completar todos os desafios que encaramos diariamente”, Julio Paul.
58 anos, sendo 16 correndo. 48 maratonas no currículo. A Uphill desafia Julio Paul ou Julio Paul desafia a Uphill? O veterano embarca para Santa Catarina vestindo a camisa da Vila Olímpica.
Sua estreia em maratonas foi no Rio de Janeiro, no ano 2000, e 15 anos depois o professor avalia que a prova mais difícil é aquela que ainda não fez. “Toda prova tem suas dificuldades. Portanto, no momento, a Uphill é a mais difícil”.
Julio está treinando desde fevereiro. Em maio, concluiu a Endurance Challenge Agulhas Negras, com 80 km, e no próximo dia 26, pelo 40 ano consecutivo, pretende dobrar a Maratona do Rio de Janeiro e fazer o percurso de 84 km. “A Uphill será no embalo”.
E os treinos semanais tem uma média de volume de 110km. “Treino seis dias na semana. Descanso só na segunda feira. Como as provas são numa seqüência, muito próxima uma da outra, não pretendo intensificar os treinos”, explica.
Para ele, o tempo de conclusão da Uphill não importa. “Com toda sinceridade, não penso nisso antes de prova nenhuma. Mesmo quando corro provas mais curtas, até com 24 horas, por exemplo. Vou confiante, de que vou completá-la, sem preocupação com tempo de conclusão. E, o que considero importante, sem lesão”.
A experiência faz com que Julio não tenha medo, mas respeito pela prova. Segundo ele, nesse tipo de prova de longa distância, o desconhecido costuma ser o maior adversário do corredor.
Na “bagagem de mão” ele vai levar o que considera o básico: gel de carboidrato de ação rápida, água (500 ml), para alguma emergência, e barra de proteína.
Sem distrações e músicas, o veterano quer ficar atento ao que acontece em seu entorno. “Se existe um carro, moto ou bike se aproximando, a música pode acabar distraindo. Ou mesmo se alguém falar, mandando um determinado recado, pode não ser ouvido”.
Julio Paul revela ainda que costuma dividir seus pensamentos ao longo do percurso da prova. “Do início até o km 25, a novidade da prova, fará com que os pensamentos sejam: “Escolhi a prova certa, que visual, que organização!!!” Do km 30 até km 40, quando resta apenas o corpo sem alma, os pensamentos mudam radicalmente: “O que estou fazendo aqui? Nunca mais volto aqui!!!” No km 42, medalha no peito: “Quando será próxima?”
“Em agosto de 2012 me submeti à cirurgia bariátrica, pois pesava 132kg. Desde que comecei a praticar atividade física, me apaixonei pela corrida. Cada prova para mim é um desafio. Escolhi a Uphill realmente por ser uma prova difícil. Difícil como todo o meu processo após a cirurgia”, Luciene Trevizani.
A advogada Luciene Trevizani, 34 anos, vai debutar nos 42km vestindo a camisa da MR Runner. Corredora há dois anos, tem como experiência em longas distâncias a prova 12 horas Noturnas do Exército em Vila Velha, quando percorreu 52km na modalidade dupla. “Encaro todas as provas como difíceis, cada uma dentro da sua particularidade. A Uphill com suas curvas e altimetria a tornam um grande desafio. Preparar-se para uma maratona esperando que vai ser fácil, não é se preparar para uma maratona”.
Luciene começou a treinar para a Uphill no final do mês de abril, após 30 dias de repouso em virtude de uma cirurgia de retirada de vesícula. “O ciclo de treinamento é de quatro vezes por semana. São treinos específicos de força. Faço exercícios específicos de subida e também treino na areia fofa. Não deixando ainda de trabalhar a velocidade e treinos longos com volumes altos”.
A estratégia da corredora é estar bem e manter o equilíbrio para chegar menos desgastada até o km 21. A meta dela é assegurar que faça a subida em condições de corrê-la o tempo todo e não se preocupar com o tempo. “Correr onde dá e caminhar onde isso for a única opção. Pretendo concluir a prova. Não quero estipular um tempo, apenas pretendo terminá-la.
Luciene considera as condições climáticas e a largada durante a tarde suas principais adversárias. O amuleto – um terço – que ela sempre carrega nas corridas, embarca com ela no desafio que terá como trilha sonora muita música. “Serão 42km, então haja musica!!! Mas não poderá faltar U2”.
Nos pensamentos durante o percurso, muitas lembranças e agradecimentos. “Vou pensar em todas as dificuldades que passei com a minha obesidade. Na dificuldade que foi com o pós-cirúrgico, mas sempre agradecendo a Deus pelas bênçãos alcançadas nessa caminhada. Se hoje cheguei onde estou já me considero uma verdadeira campeã”.
Para encerrar o ano de 2015 em grande estilo, depois da Uphill, a corredora participa da 21k Noronha, meia maratona no paraíso de Fernando de Noronha.
“A preparação é duríssima e cansativa, mas a prova em si, quando estamos treinados é “mais uma”. Eu já sofri em provas de 5, 10, 21km… todas são desafiadoras de certa forma. Não posso afirmar que uma é mais difícil que a outra. Depende da forma que você se prepara e decide encarar a prova”, Ricardo Coelho.
O engenheiro e professor universitário Ricardo Coelho, 31 anos, vestindo a camisa da Treine Certo, vai encarar a sua terceira maratona na Uphill.
Gostou da proposta da prova desde a primeira edição em 2013 e conseguiu vaga na primeira abertura de inscrições para 2015. “Desde quando vi a foto da primeira prova e li os relatos eu decidi que deveria encarar o desafio. Foi uma coisa que guardei para mim até o dia que falei com minha noiva que tentaria a vaga. Quando consegui, cheguei a me emocionar”.
Os treinos começaram no mesmo dia em que fez a inscrição. “Começamos um trabalho de base, fortalecimento e recuperação de lesão. Tudo pensando na Uphill. Até mesmo correr a Maratona de Porto Alegre foi pensando na Uphill que só acontece dois meses depois. Tenho treinado todos os dias. Ao longo da semana varia terreno em que corro, inclinação, intensidade e, aos sábados, faço treinos técnicos visando melhorar a performance na corrida. Fora os treinos diários de musculação”, explica.
O segredo para vencer as 256 curvas? Treinar, treinar e treinar. “Não existe receita de bolo. Tenho que confiar no meu treinador e chegar lá sabendo que é “apenas mais uma corrida” e estou pronto para ela”.
Ricardo teme as cãibras que podem ser provocadas pelo tempo frio da prova. “Meu maior adversário é o meu corpo. Não sei como ele vai responder ao frio. Tenho um histórico de caibras muito grande, tenho medo delas”.
A trilha sonora de todas as provas do corredor não é formada por música, mas pelo som da respiração e das batidas do coração. “Não gosto de nada que atrapalhe eu sentir meu coração batendo forte… é uma sensação indescritível”.
Ricardo quer focar seus pensamentos durante o percurso da prova em algumas frases. “A dor é passageira, desistir é para sempre”. Outra que penso muito é “O limite entre a utopia e a realidade é a sua disponibilidade em realizá-la. Por isso, tome os seus desejos como realidade e acredite na realidade dos seus desejos”. Tomo isso como verdade e vou pra cima, tenho que conseguir”.
O calendário de desafios 2015 de Ricardo Coelho deve contar ainda com a Maratona do Rio (21km), no próximo dia 26, e a Maratona de Búzios em novembro. Além de outras provas aqui no Espírito Santo: Dez Milhas Garoto e a Meia Maratona Shopping a Shopping.
Para finalizar, Ricardo cita mais uma frase que é um dos seus mantras como corredor: “Vai chegar a hora em que a dor será mais forte e você se curvará com as mãos no joelho. E quando isso acontecer, quando você se curvar e estiver olhando para o chão, você vai estar depois da linha de chegada.”
“O que mais vale a pena nesse tipo de prova, são as inúmeras positividades que os participantes passam um para o outro, isso realmente é gratificante”, Talles Cicilioti.
O administrador e professor de judô Talles Cicilioti, 24 anos, vai representar a Vila Olímpica na Mizuno Uphill Marathon. Corredor há 3,5 anos, fez sua estreia nos 42km na Maratona do Espírito Santo em 2014.
Com a experiência da arte marcial, diz que escolheu a Uphill pelo desafio. “Quanto mais difícil, mais me motiva. Isso vem do judô, por sempre estar aperfeiçoando os movimentos e os treinos. E falou em subida ou morro, me animei na hora”.
Acostumado a fazer percursos de treinos pesados aqui no Espírito Santo, Talles acredita mais na força psicológica do que na física para aguentar as inúmeras curvas e subidas. “O fato de a largada ser em um horário com pouca incidência de sol e calor, já contribui muito para o desenvolvimento da prova”, avalia.
O corredor explica como divide a sua rotina de treinamentos com os afazeres profissionais. “Minha rotina é bem puxada. Divido meu dia em quatro etapas para tentar treinar com intensidade três vezes na semana. Além de trabalhar na Vale, sou professor de judô para crianças, então divido meus treinos nos poucos intervalos que possuo. Praticamente estou treinando três vezes na semana , terça e quinta bem tarde da noite, intercalando médias e curtas distâncias com intensidades . Os finais de semana utilizo para treinar bastante morro e longas distâncias.
Os segredos de Talles para encarar as 256 curvas e terminar bem a prova são: “fortalecer muito a musculatura, além de treinar muitas subidas. Acredito que os melhores treinos aqui no Estado são o percurso do Morro do Moreno – Fonte Grande – subida da BR 262 até Domingos Martins”.
Solidário, o atleta não se preocupa com o tempo de prova. Quer concluir o percurso com qualidade e sem muitas dores. “Não sou atleta profissional, me preocupo em concluir a prova com qualidade, sem “muito” sofrimento (porque será inevitável) e se possível ter força para incentivar todos os amigos que estarão juntos! Como sempre falo, não abandono nenhum amigo na guerra, então, se encontrar algum amigo pelo caminho não tenho problema nenhum em diminuir o ritmo para concluir a prova com o mesmo, e incentivá-lo a concluir a prova juntos!
O corredor tem dois receios: contusão e condições meteorológicas. “Acredito que se estiver chovendo, seria um pouco de problema! Chuva e frio. Meu maior medo é uma contusão com a possibilidade de escorregar ou torção, devido ao alto nível de curvas”.
O que ele vai levar para a prova? Mariola, repositores energéticos e um celular cheio de músicas para curtir a paisagem! “Minha corrida sempre tem trilha sonora. Não consigo correr sem cantar. Como dizem meus amigos: ‘lá vem o maluco do Talles que corre cantando/dançando sertanejo’. Sempre sertanejo”.
“É mais fácil falar que eu fui escolhido pela Uphill, pois será uma maneira de testar meus limites e impor a força de vontade sobre o meu corpo e mente, sei que não vou me destacar entre os corredores, mas tenho certeza que vou cruzar a linha de chegada e essa será minha vitória”, Thiago Lena.
O administrador Thiago Lena, 35 anos, participa há oito meses de corridas de ruas e fará sua estreia nos 42km na Mizuno Uphill Marathon. Representante do “Tartarunners”, um grupo de corrida “fictício” criado com amigos, tomou gosto pelas provas após um convite. “Minha rotina de treino era apenas como lazer. Em julho do ano passado estava indo ao Rio e encontrei uma amiga que perguntou se eu gostaria de correr a Meia Maratona do Rio utilizando a inscrição de seu marido, que estava lesionado. Como já tinha em meu histórico treinos com 21km aceitei o desafio. Depois vieram outras meia-maratonas e treinos longos de até 30km”.
E o corredor não tem dúvidas de que a Uphill será a prova mais difícil que já participou até agora. “Pessoas normais treinam em locais planos e a inclinação da Uphill é assustadora. Imagine correr 42km com o corpo inclinado para frente e forçando a subida em aproximadamente 70% do trecho?”
Thiago enfrentou algumas lesões durante o treinamento, mas conseguiu intensificar seu preparo nos últimos meses. “Treino musculação nos membros superiores e inferiores 4 vezes por semana, e durante a semana corridas em dias alternados com distância de no máximo 16km. Para os fins de semana aumento o percurso e incluo ladeiras no trajeto”.
Ele acredita que vão surgir “forças do além” para ajudá-lo na prova e diz que vai buscar incentivo na exclusividade da prova e no visual que a Serra do Rio Castro tem a oferecer: “Ele será um estímulo à parte”.
Tempo? Sem preocupação! O importante para Thiago é aproveitar o percurso! “Sinceramente não estou preocupado com o tempo, pois sei de minhas limitações e do grande desafio que é a prova em si. Acho que uma boa desculpa para eu falar seria a que vou aproveitar cada minuto disponível de prova ao máximo, para assim deslumbrar o visual e o cenário do percurso e não perder nenhum momento. O importante será cruzar a linha de chegada, nem que tenha que me arrastar durante boa parte do percurso”.
O corredor relaciona os seus adversários: “o desconhecimento do local, a distância, o frio e a temperatura. Mas o que realmente me preocupa é a chuva, pois ela deixa o pé mais pesado, aumenta a possibilidade de ocorrer feridas e até mesmo interfere no tênis escolhido, na roupa e outros detalhes”.
Com uma câmera na mão, fone no ouvido e um rock pauleira tocando! Thiago vai mesmo curtir os 42km levando ainda “um relógio GPS, uma meia extra, gelol, band-aid e alguns suplementos para repor o desgaste do trajeto. Com certeza o fone de ouvido vai estar plugado durante o percurso com o bom e velho rock e quanto mais pesado melhor! Variando desde rock nacional até bons e velhos clássicos internacionais”.
E ele já sabe o que vai pensar durante as 256 curvas. “O pensamento predominante será ‘Porque não treinei mais para esta prova?!?!’, completado por uma voz no fundo dizendo para desistir, e outra gritando mais forte ainda para eu ir em frente e cruzar a linha de chegada”.
Desejo boa sorte a todos e que os 42 km sejam percorridos com a mesma alegria com que produzimos as fotos na última segunda-feira! Estarei aqui na torcida e enviando energias positivas. Quando voltarem, me contem tudo!
Fotos: Everton Nunes
Reportagem: Daniela Künsch
One Reply to “Maratona Uphill: 11 corredores do Espírito Santo vão se tornar ninjas”