Ano passado pedi licença ao escritor e corredor Haruki Murakami, autor do livro “Do que eu falo quando eu falo de corrida” por parafrasear seu título no post sobre o meu relato da edição da Dez Milhas Garoto 2015. Esse ano, é o ator e escritor Gregorio Duvivier que me inspira e me concede a honra de usar parte do seu título em meu texto, que assim como o dele, também vai falar de amor. Sim, correr a Dez Milhas Garoto é uma prova de amor. E eu vou explicar os motivos.
Cheguei à Praia de Camburi às 6h45 para a concentração da largada. No caminho, dentro do Uber, recebi um áudio do meu treinador Carlos Gusmão. Ele desejava uma ótima prova e me pedia para controlar a ansiedade. Ouvi a mensagem umas cinco vezes.
Amor na largada – Enquanto aguardava o sinal da largada, recebi o carinho e os desejos de boa prova de vários amigos, leitores e dos parceiros do projeto Blog Corrida de Rua na Dez Milhas Garoto: o professor Gusmão, minha nutri Bianca Passos e a Roberta da Mantle. A força que eu precisava para controlar a ansiedade e diminuir o nervosismo.
Encontrei Jean, leitor do Mato Grosso do Sul, que me disse que veio correr a Dez Milhas Garoto, pois ficou sabendo da prova através do blog, e ao meu lado, no setor verde, estava Danilo, que também é leitor e estava ansioso para a sua estreia nos 16km. Vocês, Jean, Danilo e todos os demais leitores que pediram para fazer uma selfie comigo, me fizeram largar por amor ao meu trabalho. Escrever sobre corrida e estimular novos adeptos a praticar um dos esportes que mais cresce no país têm sido as minhas missões. Obrigada sempre por todo esse carinho e amor que têm comigo.
Por volta das 7h30, já devidamente alinhada para a largada no mesmo setor para o qual estava inscrita, fiz minhas orações e me concentrei para a prova enquanto aguardava o sinal para começar a correr. Camburi, 27º graus. 8 horas da manhã. É dada a largada. Coloquei meu fone de ouvido e decidi que ia fazer os 16km concentrada na trilha sonora especial que montei para a prova. Eu não queria ouvir minha respiração, só queria sentir meu coração bater forte, cheio de amor.
Fiz os primeiros 4km em um ritmo confortável pra mim: média de 6.35min/km. Passei pelo primeiro posto de água já com bastante sede e reforcei a minha hidratação.
Amor na Terceira Ponte – Correr no principal cartão postal da minha cidade tomado por camisetas amarelas sob as bênçãos de Nossa Senhora da Penha é uma prova de amor ao meu Estado e à Dez Milhas Garoto. Fiz a subida da Terceira Ponte sem parar, mas sendo cautelosa com o meu ritmo. Eu queria curtir a paisagem, mas sem dores. E, devagar, fui seguindo. Quando cheguei ao vão central, olhei para o Convento da Penha e fiz as minhas preces. Agradeci por ter a oportunidade de estar ali pela quinta vez e renovei as minhas promessas.
Amor na orla de Vila Velha – Do km 11, em Itapuã, até o km 13, já na Praia da Costa, corri por amor próprio. A orla de Vila Velha sempre é o maior desafio pra mim. E esse ano não foi diferente. Pensei em parar várias vezes ali. Meu corpo dava sinais de cansaço e de falta de energia. Negociei com a minha mente e não deixei o corpo caminhar. Decidi que era hora de imprimir um ritmo confortável e mantê-lo até o fim. Desistir não era uma opção. O meu amor-próprio não me deixaria fazer isso.
Amor nos dois últimos kms – Na virada da avenida Castelo Branco, na Praia da Costa, quase reta final da corrida, eu só pensava na frase que Elcio Alvares Neto, amigo, ultramaratonista e companheiro de equipe, sempre me dizia durante os treinos mais legais que fiz ao seu lado ao longo do Projeto Blog Corrida de Rua na Dez Milhas Garoto. “É no momento de dor e de dificuldade, que o seu treino ou prova, começa. Não desista, Dani!”. Conselho de quem tem no currículo uma ultramaratona de 450km, realizada no Rio Grande do Sul, em julho, a gente não pode desconsiderar. Ali, eu queria andar. Olhava para o relógio e pensava: “não vou conseguir bater meu melhor tempo nessa prova”. O calor era infernal. Elcio, ali eu continuei por amor ao exemplo, à inspiração e à força que você sempre me passou. Você me ensinou que tempo não é o mais importante quando se corre por amor. E eu estava ali só por amor. Foi com amor que mandei força para as pernas e consegui vencer as avenidas Castelo Branco e Henrique Moscoso.
Amor nos últimos 90 metros – A minha entrada na avenida Jerônimo Monteiro foi em meio a choro. Eu já não conseguia controlar as minhas pernas, que queriam parar, e nem as lágrimas, que me apertavam a garganta. Mais uma vez, eu estava ali correndo em homenagem à minha mãe. Chegando, mais uma vez, ao bairro onde morei logo que nasci e que marcou toda a minha infância. Fiz a prova toda correndo e me esforçando para não caminhar, mas os últimos 90 metros, dos 16.090 km, foram andando e chorando muito. Mãe, a minha chegada foi por amor a você. Assim como todas elas sempre serão. Tenha força, vamos vencer todas as corridas que a vida nos inscrever. Devagar, com muito amor e, acima de tudo, com fé de que vamos sempre chegar. Desistir nunca será uma opção. Eu te amo!
Tempo x Amor
Precisamos pensar no tempo quando falamos de amor? Hoje eu não precisava… mas como esse é um projeto e eu, em um primeiro momento, mencionei uma meta pessoal, que seria reduzir o tempo da minha primeira Dez Milhas Garoto, que foi de 1:48:35, vamos falar dele. Ainda não saiu o resultado oficial da Dez Milhas Garoto, mas acredito que tenha feito os 16km neste domingo entre 1h50 e 1h52. Claramente, não atingi o objetivo dos números.
No entanto, como disse aqui ontem, eu queria que desse tempo de fazer tudo: curtir o percurso, me emocionar, encontrar amigos e leitores durante a prova, me inspirar com os atletas anônimos que encontrar pelo caminho e cruzar a linha de chegada chorando de alegria, como sempre! Eu me “atrasei” um pouquinho, mas foi só para dar tempo de fazer tudo isso e conseguir amar ainda mais! Família, amigos, leitores e parceiros, o mais importante é o amor.