O ultramaratonista João Tarcísio de Castro, 49 anos, estava entre os passageiros do ônibus da Viação Águia Branca que pegou fogo após colidir com um caminhão e duas ambulâncias, na BR 101, em Guarapari, na manhã de quinta-feira (22). Até o momento, foram confirmadas 22 mortes no maior acidente rodoviário do Espírito Santo.
“Passei por cima de pessoas e não pude socorrer.”
João é microempresário e voltava para Vitória depois de uma viagem de compras em São Paulo. Ele relata os momentos de pânico e desespero que aconteceram logo após a colisão. De acordo com o sobrevivente, que dormia no momento do acidente, tudo aconteceu muito rápido e ele não teve como ajudar mais pessoas.
“Só me lembro do estrondo forte e quando olhei para frente, já estava tudo quebrado, com pessoas caídas no corredor do ônibus, muitos deitados em cima dos outros, mas não tinha como socorrer ninguém, pois o fogo estava vindo logo atrás”, conta.
Segundo João, se ele não tivesse preparo físico, não teria conseguido se soltar do cinto de segurança e sair do veículo antes de ser atingido pelas chamas. ““Eu fiquei pendurado. A parte em que eu estava no ônibus ficou pra cima e se eu não tivesse força nos braços para me levantar e puxar meu corpo para cima, eu ia morrer carbonizado. Foi coisa de Deus. Eu estava preso no cinto e se eu não tivesse força para me soltar, não teria me salvado. Passei por cima de pessoas no corredor e não pude socorrer. O que deu para fazer, eu fiz”, relatou.
Quando já estava fora do ônibus, João Tarcísio ainda ajudou outras pessoas que também conseguiram sair do veículo. “Eu vi uma senhora saindo em chamas do ônibus, mas ela rolou no chão e apagou o fogo. O filho dela também saiu e eu ajudei a apagar as chamas que estavam nele. Estes dois eu tenho certeza que se salvaram. Eu também ajudei outro rapaz e arrastei ele para o meio do mato, mas não sei o que houve com ele”, relata.
Confira o relato do sobrevivente:
Recuperação e retorno aos treinos. João sofreu ferimentos nas costas, no braço e no quadril e teve alta hospitalar na tarde desta sexta-feira. “Estou com duas queimaduras leves nas costas e uma de segunda grau no braço. Além disso, sinto dores no quadril. Por isso, precisei ficar em observação para uma avaliação dos ferimentos”, conta.
Ultramaratonista há quatro anos, o corredor diz que pratica a atividade física para manter a qualidade de vida. “Gosto de corridas de longas distâncias porque tenho mais resistência do que velocidade”, conta.
Antes do acidente, o ritmo de treinamento dele estava moderado, por conta de uma lesão no joelho. Agora, o ultramaratonista vai se dedicar à recuperação dos ferimentos para voltar aos treinos. “Não tenho nenhuma prova marcada, pois estava com o joelho lesionado. Agora, sinto dores no quadril e não posso suar por causa das queimaduras, já que há risco de infecção. Mas acredito que se eu tiver uma alimentação adequada em no máximo um mês já estarei recuperado”.
A tragédia. O acidente aconteceu por volta das 6 horas na altura do Km 343 da BR-101, em Guarapari. A batida, que envolveu o ônibus, duas ambulâncias e uma carreta. De acordo com informações da equipe da Polícia Rodoviária Federal (PRF), que estava no local, o motorista do caminhão, que estava carregado com uma pedra de granito, teria perdido o controle e invadido a pista contrária. Segundo a viação Águia Branca, o ônibus havia saído de São Paulo às 16 horas da última quarta-feira (21), com chegada prevista na rodoviária de Vitória às 7 horas desta quinta-feira. Havia 31 passageiros no veículo.
Números da tragédia. A Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) atualizou, na manhã desta sexta-feira (23), a situação dos feridos no acidente da BR-101 que estão internados em hospitais da rede pública estadual. De acordo com o órgão, dos 12 pacientes, 6 continuam internados. Um deles está em hospital particular, cinco já receberam alta e um, que estava em estado grave, morreu na noite da última quinta-feira (22). Dos 22 corpos já levados para o Departamento Médico Legal (DML), quatro foram liberados nesta manhã e outros 18 aguardam identificação, sendo que 11 deles só poderão ser liberados após exames de DNA.
Homicídio culposo. Um dos proprietários da empresa Jamarli Transportes, responsável pela carreta que provocou o acidente, foi preso em flagrante nesta sexta-feira (23).
Pneus carecas e em péssimas condições. O secretário de Segurança Pública do ES, André Garcia, disse que as investigações começaram imediatamente após a fatalidade. “O levantamento preliminar aponta falha mecânica no caminhão. Teria furado um pneu. Todos os pneus do veículo estavam carecas, em péssimas condições. Teria quebrado algum eixo e por isso a carreta invadiu a contramão da pista, atingindo o ônibus. As investigações continuam, e se as nossas equipes identificarem os culpados, vamos responsabilizá-los criminalmente”, explicou Garcia.
A carreta carregava uma pedra de granito pesando 41 toneladas, de acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF). São 11 toneladas acima do permitido. Além das péssimas condições dos pneus, denunciadas pela perícia da Polícia Civil, a PRF afirmou ainda que nenhuma das quatro balanças existentes na BR-101 está em funcionamento. A informação foi repassada pelo superintendente do órgão no Estado, Wylis Lyra.
A empresa responsável pelo veículo é a Jamarle Transportes, situada na Cidade de Baixo Guandu, no Noroeste capixaba. Ela poderá ser multada em quase R$ 5 mil.
Repercussão internacional. O grave acidente, considerado o maior do Estado, ganhou repercussão internacional. Jornais de todo o mundo destacaram a tragédia. O britânico Daily Mail lembrou que as causas do acidente ainda não estão esclarecidas. Já a agência de notícias francesa EFE contou que o ônibus estava próximo ao destino final. Na China, a agência CGTN mostrou diversas imagens da colisão, e o jornal indiano, The New Indian Express, lembrou que todos os anos 47 mil brasileiros morrem em acidente de trânsito. Veja a galeria com as manchetes dos principais portais que citaram o assunto!
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