Era pra ser um simulado de ultramaratona com 6 horas de duração, mas a pista molhada do Batalhão do Corpo de Bombeiros, na Enseada do Suá, em Vitória, virou “sala de aula”, na noite do último sábado (29), durante o Desafio 6 Hours Night Run. O evento compõe o Circuito Militar de Ultramaratona realizado pela Multiesportiva, cujo objetivo é oferecer aos atletas a experiência da ultramaratona dentro de um ambiente militar. (As imagens que ilustram o post são de Bruno Lopes/Foco Radical)
A corporação abriu as portas do quartel para receber mais de 100 corredores inscritos no desafio. Alguns com a atribuição de se tornarem ultramaratonistas e outros com a missão de transmitir suas experiências na modalidade.
A largada foi dada às 18 horas pelos mestres Hudson Miranda e Julio Paul, idealizadores do evento. Debaixo de chuva fina e temperatura de 19ºC, veteranos e candidatos a ultramaratonistas dividiam o percurso de 500 metros no treino com formato contra-relógio, cujo objetivo é percorrer a maior quilometragem. Cada um com seus propósitos e objetivos pessoais, sem aferição eletrônica por parte da organização do treino.
Para mim, o desafio veio após a conclusão da minha primeira maratona em junho e eu não tinha nenhuma meta de quilometragem estabelecida. Queria apenas vivenciar o clima de uma ultramaratona e absorver ao máximo a experiência dos ídolos que tenho no esporte.
Ao fim das 6 horas, meu GPS marcou apenas 35 quilômetros, que não são considerados distância de ultramaratona. No entanto, muito além do meu resultado na prática, o Desafio 6 Hours Nigth Run me proporcionou absorver, intensamente, em meio às passadas – correndo ou caminhando – a filosofia e o conceito da ultramaratona, em meio a grandes histórias de vida.
Nas primeiras voltas, no pace da Aline Silveriol, lições sobre persistência e determinação, ilustradas com as passadas rápidas de Carlos Gusmão, Leonardo Seabra, Jorge Coutinho e Kainoa Bravin. A experiência do veterano Braz Galter que também ecoava nas palavras de estímulo do diretor da prova, Julio Paul, ao microfone a cada uma das seis horas do treino.
A admiração pela grandeza de Joilson Correa, lado a lado da também guerreira Daniella Chamone. A descoberta de Fabio Medeiros, a paixão de Elcio Alvares Neto e o companheirismo de Thiago Pissaia, Marcelo Spavier e Bernardo Andrade.
O zelo, o carinho, a dedicação e os cuidados do anfitrião, Hudson Miranda, me deram a segurança que precisava para dar o primeiro e modesto passo para o meu batismo como ultramaratonista. O segundo será no dia 23 de setembro, durante o II Super Treino 8 Hours Night Run, dessa vez na Marinha do Brasil. E a consagração, espero, no dia 09 de dezembro, na 12 Hours Night Run Exército, dentro no 38º Batalhão de Infantaria em Vila Velha.
Abaixo o relato de alguns que me inspiraram ao longo do Desafio!
Aline Silveriol – O Desafio das 6 horas dos Bombeiros foi sensacional. Nunca havia participado de uma corrida em uma pista de cerca de 500 metros e nunca havia rompido a barreira dos 30km. A energia e a vontade de vencer não sumiram por nenhum minuto. Diferente de uma corrida normal, em que você fica boa parte do tempo sozinha ou demora a ser ultrapassado ou ultrapassar, nesse tipo de corrida você encontra pessoas a todo o tempo, conversa, torce e incentiva. Recomendo a todos essa experiência!
Joilson Correa – “Toda corrida pra mim é importante, mas estas provas contra o relógio tem um toque especial. É superar detalhes, vencer o psicológico, se preparar corretamente para entregar o que foi proposto. Estou muito feliz de ter concluído a prova, mesmo com chuva e frio. Pra mim, a presença da minha esposa sendo minha staff foi muito especial, me ajudou muito. As palavras de incentivo dos amigos me impulsionava para o final da prova. Só tenho a agradecer a todos e principalmente aos organizadores pela seriedade e competência”.
Daniella Chamone – Para mim essas 6 horas vieram com um novo contexto e experiência. Nunca havia passado mal em uma prova longa e no treino fui pega pelos famosos enjoos e dores de barriga. Após 2 horas e meia de prova só consegui ingerir água e um punhado de amendoim. Mas continuei correndo, não queria parar, abortar um treino ou prova era algo novo também. Mas com 5 horas de prova o mundo girou e continuar estava além do meu alcance fisiológico. E foi nesse momento que a solidariedade e o carinho falaram mais alto. Fui ajudada por vários colegas corredores que pararam seu treino para não me deixarem desistir do meu. Me deram coca cola e um pouco de isotônico e faltando 45 minutos consegui voltar para pista e concluir a prova. Não fiz minha meta. Mas, como disse, essas 6 horas me ensinaram que nem sempre as metas são o mais importante em uma prova e sim a superação. Ontem me superei, entendi que às vezes desistir fará parte do processo (mesmo nessa não tendo parado) e realmente estou no esporte certo. Porque correr te dá uma sensação de ser solitário, quando na verdade nunca estamos sozinhos e sempre tem alguém disposto a andar mais 1 ou 6 kms com você (o que foi meu caso…kk).
Fábio Medeiros – Foi uma experiência diferente. Correr em um percurso pequeno por 6 horas. Coisa de gente maluca! Resolvi experimentar. Me inscrevi e fui. Meu preparador físico me pediu, segundo ele serviria para treino mental. Nas duas primeiras horas, fiz 20 km. Nas duas horas seguintes, não me lembro de ter xingado tanto uma pessoa como meu treinador. E nas duas horas finais consegui entrar no clima da prova. No final fiz as 6 horas com 48.62 km rodados. Minha meta era 45 km. Estou um bagaço, mas feliz. Este mundo ultra é demais!
Elcio Alvares Neto: Correr durante 6 horas no Corpo de Bombeiros foi sensacional. A energia e integração dos participantes e da organização foi surpreendente. Como ultramaratonista terrestre fico feliz em ver a nova geração nessa modalidade se esforçando para dar o seu melhor e entrar para esse seleto grupo de pessoas que vive a ultramaratona terrestre na sua essência.
Jorge Coutinho – Sempre gostei de desafios e encontrei isso no esporte de corridas de longas distâncias. Pelo percurso ser muito longo, a mente é a principal qualidade de um atleta. O resto são treinamentos dolorosos e diários.
Carlos Gusmão – O treino das 6 horas foi muito divertido e super organizado. É legal ver o espírito de união e cooperação entre os atletas, na busca da superação individual. Para mim, foi um treino que serviu de preparação para a Spartathlon no final de setembro.
Braz Galter – A ultramaratona – etapa Corpo de Bombeiros/ES – foi um evento muito bem organizado pela equipe Multiespotiva. Precisamos participar, apoiar SEMPRE estes eventos para que possamos ter outros do mesmo nível. Espero continuar em boas condições físicas, para sempre estar presente nestes eventos, pois é muito bom poder praticar o esporte predileto – no caso a corrida – ao lado dos amigos.
Thiago Pissaia – Foi uma nova experiência de vida! Como dizem: “a cada corrida que participamos adquirimos mais experiência e aprendizado”. Foi a oportunidade de viver a corrida e aproveitar momentos de gratidão e humildade!