Maratona não termina quando se cruza a linha de chegada. Começa!

Um silêncio tomou conta de mim após a minha estreia nos 42km. Eu não conseguia concretizar, em palavras, a experiência de realizar um dos meus maiores sonhos. 50 dias se passaram e hoje, Dia do Maratonista, eu consigo afirmar: Maratona não é o que termina quando você cruza a linha de chegada. É o que começa! Leia o meu relato sobre a minha experiência na Maratona do Rio.

Desde o dia que participei da minha primeira corrida (10km), comecei a sonhar com a linha de chegada de uma maratona. Fiz planos, sem estabelecer prazos, seguindo a “lógica” da evolução de um corredor. Pensava que o momento ideal seria quando eu conseguisse fazer 10km abaixo de 1 hora, os 16km da Dez Milhas Garoto em 1h35, e pelo menos concluir cinco meias maratonas.

Também precisava perder 5 quilos, focar na musculação, arrumar mais tempo na rotina para treinar, cumprir planilhas, fazer um diário e relatar todo o passo-a-passo até a minha estreia nos 42km.

2013, 2014, 2015… os anos se passaram e em todas as minhas resoluções de réveillon estava: “Começar a treinar para a Maratona”. Seria mesmo um sonho? Ou só um item da minha extensa lista de tarefas que nunca seria cumprido?

Além da minha própria consciência me encher de insegurança, alguém me dizia: “Dani, desista. Foque sua energia em outra coisa. Maratona? Você nunca vai conseguir!”. E de tanto ouvir que eu nunca seria capaz, acabei acreditando nisso durante 3 anos.

Na virada de 2016, em meio ao barulho dos fogos, eu decidi que era a hora de silenciar as vozes (internas e externas) que me diziam NÃO. Mais um ano se passou e, mesmo eu não conseguindo cumprir as metas, eu dizia “SIM”! 

2017 começou e recebi o convite para participar da Maratona do Rio em junho. Estava fazendo a inscrição e, ao selecionar a distância (6k,21k ou 42k), minha consciência gritou um sonoro “não”. Marquei 21km.

A data da prova se aproximava e eu não parava de pensar nos 42km. Até que alguém me disse. “Eu acredito que você consegue, Dani. Troca pra 42km”. Não, eu ainda não conseguia correr 10km em 50 e poucos minutos, nem a Garoto em menos de 1h45 e não tinha feito nenhuma prova de meia maratona. Não tinha cumprido planilha e não fiz muitos longões nos finais de semana. Também não perdi o peso que desejava e não contei pra ninguém o que faria.

Eu tinha muitos “nãos” e apenas um “sim”. E foi bem no meio de uma crise de auto-estima, a poucas semanas do dia da prova, que decidi trocar a inscrição para 42km. 

No sábado, na véspera da maratona, em meio à tensão pré-prova, criei uma lista com 42 “sims”. Tudo que eu me negava seria possível no amanhã. 

O primeiro “sim” da lista: Concluir a maratona. E ele foi marcado no km 1, quando eu tive a certeza que conseguiria. Foram pouco mais de 6 horas para dizer todos os “sims” que os anos de “nãos” tentaram impedir.

E no meio de tantas afirmações, alguns questionamentos. Quantos dos meus sonhos foram adiados porque achei que não estava preparada? Porque não me percebi capaz? Porque achei que precisava seguir um roteiro para chegar até eles? Ou pior, porque alguém me disse que não era possível? 

Nos últimos metros antes da linha de chegada, o coração parecia não caber dentro do peito.

Porque tem que ser sempre “o não eu já tenho, vou atrás do sim”? E não “eu vou conquistar o sim e impedir o não”?

A Maratona do Rio de Janeiro foi no dia 18 de junho e só hoje, Dia do Maratonista, quase dois meses depois, eu consigo expressar em algumas palavras o significado desse desafio em minha vida pessoal.

Talvez, tanto tempo de reflexão tenha ocorrido porque agora eu entendo que a maratona não é o resultado da fórmula: velocidade= distância/tempo. É o que se interpreta em cada metro dos 42.195 mil.

Não é o processo que ativa os músculos, aumenta o fluxo sanguíneo, eleva a frequência cardíaca, dilata as pupilas e libera adrenalina e endorfina. É o que a ciência não explica.

Não é buscar as respostas. É viver as perguntas. “O que eu estou fazendo aqui”?, “Será que vou conseguir”?, “O que vou me tornar depois que cruzar a linha de chegada?”, “Isso é uma dor ou cansaço?”.

Não é o joelho, os pés e as pernas que doem. É o coração que parece não caber dentro do peito.

Não é o que termina quando você cruza a linha de chegada. É o que começa. Sim, começou! 


Mãe, Tereza Cristina Paiva Künsch, sim, mais uma vez foi por você! Elcio Alvares Neto, obrigada por me convencer que era possível e por ter me ajudado a dizer “sim” em cada um dos 42 quilômetros. Fernanda Villas, obrigada pelo convite, pelo carinho e pela homenagem na premiação de 2º lugar feminino na categoria imprensa.

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