Duas surpresas marcaram a 28ª edição da Dez Milhas Garoto, na manhã deste domingo (03). A primeira delas veio do céu. A previsão do tempo informava tempo nublado e chuva durante o horário de realização da prova.
Por volta das 6h30, na concentração para a largada na orla da Praia de Camburi, em Vitória, uma nuvem carregada estava estacionada sob o pórtico. No entanto, a medida que os corredores iam se alinhando e aquecendo ela foi se dissipando. Às 7h30, algumas gotinhas chegaram a cair, mas não deu nem pra molhar os corredores que já aguardavam ansiosos pelo sinal sonoro que daria início à maior corrida de rua do Espírito Santo.
Aproveitei os minutos que ainda faltavam para a largada para circular entre os corredores e receber o carinho de muitos leitores e colaboradores aqui do Blog Corrida de Rua. Entre amigos capixabas, alguns que vieram de Cabo Frio, Belo Horizonte, Curitiba e até Santa Catarina! Receber abraços e essa energia maravilhosa antes da prova é gratificante pra mim.
Às 7h40, foi dada a largada da Elite Feminina com a capixaba Tiane Marcarini representando o Espírito Santo e abrindo o caminho para as atletas de renome nacional e internacional. Faltava pouco para começarmos a correr. Mesmo sendo a minha sexta participação na Dez Milhas Garoto eu estava ansiosa. Às 8 horas, pontualmente, foi dada a largada. O termômetro marcava 20 graus, o tempo permanecia nublado e a ameaça de chuva foi embora.
Larguei no setor laranja e a caminhada até o pórtico principal foi lenta, mas empolgante pelo calor da torcida nos prédios e nas calçadas. É nesse exato momento que temos a real dimensão do tamanho da Dez Milhas Garoto: 11 mil inscritos!
Nos primeiros quilômetros até a chegada da Terceira Ponte, dois corredores idosos me chamaram a atenção. Antes do km 2, absorvi um pouquinho da energia e da experiência de Ivo, 68 anos, da cidade de Assis Chateaubriand, Paraná (foto acima). Corredor há 35 anos, veio ao Espírito Santo exclusivamente para a Dez Milhas Garoto.
Um pouquinho mais à frente, tive a companhia de Antonio, 79 anos, por alguns metros (foto abaixo). Natural do Rio Grande do Norte, mora no Rio de Janeiro, e participa da Dez Milhas Garoto há 18 edições. “Já fui tricampeão aqui nos anos de 2003, 2004 e 2005”, disse animado.
Abastecida com a força de vontade dos dois veteranos comecei a subida da Terceira Ponte. Uma leve dor no joelho, que sinto desde a conclusão da Maratona do Rio de Janeiro, parecia querer incomodar. E eu não queria pensar nela ao longo do 1,5km de subida. Naquela altura, o tempo estava abafado e permanecia nublado.
Consegui fazer toda a subida correndo aumentando um pouquinho o pace para ter um pouquinho mais de conforto. Na descida da Terceira Ponte até chegar à alça, um sol tímido entre nuvens já iluminava o nosso caminho e se misturava ao forte calor da torcida vilavelhense.
Eu me sentia bem para percorrer um dos meus trechos favoritos – da alça até o início da Praia de Itapoã. Sempre que passo por ali me sinto energizada com a alegria dos moradores que deixam as suas casas na manhã de domingo para dar palavras de incentivo a quem está correndo. É comum ouvir “Ano que vem estarei aí”. Saber que a nossa passagem no “quintal” deles é inspiradora, faz todo o esforço valer a pena.
Chegamos à orla de Vila Velha. Esse trecho é sempre duro pra mim. O cansaço bateu! Olhei para o mar e busquei forças na ressaca das ondas fortes que batiam na areia. No posto de hidratação senti que era a hora de dar uma caminhada para consumir a água e um gel de carboidrato com calma. Caminhei por alguns metros e voltei a correr.
Acessamos a avenida Castelo Branco e faltavam apenas 3 quilômetros para cruzar a linha de chegada. Não era só eu que estava cansada. Vi muitos corredores gritarem ou murmurarem: “Faltam só três”. A essa altura, a primeira surpresa já não era mais novidade. O sol reinava sobre Vila Velha e e eu já vislumbrava a linha de chegada debaixo de muito calor.
Quando a contagem regressiva se aproximava do km 14, surgiu a segunda surpresa da Dez Milhas Garoto. Uma mudança no percurso nos fez permanecer seguindo pela avenida Castelo Branco e ainda nos deu mais uma “subidinha”, graças a uma ladeira ao longo do trajeto. A alteração que evitou o acesso pela Henrique Moscoso deixou o percurso mais linear e desafiador e, acredito, causou menos impactos no trânsito da cidade. Eu gostei!
O último quilômetro passando pela avenida Jerônimo Monteiro, como sempre, foi percorrido com muita emoção. Sempre que chego na reta final de uma prova, dou um “play” no filme armazenado em minha memória que mostra os meus antigos hábitos como obesa e termina com a esperança de poder conseguir chegar por muitas e muitas outras vezes.
E foi com a maturidade que absorvi do Seu Ivo e do Seu Antônio, lá no início dos 16km, que cruzei a minha sexta linha de chegada da Dez Milhas Garoto, a corrida mais gostosa do Brasil, que tem o poder de mudar não só a previsão do tempo, mas o percurso da minha vida e a de muitas outras pessoas.