Esporte é amor!
Alguém duvida? É só conhecer a história do pequeno Douglas ( o Doug) que aos dois anos, foi diagnosticado com autismo. Aos 5 anos , com o incentivo e amor incondicional da sua mãe, Mariana Magalhães e muito esporte, Douglas tornou-se um vencedor – no esporte e na vida – e mostra ao mundo que o autismo é tratável.
A história desse pequeno campeão, quem vai contar é a mamãe do Douglas – a Mariana – uma supermãe, que merece medalha de ouro!
“Doug ama esportes. Pratica natação, capoeira, futebol e os seus preferidos, o surf e o kickboxing. Todos a pedido dele, nunca o forçamos e mesmo quando achávamos que eram muitos, os médicos diziam…”Enquanto partir dele a vontade, só vemos pontos positivos”. A nossa vida mudou completamente. Muito mais do que ter o compromisso de praticá-lo, hoje o esporte para nós é muito mais que saúde: é vida! O esporte salvou nossas vidas!“, disse Mariana.
LOUCA POR ESPORTES: Como começou essa bela história?
MARIANA MAGALHÃES: Começou às 7h 30 min no dia 21 de abril de 2010, quando nasceu meu pequeno príncipe Douglas. Enorme e saudável. Naquele momento tive a certeza que tinha uma força dentro de mim tão grande, que enfrentaria qualquer coisa para cuidar daquela pessoinha. Eu só não tinha ideia que eu teria que ter muito mais força do que imaginava…
Douglas iniciou sua vida esportiva aos três meses com as aulas de natação. Com um aninho eu já tinha praticamente um peixinho em casa. Aos 2 anos e meio, a piscina já se tornara pequena para tanta energia, e então o Tio Fábio que é professor e meu amigo, iniciou as aulas de surfe com o Doug . Quando chegava no mar, seus olhinhos brilhavam, e o sorriso se abria de uma forma pura e linda, sempre acompanhado de seriedade e concentração inabalável.
Nesse mesmo tempo, o Gabriel, pai do Doug e eu, assim como a vovó Meire, começamos a perceber que havia algo diferente: nem melhor nem pior, mas diferente. Douglas não olhava nos olhos, quando o chamava – ele “fingia” não escutar. Tinha alguns tiques, se incomodava com barulhos, tinha pavor de balões e tinha momentos de nervosismo. Começamos a ter problemas na escola. Ele empurrava as crianças, o que acabava por afastá-las dele. E essa foi a fase mais difícil: chegar na escola e encontrar meu filho brincando com um carrinho- enquanto os outros estavam ouvindo uma história. Cada dia era uma situação – e era no esporte que ele se destacava: nas aulas de natação da escola e na capoeira, que começou a praticar por causa da grade curricular. Começamos a intensificar as conversas com a escola e a pediatra a respeito do comportamento dele.
Ao mesmo tempo que tinha momentos de agressividade também era amável, carinhoso e muito feliz. Em 2013, aos 3 aninhos, a pediatra, diante do meu relato nos encaminhou a fono, a psicanalista e a neuro. Primeiro fui à Cláudia Pretti. Gostei dela logo de cara e após várias consultas, me falou da percepção que teve: “… Mari, o comportamento dele me leva a um autismo… um autismo leve”.
Minha cabeça girou umas 10 vezes em apenas um segundo. Lembro-me de ter ficado estática. Simplesmente não sabia o que dizer. Então olhei para ele brincando, olhei pra ela e consegui dizer apenas um “aham”. E logo em seguida me veio uma paz… uma paz de Deus. Um alívio: meu filho tinha um diagnóstico. Ela continuou falando e na minha cabeça eu só conseguia agradecer a Deus por ele ter um diagnóstico. Eu só me lembrava das tantas mãezinhas que conheci e vi nesse mundo, desesperadas atrás de médicos sem saber o que seus filhos tinham, famílias gastando o que não tinham para tentar descobrir o que acontecia com seus pequenos. E não estou falando apenas de síndromes; e sim de doenças em que eles se internam e tem tantas coisas e correm risco de vida e ninguém sabe o que é.
Eu não chorei, eu não me desesperei. Eu só tive a certeza de que mesmo sem saber o que era o autismo, Douglas iria superar aquilo com o nosso apoio, e agradeci muito a Deus pelo fato de saber o que o meu filho tinha. E fiz um comparativo bem real.. e um pouco cruel. O que eu sabia sobre o autismo? NADA! Tinha visto uma reportagem sobre o assunto anos antes. Lembro bem da entrevista com a mãe de uma criança autista. E também lembro do que pensei… “Nossa, viver fora desse mundo estando nele? Acho que é a pior coisa que pode acontecer a alguém!” E nunca mais ouvi falar disso.
Quando comecei a pesquisar sobre o autismo, só pensava… Eu não vou viver para sempre. Como será a vida do meu filho? Quem vai cuidar dele quando eu não estiver mais aqui? Será que devo ter logo outro filho para cuidar dele? Mas e se tiver autismo também? Será justo ter outro filho por isso? É justo fazer uma criança crescer sabendo que tem a responsabilidade de cuidar de um irmão “doente” sem ter escolhido isso? Não, não é hora disso. É hora de colocar o pé no chão e ir à luta. Preconceito? É… talvez sofra alguns. Mas farei o impossível para que não. A única certeza que eu tinha naquele momento é que meu filho não seria o “coitadinho”. Crianças especiais não são dignas de pena. São dignas de respeito, de inclusão social e de muito amor!
Depois fomos até a escola e conversamos abertamente sobre tudo. Pedi para que me pontuassem cada detalhe que achassem que fosse válido para trabalharmos em casa. Não queria que Douglas ficasse para trás em nenhum aspecto.
Receitaram um remédio forte: ficamos tristes pois percebemos Douglas não tranquilo, e sim dopado. A pediatra do Doug, Doutora Euzanete, vendo minha preocupação em dar um remédio tão forte a ele, me falou que existia um tratamento baseado na alimentação, um tratamento natural, “bem diferente” e que talvez eu pudesse me interessar – o Protocolo Dan, cujo nome vem da sigla para Defeat Autism Now ou Derrote o Autismo Já, que é um protocolo de diversas ações para o tratamento do autismo através de métodos diferentes dos abordados pela neurologia atual, através da biomedicina.
(Saiba mais sobre o Protocolo Dan)
Depois de ler bastante a respeito do Protocolo Dan e marcar uma consulta com o Dr Rogerio Rita (foi quase 1 ano de espera), parei para pensar: O que deixa o Douglas tranquilo, feliz e atento?
Fui relembrando todos os momentos em que ele estava praticando algum esporte: meu filho estava feliz, relaxado, tranquilo, obedecia todos os comandos, se concentrava, tinha uma disciplina absurda e era carinhoso com todos em sua volta. E mais: ele se esforçava para melhorar a cada aula. E entendi que se alimentação saudável auxiliaria, o esporte seria a peça chave para trazer meu filho de volta. Começamos a perceber que tudo o que falávamos enquanto ele estava naquele momento de felicidade que o esporte trazia (seja qual fosse), ele absorvia. Com 3 aninhos e meio Douglas já se equilibrava com facilidade na prancha, tinha noções de equilíbrio e espaço, respeitava uma fila sem grandes problemas e um belo dia percebemos…êpa, os tiques sumiram!! Com a parceria Protocolo Dan e esporte, Douglas iniciou a fala e se transformou na criança mais alegre do mundo. Passou a ter muitos amigos, sem qualquer problema para socializar e assim em diante foi só melhorando.
Cada momento era uma superação, uma vitória. Aos 5 anos, Douglas iniciou as aulas de kickboxing a convite do Mestre Laécio Nunes, tricampeão mundial da modalidade. Douglas tem um porte físico de atleta e é referência de superação, de luta e vitórias através do Esporte. Em 6 meses de aula conseguiu passar no Exame de Faixa do Kickboxing, e hoje é a primeira criança autista do mundo a conseguir o feito.
Doug está se alfabetizando em português e inglês, fala pelos cotovelos, e é considerado fora do Espectro Autista. Meu filho é um pequeno guerreiro que encontrou através do esporte um caminho para se comunicar com o mundo. É a possibilidade de mostrar ao mundo que o Autismo é Tratável! Sei que a medicina convencional talvez tenha dúvidas sobre os resultados alcançados através do esporte. Mas enquanto eles ficam na teoria eu mostro o resultado!
Hoje abrimos um Instituto onde nosso grande objetivo é trazer para o Espírito Santo, um Centro de Esportes para Crianças Especiais. Esse é meu objetivo de vida e sei que irei alcançá-lo com a ajuda de tantas pessoas guerreiras e confiantes assim como toda mãe de criança autista é.
Fizemos uma página no facebook “O Meu Mundo é Azul”, onde divido informações sobre tudo o que fizemos para alcançarmos esse resultado positivo, além de receitas saudáveis e de baixo custo. E como eu disse no começo, não imaginava que precisaria ter tanta força. Mas hoje sei que a força que eu preciso é para correr atrás de meios para que possa levar a tantas famílias a informação. Informação diminui preconceito, e ajuda as famílias a se nortearem para um tratamento adequado. O caminho da melhora o Douglas já mostrou… esporte e alegria!
LOUCA POR ESPORTES: Como você define seu filho?
MARIANA MAGALHÃES: Douglas é um guerreiro. Alegre, feliz. Um filho amoroso que nos mostra toda força e coragem que existe dentro de nós. Ele nos surpreende diariamente com atitudes de respeito, carinho e amor. É muito inteligente e perceptivo aos detalhes. Nos mostra a todo momento o quanto se importa com o outro. Douglas é superação.
LOUCA POR ESPORTES: Qual recado e dicas você daria uma família que vive a mesma situação que a sua?
MARIANA MAGALHÃES: Não desistam. A luta não é fácil, mas existe o tratamento. A aceitação faz toda a diferença. Ignorar que um filho tenha algo, não resolve o problema, apenas o adia. Esporte e alimentação saudável não faz mal a ninguém. Não temos nada a perder tentando!
LOUCA POR ESPORTES: Qual foi a maior vitória do Douglas?
MARIANA MAGALHÃES: O autismo influência a coordenação motora e por conta disso, o fato do Doug conseguir equilibrar na prancha de surfe é uma grande vitória. E meu rapazinho manda super bem dentro d’água. Além de hoje ser considerado a primeira criança autista do mundo a passar em um exame de faixa do Kickboxing. Hoje Douglas é um faixa amarela e uma conquista que dependeu totalmente dele, com muita dedicação. No decorrer do tratamento sua grande vitória foi iniciar a fala. Antes ele não falava nada e hoje fala até o que não deve.
LOUCA POR ESPORTES: Qual foi o maior sonho do Douglas?MARIANA MAGALHÃES: Ter altura para ir nas maiores montanhas russas possíveis. Ele fala nisso diariamente. No esporte, ele quer ter uma faixa preta “igual o Mestre Laécio”. Para quem só tem 5 aninhos, por enquanto, já é o suficiente.
LOUCA POR ESPORTES: Como é a rotina de vocês?
MARIANA MAGALHÃES: Douglas pratica kickboxing às terças e quintas pela manhã e surfe todos os finais de semana. Futebol terças e quintas no início da noite. Natação às segundas e quartas à tarde na escola que estuda. Capoeira na escola às terças. Vai à fono às quartas pela manhã, além da psicanalista às quintas. Douglas frequenta no período vespertino, uma escola bilíngue. E a cada 15 dias, vamos para Marechal Floriano, nos divertir no sitio do vovô Toninho. Eu trabalho o dia inteiro e me esforço ao máximo para conseguir acompanhá-lo em tudo o que posso. Na minha ausência, Doug tem uma babá maravilhosa (Ana) que o acompanha. Em momentos de dificuldades, os avós e meus irmãos também dão um help.
LOUCA POR ESPORTES: Qual foi a maior dificuldade que vocês enfrentaram?
MARIANA MAGALHÃES: O preconceito.
LOUCA POR ESPORTES: ” O Meu Mundo é Azul” – conte um pouco sobre a escolha desse nome e qual seu objetivo ao criar a página??
MARIANA MAGALHÃES: O autismo é tratável! As pessoas não sabem disso. Não estou falando que todos terão essa melhora incrível do Douglas, mas melhoram. E no autismo, cada pequena vitória é enorme. Criei essa página pensando nas pessoas que não têm acesso a essas informações. Principalmente sobre o tratamento biomédico que fazemos. Muitas pessoas não sabem que existe essa opção. Outras tantas não tem condições de arcar um tratamento convencional. Lá coloco dicas vindas dos melhores profissionais que tratam do autismo. Muitos não podem pagar uma terapia por exemplo, mas todos podem levar seus filhos no quintal e jogar futebol. Enquanto brincam, trabalham a interação social, disciplina e coordenação motora. Lá também posto receitas saudáveis e simples de serem executadas. Sem glúten, sem caseína, sem soja, entre outros ( que fazem muito mal ao organismo) e principalmente, com baixo custo. O tratamento é acessível a todos.
A título de informação,uma pesquisa realizada em 2013 nos Estados Unidos mostra que nasce uma criança autista a cada 50 nascimentos. Enquanto para a síndrome de down a média é de uma criança a cada 798 nascimentos. O autismo é enorme e não é valorizado da forma que deve. Na página trocamos experiências de vida, e com isso nos ajudamos a enfrentar a ignorância alheia. E o nome? A cor azul é a cor do autismo, por isso o meu mundo é azul!
(Foto de capa: Fabricio Cypreste)
Fotos: Reprodução Facebook
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