O casal de escaladores Joyce Baiense e Thadeu Bastos estão em busca da realização de um sonho: viajar pela América do Sul a bordo da ‘Therezinha’, uma Kombi 1993, que vem sendo reformada e adaptada para aguentar o tranco da estrada. O objetivo é um só: ir à lugares onde possam escalar montanhas, fazer rapel, rafting e outras atividades dos chamados esportes radicais ou de aventura.
Para garantir a reforma da ‘Therezinha’ – que é chamada carinhosamente de “kombosa” – Joyce, de 30 anos, que também é corretora de seguros, e Thadeu, de 32, que trabalha como marido de aluguel, investiram nas vendas de brigadeiros e sacolés gourmet, caipirinhas e caipvodka em eventos e pelo litoral, aproveitando o embalo do último verão; e também em guiar pessoas de forma individual ou em grupos por pontos turísticos da região sul do Espírito Santo nos fins de semana.
A ideia deu tão certo que hoje o que era feito informalmente, tem ganhado corpo e deu origem à ‘Therezinha na Estrada’, um projeto que envolve além das vendas e passeios guiados, página das redes sociais.
Para a viagem, que ainda não tem data marcada, o casal pretende manter-se com a vendas dos produtos e trabalhando de cidade em cidade, além de Joyce sustentar as atividades de corretora, de forma online.
A história do casal, claro, começou durante uma dessas escaladas. Thadeu, que é natural do Rio de Janeiro, veio à Cachoeiro de Itapemirim a convite de um amigo escalador, onde conheceu a Joyce.
“Eu conheci a escalada em 2015 e o Thadeu escala desde 2014. Nos conhecemos porque ele veio à Cachoeiro com a intenção de escalar o Itabira. Antes disso, fomos para Castelo para apresentá-lo os setores de escalada por lá. Foi onde tudo começou. Não foi amor à primeira vista, mas à segunda vista”, conta Joyce.
Após três meses de namoro e muitas idas e vindas na rota Rio de Janeiro x Cachoeiro, Thadeu se mudou para a capital secreta e desde então os dois começaram a fazer passeios tanto no Espírito Santo, quanto em outros estados, sobretudo no Rio, onde Thadeu atuava como cicloturista e guia. E foi numa dessas guiadas que a ‘Therezinha’ surgiu na vida deles.
A Kombi
O anúncio da venda de uma Kombi 1993 chamou a atenção do casal, que a esta altura já tinha planos de percorrer a América do Sul.
“Estávamos em Teresópolis, no Rio, guiando duas pessoas aos Portais de Hércules, quando vimos um anúncio da Kombi em um grupo de escalada na rede social. O antigo dono da kombi, tinha montado o veículo para viajar fazendo um documentário de escalada, porém iria sair do país e precisava vendê-la. Na hora nós ligamos pra ele, muito interessados. Mas, tínhamos dois problemas: faltava o dinheiro e a Kombi estava no Rio Grande do Sul”, revela Thadeu.
A solução encontrada foi vender o “Black Hard” da Joyce, um Fiesta preto 1.0 assim batizado pelos amigos de escalada do casal. “Ele era duro na queda que me acompanhou por muitas montanhas”, assinala. Grana na mão, o casal foi até o Rio Grande de avião e voltaram 2.200 km de distância até Cachoeiro “com os dedos cruzados os dar tudo certo”, completa Thadeu.
Em relação ao nome, a Kombi já tinha sido batizada de ‘Therezinha’ em homenagem a avó do antigo proprietário. “Ele a havia adquirido quando morava em Teresópolis e durante nossa estadia na casa dos pais do Gustavo, conhecemos a dona Therezinha, e não tivemos coragem de mudar o nome. Ela é uma senhora muito guerreira e incrível”, disse Joyce.
Atualmente a ‘Therezinha’ está passando por reformas. Já foi feita a parte mecânica e elétrica, motor, lanternagem e agora está na parte da pintura e capotaria. Eles estão buscando meios sustentáveis como isolamento térmico e acústico feito com caixas de leite e as adaptações para “home Kombi” com paletes. O próximo passo será o isolamento, a parte hidráulica e elétrica e a instalação dos móveis.
Aventuras
Como bons escaladores, o contato com a natureza é fundamental para o casal, que iniciou as atividades de esportes considerados radicais ou de aventura com poucos amigos e bem informalmente.
“A princípio não tínhamos pretensão de fazer essas atividades para muitas pessoas. Fazíamos porque amigos pediam para levarmos a determinados lugares que demandam de certo conhecimento da escalada. Esses amigos foram trazendo outros amigos até que percebemos que a ideia poderia dar certo como vem dando. Assim ainda compartilharmos um pouco daquilo que tanto gostamos e ainda acelerar a reforma da nossa kombosa”, explica Joyce.
O casal leva pessoas para trilhas guiadas, escalada e rapel em roteiros próximos tais como escalaminhada para o cume do Frade, rapel em cachoeiras como Matilde, Cachoeira Alta, Cachoeira do Furlan, o cume da Pedra Azul e trilha guiada ao Pico da Bandeira, além de roteiros em outros estados como o Agulhas Negras no parque Nacional de Itatiaia.
Quem nunca fez uma dessas atividades na vida e queira se aventurar não é preciso se preocupar. O casal garante que é possível todos participarem, pois são passadas as devidas instruções e tomadas as medidas de segurança.
“Evitamos grupos grandes exatamente para dar assistência que precisam, e fazer tudo com segurança. Levamos as pessoas à lugares que poucas chegam, mostramos uma vista completamente diferente do que ela vê lá de baixo. Ficamos felizes de ver a superação de cada um, de compartilharmos um pôr ou nascer do sol juntos, são momentos preciosos”, finaliza Joyce.