“É lamentável e inaceitável”, diz Bernar Grazziotti, vice-presidente da Federação Capixaba de Triathlon (Fecatri). O sentimento do atleta é reflexo e consequência da interdição da praia de Camburi, em Vitória, considerada imprópria para banho.
A sensação de impotência e vulnerabilidade, segundo Bernar, aflige os esportistas e moradores que costumavam frequentar o local. Agora, as equipes que praticam o triathlon, exercício que mescla natação, ciclismo e corrida, precisam procurar outro local para dar continuidade às atividades.
“É constrangedor para todo Espírito Santo. É um misto de revolta, incapacidade e vergonha. É uma vergonha pois Vitória, a capital do Estado, não tem uma praia para você entrar. É lamentável e inaceitável. Conheço várias pessoas que nadavam com frequência em Camburi e utilizavam o local para treinamento ou lazer. Vitória hoje tem a maior orla e a população não consegue usufruir porque a água da praia está imprópria”, diz.
O vice-presidente da Fecatri ainda revela que a 1ª etapa do Campeonato Capixaba de Triathlon, que aconteceria em Vitória, teve o local remanejado para a praia de Setiba, em Guarapari. Segundo ele, o evento reúne cerca de 250 participantes por etapa, e o prejuízo financeiro por conta da mudança de local atinge cerca de 40% do valor do evento.
“Nosso esporte depende do mar e acabamos de remanejar um evento, que seria feito em Vitória no final de março, e transferimos para Setiba, em Guarapari, porque a praia está imprópria para a prática de nosso esporte. Nós fazemos eventos de travessia aquática, natação, stand up paddle, entre outros. Vitória já saiu do nosso calendário anual. O triathlon exige um ambiente muito grande e está crescendo cada vez mais. No Espírito Santo, nós já estávamos limitados à Vitória e Guarapari. Agora só temos Guarapari, que fica em torno de 40% mais caro por conta do transporte, pedágio, logística, fornecedores e frete”, explica.
> Mudança de local
O sentimento impotência em relação à poluição é compartilhado por Marcos Falcon, que atua no grupo de corrida Vitória Runner. Ele, que utiliza a praia de Camburi para atender os alunos e praticar esportes, já analisa novos locais.
“Nós temos um grupo que faz natação na praia e a galera do triathlon também. Eles estão impedidos por conta da poluição na água. Nós vamos nos adaptar e trocar de lugar. Assim como eles, eu também pratico esportes e estou impedido, me sinto impotente por não poder fazer o que gosto. Vamos analisar outros locais que estão próprios para banho”, conta.
Para Cesar Abaurre, que participa do grupo de natação Cardume Vix, a interdição afetou diretamente sua rotina. Morador de Vitória, o esportista afirma que não vai colocar em risco a saúde e já migrou com seus colegas para a praia de Manguinhos, Serra.
“A poluição atrapalhou todo mundo que nada em Vitória. Afinal, quem pratica natação, busca querendo ou não, uma vida saudável. Colocar a vida em risco com uma água que não é saudável não condiz com o que a gente procura. Muita gente está migrando para Manguinhos, Serra, ou para as praias de Vila Velha. Não marcamos mais em Camburi. A Ilha do Socó, por exemplo, está até inabitável e não dá para tirar uma foto. Faço parte do Cardume Vix e temos uma pessoa que sempre nos alertou sobre a poluição. Começamos a mudar de local e, após a interdição, nós paramos de ir mesmo. Alguns podem até se arriscar, mas o normal é ir para Serra, Vila Velha ou tentar ir na Ilha do Frade, que o mar é mais aberto”.
César, que mora próximo à praia de Camburi, está acostumado a correr no calçadão, mas o retorno para casa a partir de agora, será sem o tradicional mergulho na praia.
“Fico triste porque não temos mais a praticidade de correr e dar um mergulho, ou pegar uma praia em Camburi. O maior prejuízo é não poder usufruir o que Camburi tem para a gente, e a comodidade de estar em frente a praia, de morar próximo ao mar, mas não podemos entrar na água”, desabafa.
Imprópria para banho
Para que a água seja considerada própria para banho, o nível de coliformes fecais não pode passar de 1.000un/100 ml de água. Em Camburi a quantia foi três vezes maior
Segundo a Prefeitura de Vitória, mais de 85% do esgoto lançado em Camburi vêm de outros municípios
Todos os pontos da Praia de Camburi continuam interditados
A Cesan informou que a cidade tem hoje 88% dos imóveis ligados a rede de tratamento de esgoto
A Prefeitura vai cobrar de quem não ligar o imóvel à rede de tratamento de esgoto. A multa varia de 900 até 20 mil reais.
Projeto pretende criar tarifa para morador que não fizer ligação de esgoto no Estado
Na última quarta-feira (17), a Prefeitura de Vitória estabeleceu o prazo de 30 dias para que a Secretaria de Meio Ambiente identifique os principais agentes poluidores da Praia de Camburi.