São Paulo – O criador do troféu mais cobiçado do futebol está convencido de que no dia 13 de julho a sua criação será erguida ao céu por Thiago Silva, capitão do Brasil. O italiano Silvio Gazzaniga, evidentemente, torcerá pela seleção do seu país, mas admite que a equipe da casa “tem uma chance maior” porque contará com o benefício de jogar diante de sua torcida. “A seleção brasileira é sempre forte e nesta edição tem a vantagem de jogar em casa. Claro que vou torcer para a Itália, e que vença o melhor”, disse Gazzaniga ao jornal O Estado de S. Paulo.
Para o italiano de 93 anos, os vencedores de uma competição tão difícil merecem um prêmio à altura. Por isso, o troféu foi criado para representar o mérito dos atletas. “Os dois jogadores levantam os braços na alegria da vitória, com a emoção de estar no topo do mundo”, explicou. Quando concebeu a obra para participar de um concurso promovido pela Fifa, ele não imaginava que ela se tornaria um ícone global. Nos últimos meses, milhares de pessoas em 90 países se espremeram em filas apenas para dar uma olhada de perto no troféu e tirar uma foto dele no Tour da Taça, que chegará a São Paulo na quinta-feira.
Gazzaniga executou a obra com a técnica de cera perdida, em que uma peça de cera é esculpida em seus mínimos detalhes. Ele colocou o objeto dentro de uma caixa, que foi preenchida com concreto. Para ter acesso ao interior da estátua, ele abriu um canal no protótipo de cera. Depois, bastou aquecer a forma para derreter a cera e ter um molde de concreto perfeito. Ao final, ele preencheu o vão com ouro 18 quilates e, após esfriar, quebrou a forma. E a escultura estava pronta.
“A figura é linear e dinâmica, de maneira a atrair a atenção para o protagonista, ou seja, o jogador. Ele é transformado em gigante, mas sem ter algo sobre-humano”, disse o italiano. “Fui inspirado por duas imagens fundamentais: a do atleta triunfante e a do mundo. Queria ter a representação do esforço do jogador que expressasse, simultaneamente, harmonia, simplicidade e paz.”
Tamanha preciosidade foi selecionada pela Fifa no início dos anos 70, vencendo outros 52 projetos. Na época com 53 anos, Gazzaniga viu a sua criação ganhar projeção mundial quando Franz Beckenbauer, capitão da seleção alemã, ergueu-a diante das câmeras na Copa do Mundo da Alemanha, em 1974. Quatro décadas – e dez Copas – depois, o italiano tem no currículo outras contribuições para o futebol, como a taça da Liga Europa (antiga Copa da Uefa) e a da Supercopa da Uefa. O troféu do Mundial, no entanto, ainda é sua criação de maior expressão.
Entregue aos campeões da Copa do Mundo desde 1974, a Taça Fifa pesa 6,175 quilos e tem 36,8 centímetros de altura. E engana-se quem pensa que o troféu fica sob os cuidados do país campeão. Desde que foi criado, o objeto é erguido pelos vencedores após o apito final e é prontamente substituído por uma réplica folhada a ouro, enquanto a taça original retorna à sede da Fifa, em Zurique. Essa precaução começou após o Brasil ter roubado o troféu anterior, chamado Jules Rimet, em dezembro de 1983. O precioso objeto foi derretido pelos ladrões.
Segundo as regras da Fifa, apenas campeões mundiais e chefes de estado estão autorizados a tocar na taça. Nos 90 países que visitou, o troféu esteve sempre acompanhado de “embaixadores Fifa” como Pelé, Rivellino, Dunga, Cafu e Rivaldo, todos campeões pelo Brasil. Quando ela esteve no Uruguai, quem a ergueu foi Alcides Ghiggia, carrasco da seleção brasileira em 1950.
Ao longo da história, cada capitão tentou colocar a sua própria personalidade no momento de levantar o troféu. De Beckenbauer ao espanhol Iker Casillas, na última edição da Copa, cada um tentou transmitir emoção no momento mais emblemático do Mundial. E Gazzaniga tem na ponta da língua seus preferidos, não por acaso dois italianos. Ele diz que o gesto do goleiro Dino Zoff não lhe sai da memória. “Aquele gesto em 1982 foi muito emocionante. E não poderia deixar de citar o título de 2006”, falou ele, referindo-se ao zagueiro Paolo Cannavaro.