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Elas batem um bolão! Conheça as árbitras que atuam no futebol capixaba

Solange Correa, Lívia Borgo, Marcielly Neto e Katiuscia Berger são algumas das mulheres que escolheram atuar dentro das quatro linhas do gramado. Confira a história de cada uma delas!

Enfrentar os desafios e persistir em busca do sonho. Superando as dificuldades, Solange Correa, Lívia Borgo, Marcielly Neto e Katiuscia Berger são algumas das mulheres que escolheram atuar dentro das quatro linhas do gramado. Todas como assistentes de arbitragem!

Uma posição difícil para quem ainda precisa enfrentar comentários preconceituosos, tanto por parte de jogadores quanto torcedores, mas que não impedem a continuidade do trabalho. Que tal conferir as histórias?

Solange Correa

Solange atuou recentemente no jogo entre Vila Nova e Flamengo, no Engenheiro Araripe Foto: Divulgação

Da arquibancada para o centro de campo. Assim foi o contato inicial de Solange Correa, de 44 anos, com o futebol. A capixaba sempre marcava presença nos jogos em que o esposo, Paulo Renato, ia jogar. E foi dele o incentivo para tentar o curso de arbitragem.

Curioso? Para Solange, a proposta o marido, inicialmente, soou como algo absurdo. O motivo do “convite” foi o ciúme em ver a mulher na torcida, e assim veio a oportunidade de sair da arquibancada e enxergar o futebol com outros olhos. 

“Quando ele fez essa proposta eu achei a ideia um absurdo. Iam me xingar, ofender minha mãe, mas depois pensei e resolvi aceitar. Até hoje não consegui largar. É uma outra maneira de enxergar o futebol com mais atenção e dedicação. E o convite deu certo”, contou Solange.

Ela e o marido fizeram o curso juntos. Ainda em seu primeiro ano de atuação, Solange trabalhou como árbitra central, e sua primeira partida foi em uma categoria sub-15. Apesar do nervosismo e ansiedade, o desenvolvimento foi positivo, o que fez com que ela desse sequência ao trabalho.

Mas com o passar do tempo veio uma mudança, de árbitra central para assistente. A troca veio após um incômodo que Solange sentia ao ter que ir ao vestiário recolher assinaturas dos atletas. Mas a capixaba garante que a alteração de função surgiu em boa hora.

“Antigamente, acontecia do árbitro central ter que ir ao vestiário dos clubes recolher assinaturas. Eu não me sentia a vontade para ir, sempre era um grande incômodo. É um ambiente particular e eu não gostava. Foi aí que veio a decisão em me tornar bandeirinha, já que não precisaria fazer mais isso”, explicou a capixaba.

Solange (a direita), em uma das partidas que mais a marcou durante a carreira Foto: Divulgação

E é nesta função que Solange está até hoje. Em sua lista de jogos marcantes um ganha destaque: o encontro entre Desportiva e Rio Branco, em 2010. Além de ser um dos clássicos mais importantes do futebol capixaba, duas mulheres estavam em campo. Solange atuou ao lado de Katiuscia Berger, referência para várias mulheres que desejam ingressar na área.

Sem esquecer dos momentos difíceis que teve dentro de campo, a assistente também lembra de momentos ruins ao redor do gramado. Mas nada que com o tempo se tornasse motivo para crescer ainda mais.

“No início eu sofri bastante preconceito. Lembro de um período em que uma assistente conhecida a nível nacional havia posado nua, e eu entrei nessa temporada. Quando eu marcava uma irregularidade a torcida gritava que eu queria posar nua, e mandavam eu ir para a playboy. Com o tempo fui amadurecendo e mostrando meu potencial”, relatou Solange.

Para Solange a palavra-chave é persistência. A assistente quer continuar atuando pelo máximo de tempo possível, aumentando assim sua bagagem de experiências. Conhecimento que deseja passar para as meninas que desejam mergulhar na categoria, desde já preparadas para o grande desafio.

“A palavra-chave é persistência. Temos que lembrar que os problemas que nos cercam não apenas dentro de campo. Então, por que desistir dos nossos sonhos? Já reprovei em testes, mas sempre sai pensando em melhorar no próximo. E sem persistência, a continuidade não acontece”, finalizou Solange.

Livia Passos Borgo

Lívia já atua em algumas partidas amadoras Foto: Divulgação

Ainda dentro de “sala de aula” há quem busque o sonho de integrar o quadro de assistentes no Espírito Santo. Lívia Passos Borgo, de 21 anos, é aluna do curso de árbitros em Vitória, única menina da turma, e que mantém vivo o desejo de alcançar a aprovação. 

A capixaba já fez o curso antes, em Cachoeiro de Itapemirim, mas por pouco não conseguiu a aprovação na primeira vez. Desistir? Essa palavra não é encontrada no dicionário de vida de Lívia, que logo se inscreveu novamente no curso, mas desta vez em uma turma em Vitória.

“Eu fiz o curso em Cachoeiro e acabei reprovando, mas falei que não ia desistir. Me matriculei em Vitória e agora me sinto até melhor para continuar o curso. Da outra vez estava muito ansiosa e insegura, desta vez me sinto mais madura. Tenho certeza que desta vez vai dar tudo certo”, explicou Lívia Borgo.

Lívia (esquerda) em preparação para mais uma partida Foto: Divulgação

Já fazendo alguns testes práticos, Lívia já atuou em algumas partidas de nível amador, e assim como as demais meninas, tem experiências de sobra para contar. A mais especial até o momento foi sua primeira atuação, em uma competição amadora, em setembro deste ano.

Livia contou com profissionais que foram fundamentais para que ela soubesse como as “coisas funcionam” dentro de campo. Apesar do frio na barriga, o resultado foi satisfatório, e deixou a certeza de que vale a pena seguir em frente.

“Não tem jeito, às vezes vamos ser alvo de críticas e gracinha dentro de campo, mas o foco em fazer o nosso melhor deve ser maior. Sempre pude contar com profissionais que me apoiaram, até em vezes que a própria família criticou. Com o tempo, aprendi que se você realmente tem um sonho, vale a pena seguir em frente”, finalizou Livia.

Marcielly Netto

Marcielly iniciou como árbitra central. Logo depois, passou a ser bandeirinha Foto: Divulgação

Da experiência de Solange para a recém-formada Marcielly Netto, de 23 anos. Apesar do pouco tempo como assistente, a relação da capixaba como o esporte é antigo. Marcielly sempre gostou de esportes coletivos, e já chegou a apitar handebol.

No início de 2015 surgiu o interesse de ir mais fundo. Desta vez como árbitra de futebol. Marcielly e mais quatro amigos se inscreveram e enfrentavam a cansada rotina de, aos sábados, viajarem de Vitória para Cachoeiro de Itapemirim. Iam no sábado pela manhã e voltavam a noite, rotina essa que fez a capixaba quase desistir do curso.

“No início, por ser muito longe, eu logo pensei em desistir. Mas já tínhamos pago todo o curso. Eu também tinha muito incentivo, principalmente do meu irmão, que foi quem me ajudou a pagar. Então, repensei e resolvi dar sequência”, relatou Marcielly.

E com o incentivo da família não teve como dar errado. Dando sequência ao curso, Marcelly fez apenas uma mudança, de árbitra central, passou a querer ser bandeirinha. .

Foto: Divulgação

Assim como Solange, Marcelly também contou com pedras nos gramados, principalmente em suas primeiras partidas. Mas apesar do pouco tempo de atuação, tem colocado os momentos bons acima dos empecilhos, e dado continuidade ao trabalho.

“No início eu ouvia muitas gracinhas. Já teve jogador que olhou para mim e disse que não ia jogar porque tinha uma mulher arbitrando. Mas isso não foi problema, pois guardo os momentos especiais. Entre eles, o estadual feminino desse ano, onde vi a dificuldade dos clubes para participar. Por ser mulher, eu conversava, reconhecia a dificuldade e até aconselhava. Foi a competição que mais me marcou”, lembra Marcielly.

E é isso que a capixaba quer levar adiante, as boas lembranças na profissão. Sempre levando adiante o apoio e carinho que recebeu, tanto por parte da família quanto dos amigos de trabalho.

“Qualquer que seja a profissão, sempre vamos contar com diversos empecilhos e coisas para nos tirar o foco. Mas o principal é levantar a cabeça e seguir em frente, sempre, independente do risco de dar certo ou errado”, concluiu Marcielly Netto.

Katiuscia Berger

Katiúsica é referência para as mulheres que desejam ingressar na arbitragem  Foto: Divulgação

Referência para grande parte das mulheres que sonham em se tornarem grandes nomes da arbitragem feminina, Katiuscia Berger, de 39 anos, não poderia estar de fora. A capixaba resolveu ser assistente para manter vivo um sonho: continuar dentro de campo.

Katiuscia jogava futebol, sempre teve amor pela modalidade, mas sofria com lesões. Em uma delas, não teve mais jeito, precisou sair de campo, mas com a certeza de que voltaria, mas desta vez como assistente.

“Sempre joguei futebol, mas tive que parar ainda nova por conta de uma lesão séria no joelho. Em Baixo Guandu, minha cidade de origem, tinha uma associação dos árbitros, e um amigo de lá me convidou para fazer o curso, e eu resolvi entrar”, contou Katiuscia.

Entrou e logo encontrou seu lugar, novamente dentro de campo. E já se foram 17 anos de atuação. Com o passar dos anos, após aprovação em Baixo Guandu, a assistente se habilitou pela Federação Capixaba, depois pela CBF e atingiu um de seus primeiros sonhos na profissão, entrar para o quadro de assistentes da FIFA, onde ficou por 07 anos, hoje integrando a categoria master.

De 1999 ao seu momento atual, Katiuscia aponta diversas modificações, e para melhor. Como diversas profissionais, a capixaba também foi alvo de críticas e piadas. Momentos difíceis, mas que não tiraram o sonho de seguir em frente. Pelo contrário, serviram como combustível para dar continuidade.

“Já sofri muito preconceito, e seu eu realmente me importasse, não estaria hoje atuando. A pior vez foi na final do Campeonato Mineiro, em 2009, entre Cruzeiro e Atlético-MG. Marquei o impedimento em um gol do Tardelli, e o técnico na época, o Leão, me xingou toda. No intervalo, o assistente disse que eu estava certa, aí fiquei mais aliviada. Mas o que mais ouvi naquele jogo, não apenas do treinador é que, por eu ser mulher, estava errada. Tudo isso só me deu mais motivos para continuar”, relatou a assistente.

E em todo esse tempo Katiuscia já acumula diversas participações em campeonatos estaduais, nacionais e cerca de 14 competições internacionais. Esteve em 3 torneios mundiais, sendo um militar, um universitário na China e um sub-17 feminino, na Costa Rica. Todos ainda guardados e lembrados em detalhes pela bandeirinha.

Foto: Reprodução

Ainda em sua lista de conquistas, coube a Katiuscia contar o jogo que mais a marcou positivamente, e ela faz logo questão de citar dois. O primeiro foi entre Juventude e São Paulo, em 2007, na cidade de Caxias. Segundo a capixaba, este foi o jogo em que ela mais foi exigida dentro de campo, e fica como uma marca de superação. A segunda partida trata-se da final Capixabão, no ano passado, entre Desportiva e Rio Branco. Ver o Kleber Andrade cheio emocionou a assistente.

Mas como tudo tem seu lado complicado, a capixaba também tem em sua lista o jogo que mais a marcou negativamente. Foi um confronto entre Cruzeiro e Atléitco-PR, em 2014. Katiuscia assinalou um impedimento de forma equivocada, e o gol do Cruzeiro acabou anulado. Foi no Mineirão lotado, com 48 mil pessoas, e um erro que até hoje é lembrado pela assistente.

Entre erros e acertos, Katiuscia Berger prefere manter vivo os sonhos, e depois de tantos já realizados, ela ainda quer mais. Muito mais! Permanecer por mais tempo atuando e, quem sabe, torna-se instrutora física na Federação Capixaba.

“Quero muito conseguir chegar aos 45 anos ainda dentro de campo, trabalhando. Logo depois, quero dar sequência ao trabalho, mas desta vez como instrutora física, formando novos árbitros. Tenho certeza que não esbarrar com tanto desgaste. Esse é mais um objetivo que tenho traçado. E vai dar certo“, finalizou Katiuscia.