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Empresa que batizou estádio do Corinthians espera lucro bilionário após crise

A Neo Química está de volta ao Corinthians dez anos depois da primeira parceria. O período entre um acordo e outro foi de transformação tanto no clube quanto na empresa que agora batiza a arena em Itaquera e volta a negociar seu nome na camisa da equipe. A Hypera Pharma, conglomerado do qual a marca faz parte, saiu de um prejuízo milionário em 2011 para tornar-se a maior empresa farmacêutica da América Latina, com expectativa de lucro líquido bilionário em 2020.

O período de mudança, no entanto, foi atribulado, com o nome da marca envolvido na Operação Lava Jato, afastamento de seu sócio-fundador e mudança completa na estratégia do negócio e em seu comando. Os acontecimentos levantam algumas questões para o torcedor corintiano, como por exemplo se o clube não corre risco de ganhar mais uma dor de cabeça em vez de solução e se a empresa terá condições de arcar com o compromisso assinado pelos próximos 20 anos. No cenário atual, não há dúvidas disso.

A Hypera Pharma pagará R$ 300 milhões ao Corinthians nas próximas duas décadas. São R$ 15 milhões por ano, R$ 1,2 milhão por mês. O presidente Andrés Sanchez informou que o valor servirá para pagar o financiamento da Arena Corinthians com a Caixa Econômica Federal – a dívida total é de R$ 536 milhões – ele não soube precisar em sua entrevista, quando anunciou o novo nome do estádios, a Neo Química Arena.

Segundo especialistas ouvidos pelo Estadão, o investimento da Hypera Pharma será irrisório se analisado alguns números de mercado da companhia. “Para uma empresa que gasta R$ 800 milhões por ano em ação de marketing… estamos falando de menos de 20% desse valor anual. Na minha opinião: suave”, afirmou Daniel Carrasqueira, professor de finanças do Ibmec e sócio da Dagda Capita. “A Hypera Pharma tem valor de mercado de R$ 20 bilhões. A previsão é que feche 2020 com R$ 1,3 bilhão de lucro líquido”, emendou Filipe Pires, coordenador de finanças da pós-graduação do Ibmec.

Os dois professores também analisaram o histórico da empresa e não acreditam que ela será impactada por qualquer desdobramento da Operação Lava Jato ou mesmo recessão no País. A Hyper Pharma é alvo de investigação desde 2018. Na época, a Polícia Federal cumpriu mandados de busca e apreensão por suspeita de participação da empresa no pagamento de propinas a políticos entre 2013 e 2015.

A investigação culminou no afastamento do sócio e fundador da empresa João Alves de Queiroz Filho e do então presidente-executivo, Cláudio Bergamo. Em fevereiro deste ano, o Ministério Público Federal (MPF) oficializou denúncia contra Queiroz Filho e mais três executivos da empresa. “A situação é completamente diferente da Odebrecht, por exemplo, que vivia de obras públicas. A Hypera Pharma não depende do governo para existir. Ela tem 80% do mercado varejista farmacêutico. Sendo que esse mercado varejista corresponde a 70% do total do faturamento farmacêutico. É outra realidade”, afirmou Carrasqueira.

As denúncias na Lava jato aconteceram no momento em que a empresa estava iniciando um processo de profunda transformação, que culminou na mudança até do seu nome. Inicialmente se chamava Hypermarcas e foi criada em 2002 pelo empresário João Alves Queiroz Filho, pouco depois de ele comprar a Arisco. O objetivo inicial era expandir o negócio no ramo alimentício. Com o tempo, Queiroz Filho abriu para outros segmentos, como o de cosméticos, quando adquiriu a Monange, por exemplo. Depois começou a trabalhar com medicamentos, adquirindo a Neo Química. “Pense em remédio e a chance de ser dele é de 90%”, brinca Pires.

RONALDO FENÔMENO – Em 2010, quando patrocinou o Corinthians e foi responsável pela contratação de Ronaldo Fenômeno, a Hypermarcas começava a enfrentar sua fase mais difícil. “Chegou a perder 65% do valor de mercado. De um lucro líquido em 2010 de R$ 78 milhões, foi para um prejuízo de R$ 190 milhões”, informou Pires.

Foi o primeiro ano de prejuízo da Hypermarcas desde sua criação, motivada especialmente pela entrada de empresas estrangeiras no mercado. Os diretores então compreenderam que o portfólio estava grande e não havia sinergia entre os diversos braços da companhia. Após o término da parceria com o Corinthians, eles começaram a se desfazer de muitas marcas, fizeram dinheiro em caixa e se voltaram para comprar marcas de um único setor. Em fevereiro de 2018, passaram a se chamar Hypera Pharma e dominaram o mercado varejista.

A estratégia em colocar o nome Neo Química no estádio do Corinthians tem como intuito ampliar a divulgação de sua marca de medicamento genérico, ou seja, remédios com custo popular. Por isso, a decisão de investir no futebol e num clube que conta com cerca de 30 milhões de torcedores estimados. “O lucro líquido da empresa dez anos atrás representa somente 9% do que está previsto para este ano. A Hypera Pharma adquiriu recentemente a Neosaldina de uma empresa japonesa. São muitas marcas fortes dentro de um mesmo portfólio. O que são R$ 15 milhões por ano de investimento para uma empresa que deve lucrar R$ 1,3 bilhão na temporada?”, diz Pires.

Com o naming rigths, a empresa assinou com o clube por 20 anos. Há agora uma outra negociação para a marca voltar a ser estampada na camisa do Corinthians. Esse contrato ainda não está firmado, gira em torno de R$ 30 milhões a R$ 50 milhões por ano. Sem prazo definido para acabar.