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Estudo aponta que autódromo do Rio em Deodoro causará 31 impactos ambientais

Os documentos foram elaborados pela empresa de consultoria ambiental Terra Nova, contratada pela própria empresa vencedora da licitação para erguer o autódromo

Foto: Divulgação

O projeto de construção do autódromo no Rio de Janeiro vai causar 31 impactos ambientais na Floresta do Camboatá, local no bairro de Deodoro escolhido para sediar o circuito que poderá receber a Fórmula 1 a partir de 2021. A floresta conta com Áreas de Preservação Permanente (APP) e espécies da fauna e flora em risco de extinção, de acordo com o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e o seu Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), aos quais o jornal O Estado de S.Paulo teve acesso.

Os documentos foram elaborados pela empresa de consultoria ambiental Terra Nova, contratada pela própria empresa vencedora da licitação para erguer o autódromo, a Rio Motorsports. O Eia-Rima foi entregue ao Instituto Estadual do Ambiente (Inea), órgão que avalia projetos com possíveis impactos ambientais no Rio, no dia 10 de novembro. Ao Estado, o Inea informa que a análise do estudo pode levar até 12 meses. Só após a eventual aprovação é que a empresa poderá iniciar a construção do autódromo. Mas não há esse prazo na negociação. O circuito teria de ficar pronto até primeiro semestre de 2021.

Apesar dos impactos apresentados no Eia-Rima, os autores do estudo apontam conclusão positiva sobre a construção do circuito no local. “Conclui-se, com base nos estudos apresentados, que a realização do empreendimento é altamente positiva e se constitui numa oportunidade única de desenvolvimento local e regional, trazendo significativo progresso social, econômico e ambiental”.

Na pesquisa realizada in loco pela consultoria, entre agosto e novembro, foram identificados 31 impactos ambientais, sendo 20 associados à fase de construção do circuito e 11 à fase de utilização da estrutura. Os impactos alcançam fauna, flora e até aspectos sociais, como aumento da poluição sonora nos arredores do futuro autódromo.

Segundo o estudo, quatro espécies da flora local no Camboatá estão ameaçadas de extinção: Grápia, Jacarandá-da-Bahia, Braúna e Jequitibá. Quanto à fauna, são cinco espécies correndo riscos: jacaré-do-papo-amarelo, saíra-sapucaia, trinca-ferro, capivara e mão-pelada. A área ainda corresponde a um corredor ecológico, por facilitar o “trânsito” de diversas espécies de animais e plantas entre o Maciço de Gericinó e a Serra do Mendanha.

Estas e outras espécies – foram identificadas 290, entre fauna e flora no local -, integram uma região que apresenta duas áreas de preservação permanente, conhecidas como Faixas Marginais de Proteção (FMP) dos Rios Calogi e Marangá, também localizadas dentro do local escolhido para construir o autódromo. Juntas, estas duas APPs somam 9,4 hectares, de um total de 200 hectares da Floresta do Camboatá. De acordo com o Instituto Estadual do Ambiente (Inea), do Rio, o fato de o projeto estar localizado em uma APP não impede sua aprovação pelos órgãos competentes.

O estudo aponta também a “supressão de aproximadamente 70 hectares de vegetação arbórea/arbustiva”. Segundo estudo do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico, cada hectare conta com cerca de 1.000 árvores. Ou seja, a construção do autódromo resultaria na derrubada de 70 mil árvores. Há especialistas que apontam a queda de até 200 mil. O EIA-RIMA não apresenta número específico.

Para compensar estas perdas, o estudo propõe um programa de reflorestamento focado em espécies da Mata Atlântica, o que prevê o plantio de seis árvores para cada derrubada. “Esse Programa se tornará na maior intervenção privada para a preservação da Mata Atlântica, em escala até hoje não realizada, pois, o plantio dessas espécies se estenderá ao longo de todo o período de 35 anos de concessão do autódromo”.

O projeto, contudo, é polêmico e já foi alvo de críticas por parte da ONG “SOS Floresta do Camboatá” e do Ministério Público Federal. “A Floresta de Camboatá é o único ponto remanescente de grande porte de Mata Atlântica em área plana na cidade. São aproximadamente 200 hectares, dos quais 114 cobertos por áreas naturais e regeneradas, representativa das Florestas Ombrófilas de Terras Baixas. Este tipo de vegetação é uma das mais ameaçadas dentre as formações florestais que compõem a Mata Atlântica. (…) A Floresta do Camboatá abriga o último remanescente carioca deste tipo de vegetação”, aponta o MPF na Ação Civil Pública.