Esportes

Exemplo de bagunça em 2006, Weggis recebe a Suíça

Semanas antes de iniciar a Copa de 2006 na Alemanha, a CBF optou por levar a seleção de estrelas como Ronaldo, Cafu e Roberto Carlos para Weggis, na Suíça

Weggis, Suíça – Além do barulho dos chutes e das ordens do treinador, o som que se escuta no campo de treinamento da seleção da Suíça na pequena cidade de Weggis é dos sinos pendurados nos pescoços das vacas que ocupam as proximidades do campo. Há oito anos, a trilha sonora era bem diferente.

Semanas antes de iniciar a Copa de 2006 na Alemanha, a CBF optou por levar a seleção de estrelas como Ronaldo, Cafu e Roberto Carlos para Weggis, na Suíça. Agora, o vilarejo de apenas quatro mil habitantes volta a receber uma seleção que se prepara para um Mundial. Desta vez, foram os próprios suíços que optaram pelo vilarejo. Uma vez mais, patrocinadores e autoridades políticas fizeram questão de organizar fogos de artifício e barracas com alimentação.

Mas, ao contrário do que ocorreu em 2006, a comissão técnica do time alpino colocou limites e deu uma ordem geral aos jogadores, empresários e políticos locais: o carnaval está proibido. O objetivo da estadia é preparar a equipe, e não ser um produto a ser explorado comercialmente.

Em 2006, a CBF fechou um acordo para levar a seleção por duas semanas para a cidade nas proximidades de Luzerna. A meta era lucrar até mesmo com a preparação do time e a CBF saiu da Suíça mais rica.

Mas, em termos esportivos, a experiência foi um desastre e até hoje é citada como exemplo do que não se deve fazer na preparação de uma seleção. Ingressos para ver jogadores correndo pelo campo eram vendidos a mais de US$ 100, bandas pseudo-carnavalescas tomaram conta da cidade e a comissão técnica simplesmente perdeu o controle sobre os jogadores. Sem segurança reforçada, atletas foram alvos de invasão de campo e o hotel se transformou em um quartel general de festas.

“Só uma seleção como o Brasil pode ter um clima desse como preparação”, declarou, na época, o presidente da Fifa, Joseph Blatter, em uma mistura de ironia e zombaria da situação.

Internamente, o então treinador Carlos Alberto Parreira se queixou, protestou e pediu mudanças. Mas a CBF alegou que os contratos já estavam assinados. Um ano depois do desastre, o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, confessou ao Estado que viu jogadores voltando “de pileque” para a concentração. O grupo, naquela viagem à Weggis, foi comandado por Marco Polo Del Nero, escolhido na ocasião pela CBF para ser o chefe da delegação. Hoje, Del Nero é o presidente eleito da entidade.

VERDE-AMARELO – Nesta semana, a reportagem do Estado voltou à pequena cidade que, em algumas ruas e prédios, ainda guarda a tinta verde-amarela usada para receber a seleção brasileira. O estádio para seis mil pessoas que acolheu o Brasil foi trocado por uma arquibancada menor, com capacidade para apenas 1,7 mil pessoas.

Hoje, ex-empregados do hotel ocupado pela seleção relatam cenas surrealistas daquela preparação. “Uma tarde, num momento em que a seleção brasileira estava treinando, eu escutei um som que vinha da sala de festas”, contou um ex-gerente, que pediu para não ser identificado. “Achei que era alguém que tinha entrado ou um funcionário. Mas, quando entrei na sala, eram alguns jogadores que estavam dançando”, contou.

Com os suíços, a ordem da comissão técnica é de que haja “concentração total” para a Copa. Treinando no local desde segunda-feira, o time tem sido alvo também de pedidos de autógrafos e tietagem. Mas os organizadores passaram a limitar o acesso dos torcedores, restringiram a imprensa e fizeram questão de alertar a cada jogador sobre o que ocorreu com o Brasil em 2006.

“Os treinamentos são intensos. Todos estão atentos e podemos ver que há muita concentração”, declarou Michel Pont, assistente do técnico Ottmar Hitzfeld. Os suíços são cabeça de chave na Copa e enfrentam Equador, França e Honduras na primeira fase.

Em 2006, 900 jornalistas foram credenciados para acompanhar a seleção, aumentando a população da cidade em quase 25%. Uma rua foi transformada em espécie de feira ao ar livre, enquanto grupos de samba, pagode e forró se alternavam em palcos pela cidade.

Com o time da Suíça, os organizadores admitem que o interesse não é o mesmo. Nesta quarta, diante de uma fina chuva, as arquibancadas traziam apenas algumas dezenas de crianças. Por ordens da comissão técnica, nem todos os treinos serão abertos, como ocorreu com o Brasil em 2006 – em uma semana, apenas seis foram liberados e outros seis serão fechados.

Quem parece não ter aprendido a lição de 2006 são os políticos locais que voltam a tentar usar a presença de uma seleção para atrair a atenção do mundo. “A vinda do Brasil para Weggis mudou a imagem da cidade no mundo”, declarou ao Estado o orgulhoso prefeito do vilarejo, Kaspar Widmer. Segundo ele, a receita da cidade e o turismo aumentaram depois que a CBF escolheu a cidade