Rio –
Os Jogos Olímpicos não mudaram somente alguns pontos da paisagem carioca, como o centro histórico do Rio e a Barra da Tijuca, vitrines mais badaladas da temporada esportiva na cidade. Uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV), que analisou 38 indicadores sociais do Rio e comparou 24 deles com a realidade de municípios vizinhos, na Grande Rio, mostra que o impacto do evento internacional coincide com uma melhora em pelo menos 18 indicadores sociais no município.
Os dados apontam que houve melhoras em educação, habitação, transportes e renda dos cariocas. A Olimpíada deu um combustível a mais para o Rio, disse nesta quarta-feira Marcelo Neri, diretor da FGV Social, coordenador da pesquisa Evolução Social Carioca 2009-2016, o Legado Pré-Olímpico.
O estudo usa dados das pesquisas domiciliares (PNAD/IBGE) de antes do anúncio dos Jogos no Rio (1992) com indicadores de um ano antes do anúncio (2008) e também com a situação de agora, véspera da competição. As informações de renda são as mais atualizadas; chegam até o primeiro trimestre do ano. O trabalho revela que a renda domiciliar per capita em 1992 era de R$ 2.012,60, subiu em 2008 para R$ 2.537,80 e agora está em R$ 2.852,50.
Documento que acompanha o relatório do estudo da FGV Social diz que entre 2008 e 2016, a renda per capita cresceu 30,3% no município, contra 18,2% no resto da Grande Rio. E mostra que dois terços do crescimento ocorreu nos últimos três anos, quando o País começou a sofrer impactos da crise econômica nacional.
Neri ressalta que, das 27 capitais e 9 periferias brasileiras, o Rio é a cidade na qual a renda individual mais cresceu desde 2013. No Brasil, a renda cai neste período, com redução de 4,8% nos últimos 12 meses, lembrou. Olhando para os números nas linhas de Pobreza do estudo, a diferença é significativa. Em 1992, o porcentual de pobreza na cidade era de 2,52 da população vivendo com até US$ 1,25 por dia. Em 2008, esse número ficou em 2,13% e despencou agora para 0,87% da população.
Vamos aprofundar o estudo para mostrar, até 1970, a evolução das mudanças no Rio, disse o diretor. Segundo ele, é possível ver que houve uma inversão nas linhas de indicadores sociais na cidade formando um V. A linha que mostrava um Rio na descendente agora aparece em alta. Aquele Rio decadente, de 40 anos atrás, está subindo a ladeira, disse. Um dos méritos do estudo é abrir os dados de pesquisas domiciliares, dados objetivos, também por regiões.
A pesquisa compara os indicadores em 7 áreas: desenvolvimento social, trabalho, educação, inclusão digital, transporte, habitação e serviços públicos. No quesito serviços públicos, que incluem água encanada, coleta de lixo, energia e esgotos, aparecem indicadores positivos como de casa própria com banheiro e presença em domicílio de forte aumento de máquinas de lavar, que saltou de 40,5% em 1992 para 73,32% em 2008, e chegou a 87,85% das residências (2014). Na área de saneamento estão os principais pontos negativos. Em esgoto, os dados mostram que houve uma melhora na rede entre 1992, quando apresentava cobertura de 74,93%, durante a Rio 92, para 85,02%, em 2008, e 93,64 (2014). Mas, apesar disso, outros municípios tiveram melhoras mais significativas, o que atrapalhou a performance do Rio na avaliação.