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Lutador superou deficiência no olho e fez dela impulso para vice mundial

Após mãe pingar amônia por engano, Icaro Miguel perdeu quase toda visão do olho direito; hoje, é um dos melhores do mundo mesmo com 'fraqueza'

Foto: Reprodução / Instagram

Das limitações, vieram a motivação e o impulso. O que faria muitos outros desistirem de seus sonhos, para o otimista Icaro Miguel, foi o combustível para ir mais longe.

Por conta de um acidente doméstico sofrido durante a infância, ele perdeu praticamente toda a visão do olho direito. Isto, no entanto, não o impediu de seguir carreira no taekwondo, se sagrar vice-campeão mundial e estar entre os três melhores colocados no ranking mundial de sua categoria.

“Se há pedras no caminho, podemos usá-las como suporte para subir para o próximo degrau. Se olharmos como dificuldade, não vai dar certo. História triste todo mundo tem. Temos que aprender com as dificuldades”, diz Icaro.

Nascido em Belo Horizonte e criado em Betim, ele teve de encarar logo aos seis anos o primeiro grande obstáculo de sua vida.

Depois passar uma tarde com a família no clube o qual frequentava, ele e os irmãos estavam com os olhos irritados pelo contato com o cloro das piscinas. “Minha mãe queria lavar meus olhos com água boricada. Por engano, ela pingou amônia e começou a arder muito. Queimou a córnea, a retina, o nervo…”, relata o atleta que hoje vive em São Caetano do Sul (SP).

Após o acidente, foram quatro meses de tratamento, que garantiram a recuperação de 90% da visão do olho direito. Dois anos depois, começou a dar os primeiros passos no taekwondo. Não demorou muito e já havia se tornado faixa preta na modalidade. Aos 15, passou a competir pelo Sesi (Serviço Social da Indústria), em Betim.

A melhora, porém, foi temporária. “Com o passar do tempo, a córnea foi vascularizando. Houve uma piora drástica, em um período de dois meses, de cerca de 50% da visão no olho direito. Hoje, tenho menos de 20% da visão [no olho]”, diz ele. As consequências foram imediatas: “Perdi a noção de profundidade, tempo de luta e de espaço. Não conseguia me defender, chutava no vazio. Foi difícil”, declarou.

Assim, em 2015, já vivendo em São Paulo, teve de optar entre um transplante de córnea, que significaria o fim da carreira — “um golpe no rosto ou cabeça prejudicaria para sempre a visão”, explica —, ou continuar lutando mesmo com a deficiência no olho direito. “Escolhi continuar. E não me arrependo”, garante.

Superando a própria fraqueza

Com a decisão tomada, Icaro teve de encontrar uma forma de superar os obstáculos de sua deficiência. “Como eu treinava de manhã e à tarde com toda a equipe, decidi fazer à noite um treino de defesa. Tapava o olho bom (esquerdo) e treinava o chute usando só o direito. Foi a maneira que encontrei para me adaptar, e funcionou”, relata.

Ele acredita que o que o fez alcançar a adaptação necessária “não foram só os treinos, mas a cabeça. Nunca usei isso como uma muleta. Encarava como uma deficiência técnica. Então, se eu tomava chute do lado direito, tentava melhorar o lado direito. E foi assim que fiz. Treinei como se fosse uma dificuldade comum, como as de outros atletas”, disse.

* Com informações do Portal R7.