Brasília – A história dos dois principais jogadores da Argentina se cruza no começo da carreira e depois toma caminhos diferentes. E ela vai da rivalidade ao sonho comum: levar seu país à primeira semifinal de Copa do Mundo depois de 24 anos, a primeira depois do fim da era Maradona.
Lionel Messi e Ángel Di María nasceram em Rosário, segunda maior cidade da Argentina, na província de Santa Fé. Messi começou no Newells Old Boys. Ele jogou apenas nas categorias de base, mas seu pai, Jorge Messi, jura que um dia o seu filho defenderá o clube vermelho e preto. O rival, o Rosario Central, é a paixão de Di María, sua casa dos 6 até os 19 anos, quando foi vendido ao Benfica. Messi é Barcelona. Di María é Real Madrid. Só a seleção os coloca lado a lado.
A trajetória de Messi é bem mais conhecida e virou um documentário, que estreou nesta semana. Foi para Barcelona aos 13 anos. O clube catalão decidiu levar o garoto e bancar um tratamento hormonal – ele tinha um problema que retardava o seu crescimento. A aposta deu certo. Messi se tornou o melhor jogador do mundo (ganhou o prêmio da Fifa quatro vezes) e é a esperança da Argentina para conquistar pela terceira vez uma Copa do Mundo.
Em Rosário, Messi deu os primeiros passos no clube Grandoli, um time do bairro La Tablada, na zona sul da cidade, onde será construído um museu. Di María é da zona norte da cidade. Começou a jogar futebol depois que um médico aconselhou sua mãe, Diana, a colocar o filho para praticar algum esporte. Di María, apelidado de El Fideo (macarrão, em espanhol), era uma criança muito agitada.
O Torito, um clube pequeno da cidade, foi a primeira equipe de Di María. Ele tinha apenas 4 anos. Aos seis, surgiu a chance de jogar no Rosario Central. E esta é uma outra história que hoje parece irreal. A “negociação” pelo garoto Di María envolveu 25 bolas. Até os 16 anos, ajudava o pai Miguel, carvoeiro. “Várias vezes ele chegava aos treinos com as mãos sujas de carvão e lenha. Às vezes, com algum corte”, disse um dos treinadores nas categorias de base, o ex-jogador do Rosario, Marcelo Trivisonno, em entrevista ao site Canchallena, do jornal La Nación.
A partir do Rosario Central, no entanto, suas transferências envolveriam milhões. Do Rosario para o Benfica foram 6 milhões de euros. Do Benfica ao Real Madrid, a transação subiu para 25 milhões de euros. Depois da Copa, o Real Madri deve vendê-lo por 50 milhões de euros. Há pelo menos três clubes europeus interessados em contratá-lo após o Mundial.
E seu desempenho no Brasil ajudou ainda mais a valorizá-lo. Mas Di María não esquece seu passado. Fala com orgulho de sua infância em Rosario e carrega no braço uma tatuagem em homenagem ao bairro onde cresceu. “Nascer em Pedriel foi a melhor coisa que me aconteceu na vida”, disse.
DUPLA – Messi e Di María, que protagonizaram grandes clássicos por Barcelona e Real Madrid, têm sido os principais jogadores da Argentina no Mundial. Messi tem quatro gols e foi eleito o melhor jogador dos quatro jogos de sua seleção. Di María fez um. Mas tão importante quanto os 4 de Messi. El Fideo garantiu a classificação contra a Suíça de maneira dramática no final do segundo tempo da prorrogação.
A diferença entre eles é que a pressão em cima de Messi é muito maior. O técnico Alejandro Sabella, na véspera do jogo contra a Bélgica, disse que a sua seleção busca um jogo mais coletivo, em uma tentativa de depender menos de seu astro. Até agora, o único que conseguiu dividir a responsabilidade da decisão dos jogos com Messi foi Di María.
“Isso faz com que ele possa render sempre mais. Há quatro anos, Messi era criticado na seleção. Agora, dizem que somos dependentes dele. Não é fácil. Qualquer equipe que tenha um jogador como Messi vai acabar dependendo dele”, disse o treinador.