A estudante norte-americana Gisele Yamamoto é filha de brasileiros e joga futebol pelo Califórnia Magic, time do colégio. Aos 17 anos, ela quer jogar no Brasil, pois acha que seu estilo se encaixa melhor por aqui. Por causa do sonho da garota sorridente e fluente em inglês e espanhol, a família cogita voltar depois de 20 anos. O pai, Alex Yamamoto, aposta que os novos torneios, o entusiasmo por causa da Copa das mulheres e esse “movimento de igualdade entre masculino e feminino” podem dar o empurrão para a modalidade no País.
Uma das tentativas de Gisele para conseguir um clube é a peneira da Federação Paulista de Futebol para meninas entre 14 e 17 anos, realizada na semana passada na USP. Ao todo, foram 424 inscritas, número que surpreendeu os organizadores.
Muitos pais pensam como Alex. “Vou apoiar o sonho dela”, diz o gestor de frota Gilmar Ferreira que levou a filha Ana Flavia para a peneira. “A participação dos pais tem de ser total. A gente patrocina tudo, desde a chuteira até a ida ao evento. É um ‘paitrocínio'”, sorri.
A peneira foi mais descontraída do que as tradicionais. Antes do jogo, música eletrônica para aquecer. Monitores perguntavam a toda hora se estava “tudo bem?” com as candidatas. Patrocinadores distribuíram iogurtes de graça até para os pais, com selfies à frente do banner.
As meninas jogaram na metade do campo, com nove atletas para cada lado. No fim, elas saíram sem saber se serão chamadas pelos olheiros – foram 14 ao todo, inclusive dos quatro grandes de São Paulo. “Mesmo sabendo que é difícil, cada esforço pode valer a pena. Eu vim para tentar”, diz Maria Morena Grou, que saiu de Amparo (SP).
A menina de 17 anos acha que essa luta individual faz parte de algo maior. “As meninas da seleção não ficaram paradas esperando. O futebol feminino depende disso, depende de todo mundo, não só das mulheres.”
Sofia Ramos era uma das duas poucas goleiras na tarde de terça. “É uma carreira difícil. Quando você joga em times menores, é difícil conseguir o prestígio que um homem tem. É difícil, mas gosto muito de fazer. Se passar vai ser legal”, diz a garota de 16 anos do EC Pinheiros.
O evento também procurou ajudar os clubes a descobrir talentos para o Campeonato Paulista Sub-17, que vai começar no dia 18 de agosto. Muitos não conseguem atrair atletas para uma seleção adequada e os times já começam com pouca gente.
Olheiros apontam que a falta de um trabalho de base consolidado é um dos entraves para o desenvolvimento do futebol feminino no País. Hoje, existem apenas dois: o Paulistão Sub-17 e o Brasileirão Sub-18, que estreia neste ano.