Em 1936, os milhares de torcedores que estavam no Estádio Olímpico de Berlim para acompanhar as provas de atletismo fizeram um silêncio impressionante quando Adolf Hitler surgiu na tribuna. Era o auge do nazismo, de suas teorias racistas e de sua propaganda. Os Jogos de Berlim foram um sucesso esportivo, com organização impecável e 15 recordes mundiais. Por outro lado, o estádio foi o palco de um fracasso do nazismo: as quatro medalhas de ouro do negro e neto de escravos Jesse Owens.
Sylvio Magalhães Padilha viu tudo isso de dentro da pista de atletismo. Considerado um dos grandes atletas do mundo, mas representante de um país sem tradição olímpica – o Brasil estava despertando para o esporte -, Padilha chegou a ser ridicularizado pelos adversários.
Padilha se tornou o primeiro sul-americano a disputar uma final olímpica no atletismo e alcançou o quinto lugar como barreirista. As manchetes dos jornais da época se dividiam entre os feitos de Jesse Owens e a presença de um brasileiro na final.
As lembranças dos Jogos de Berlim estão presentes, com riqueza de detalhes, nas palavras de Alberto Murray, neto de Padilha e hoje presidente do Conselho de Ética do Comitê Olímpico do Brasil (COB). Elas ganham viço a cada vez que são repetidas. “O Havelange (ex-presidente da Fifa falecido em 2016) viu essa prova. Ele conta que meu avô vinha brigando pelo bronze, mas no final pesou a diferença de preparação. Eles viviam o auge e nós ainda treinávamos em terrenos baldios”, conta Murray.
Padilha é um dos pioneiros do esporte olímpico brasileiro. Depois de correr no Estádio Olímpico sob os olhares de Hitler, ele virou dirigente e se tornou presidente do COB entre 1963 e 1990. Esteve à frente da entidade em sete edições da Olimpíada, de 1964 até 1988. Padilha chefiou a organização dos Jogos Pan-Americanos de São Paulo em 1963 e lançou torneios como os Jogos Abertos do Interior e o Troféu Brasil de Atletismo. Na área política, teve desavenças com Getúlio Vargas, durante o Estado Novo, e fez oposição ao então governador Paulo Maluf, que queria trazer os Jogos Olímpicos para São Paulo, mas ele entendia que o País tinha outras prioridades.
Padilha foi atleta e dirigente, mas não foi campeão olímpico. A Olimpíada de 1940 seria a sua chance. Ele era o primeiro do ranking e seus principais competidores haviam parado de competir ou morrido na 2ª Guerra Mundial. Por causa do conflito, o mundo ficou sem duas edições dos Jogos. Alberto guarda o troféu de melhor atleta do ano de 1939, entregue ao seu avô pela Fundação Helms, como um patrimônio familiar. Era a maior homenagem que um atleta poderia receber. Na falta das medalhas, Murray guarda o troféu de melhor atleta do mundo como um tesouro olímpico.