O ex-treinador de futebol Vanderlei Luxemburgo esteve nesta sexta-feira (21),na sede da Rede Vitória, na Praia do Canto, e foi recebido pelo presidente da empresa, Americo Buaiz Filho, e pelo vice-presidente, Americo Buaiz Neto.
O “professor”, como era apelidado em seus tempos de técnico, está no Estado para o “Seminário de Verão 2025”, onde dará uma palestra sobre Liderança, dos negócios ao esporte. A relação de Luxa com o Espírito Santo é antiga, uma vez que comemorou seu primeiro título como treinador em terras capixabas, como técnico do Rio Branco, em 1983.
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Para além do Capa Preta, Luxemburgo teve uma carreira vitoriosa, passando por alguns dos maiores clubes do Brasil, como Flamengo, Corinthians, Palmeiras, Atlético Mineiro, Cruzeiro e por aí vai.
Ainda como técnico, foi para a Europa em 2005 e comandou o lendário, ou melhor “galáctico” Real Madrid da época, com Ronaldo, Roberto Carlos, Beckham, Figo e outros. Houve tempo também para capitanear a seleção canarinho.
Afastado do futebol há dois anos, Luxa hoje se dedica aos negócios e fala sobre como esporte e vida de empresário se entrelaçam. Sobre a relação com o Espírito Santo, continua mais viva do que nunca: “sempre tive família no Estado, minhas raízes são muito fortes aqui”, declara.
Você vem ao Estado para um evento sobre liderança e esporte, e uma das coisas que vêm à mente: acha que falta liderança para a Seleção? Algo para conquistar melhores resultados?
Nós sempre temos essa sensação de que falta alguma coisa, o brasileiro tem muito disso, de que “falta alguma coisa”. Eu acho que a Seleção está em um processo de construção, em um momento novo, com um novo técnico, vem de substituição de outros técnicos.
Há um modelo novo de jogo, se adaptando a novos jogadores, então tudo é um processo natural do futebol, que é um negócio, mas acima de tudo é um entretenimento que requer muita sequência, amadurecimento.
Eu acho que a seleção está tendo dificuldades, mas acho que talvez tenha sido essa safra que está agora, muito jovem a nível de seleção brasileira. E o Neymar que é o grande nome, ainda não está em uma posição de ser o carro chefe, falta ele se preparar para isso, mas está no caminho certo.
Então seria mesmo este o caminho para em 2026 pelo menos tentar alcançar o título mundial novamente?
Eu acho que sim, nós temos grandes jogadores, que jogam no futebol europeu. Nós temos de titulares do Real Madrid, o Rodrygo e o Vini, titulares do Real Madrid. Nós temos o Endrick, que é reserva do Real Madrid. Temos o Rafinha que é titular do Barcelona.
Então, veja, jogadores titulares dos grandes clubes do mundo. Como para esses clubes eles servem e para nós não servem? O brasileiro tem essa mania de que não serve, quer comparar com Pelé, com Zico, e não tem que comparar, a realidade é diferente.
Esses jogadores são bons jogadores, o que falta é a população brasileira começar a confiar nesses jogadores. Existe um intercâmbio, entre aspas, do Brasil, com a seleção brasileira. A afinidade dos jogadores brasileiros de jogarem no país, porque não jogam mais no Brasil.
A seleção de 70, todos os jogadores jogavam no Brasil, a última seleção que foi campeã, tinha 60% de jogadores que atuavam no Brasil, e que se tornaram ídolos por aqui, hoje os jogadores estão jogando fora.
Existe um processo, porque temos jogadores fantásticos que a população não aceita. Temos um processo de resistência maior, porque o Neymar gosta de mídia, gosta de fazer coisas separadas, mas esquecem que ele é um grande jogador.
Todo mundo esquece que ele é um grande jogador, pode ser o carro chefe do Brasil. As pessoas falam “ah, não, ele está velho”. Por que está velho? O Pelé jogou uma Copa do Mundo com 31, 32 anos. Acho que o problema está com nós, brasileiros, também.
E falando sobre liderança, pensando na sua carreira como treinador, qual foi o melhor líder que viu dentro de campo?
Tive grandes lideranças! Uma das lideranças que eu tive foi o Rincón, colombiano, muito bom jogador e líder. Tive o César Sampaio no Palmeiras, liderança fantástica, tive grandes líderes. No Real Madrid, o Zidane.
A minha vida de técnico foi muito boa, porque trabalhei com os grandes jogadores de quatro décadas. Sempre grandes jogadores e com lideranças totalmente diferentes.
Uma das lideranças mais positivas, que na época eu coloquei e questionaram muito, mas foi campeão do mundo e levantou a taça foi o Cafu. Era uma liderança contestada, deu problema quando eu coloquei, mas ele tinha uma liderança com os jogadores.
Eu não estou preocupado com a liderança externa, mas com a liderança interna, e como ele funciona com os meus jogadores. Ele é o porta-voz do técnico, o Cafu foi uma grande liderança que eu tive, o melhor.
O seu primeiro título como treinador foi aqui no Espírito Santo, pelo Rio Branco. Qual era a diferença daquela época do futebol capixaba? Na época o Estado era um exportador de jogadores.
Aqui no futebol capixaba tinha uma copa que formava muitos jogadores, saíam muitos jogadores daqui. De repente, com o tempo, foi se esvaindo, e logo o Espírito Santo, que formava muitos jogadores, mandava para os grandes centros, parou de fazer isso.
Acho que precisa fortalecer o futebol do Estado, para realmente voltar a ter espaço a nível nacional.
E qual seria o caminho para que isso acontecesse? Como fomentar o futebol por aqui e fazer com que o Estado tenha novamente grandes nomes?
É investir no futebol. Investir no futebol, mas investir no futebol do Estado! Não adianta pensar no Flamengo, é pensar “o que posso fazer para que o futebol daqui possa crescer”? É isso que deve ser feito.
E será que não é hora de voltar ao futebol? Retomar a vida de treinador?
Eu estou em um momento de transição. Deixando o futebol e focando nas minhas empresas, nos meus negócios, então é um momento de transição, mas ainda estou me ajustando a ele.
E para além do título do Capixabão, como é sua relação com o Espírito Santo? Há raízes aqui?
Eu tenho uma raiz muito forte aqui. Minha família é daqui, meu avô e minha avó moravam aqui, depois foram para Tinguá, estado do Rio de Janeiro. Meu pai veio morar aqui com minha irmã, ela morava em São Cristóvão, faleceu aqui. Tenho um laço muito forte aqui.
E a sua visita à Rede Vitória? Me fale um pouco sobre isso.
Eu sou dono da TV Jovem Palmas, que é a Record no Tocantins. Vim aqui bater um papo, entender como é o processo deles, porque é uma rede muito forte. É uma forma de eu entender, como a rede é só minha, também preciso dar uma crescida, estou mais a frente dos negócios.
Antes a minha receita maior era como técnico, mas hoje eu expandi meu negócio e estou expandindo mais, e a Rede Vitória, é uma rede de sucesso.
E como o futebol e esporte, e os negócios se entrelaçam? Como essas duas carreiras conversam?
É preciso entender que que todos nós, a primeira coisa que nós somos, é gestor de nós mesmos. Então não é porque sou técnico de futebol que eu não posso ser gestor de uma outra coisa.
Eu sou gestor de mim mesmo. Por exemplo, a rede aqui tem diversos segmentos, que cria e tem investimentos fora da comunicação. O técnico pode ter várias empresas, e ser técnico.
No futebol existe um pouco que uma proibição, entre aspas, de que o técnico tem que ser técnico e o jogador tem que ser jogador. A vida não é só isso, ela tem espaço para muita coisa.