CORONAVÍRUS

Esportes

Dirigentes do mundo do futebol buscam acordos para reduzir salários de jogadores

A Alemanha é o país com mais movimentações, no entanto todas as decisões partiram dos clubes

Estadão Conteúdo

Redação Folha Vitória
Foto: Divulgação

O novo coronavírus colocou vários países em um mesmo desafio no futebol: como renegociar os salários dos atletas para diminuir o prejuízo dos clubes enquanto o calendário estiver suspenso. Por enquanto, as medidas de acordo coletivo lideradas por dirigentes não deram certo na Europa e as mudanças mais eficazes partiram isoladamente de equipes, com decisões para diminuir a folha de pagamento.

O Estado fez um levantamento de como estão as negociações nos principais países europeus e encontrou um cenário ainda indefinido, principalmente na Inglaterra, Espanha e Itália. A preocupação em diminuir as despesas é grande, pois neste período sem jogos os times não contam com receitas de bilheteria e deixaram de ter exposição dos patrocinadores na televisão.

A Alemanha é o país com mais movimentações, no entanto todas as decisões partiram dos clubes. No Bayern de Munique, o elenco aceitou ter o salário reduzido em 20% enquanto o calendário estiver paralisado. O objetivo é não prejudicar funcionários da equipe, que dependem dos vencimentos para sustentar as famílias. "Os jogadores de futebol formam um grupo de profissionais especialmente privilegiados, por isso é evidente que temos que aceitar uma redução salarial quando for necessária. O Bayern de Munique tem cerca de mil empregados", disse o goleiro Manuel Neuer.

A mesma postura do Bayern de Munique foi tomada por outras equipes. O Borussia Dortmund fixou um acordo interno de 20% de cortes no salário e de redução de 10% caso a temporada continue os jogos com os portões fechados. A estimativa da diretoria é de conseguir poupar até R$ 12 milhões por mês. No Union Berlin, Werder Bremen e no Borussia Mönchengladbach, os atletas renunciaram aos salários.

A Espanha, um dos países europeus mais atingidos pela pandemia, teve até agora poucas movimentações sobre renegociação salarial. A principal discussão surgiu no Barcelona. A diretoria propôs ao elenco uma redução de 70% dos vencimentos durante a paralisação. A proposta foi rejeitada. Os jogadores exigem que o desconto seja de no máximo 30%. As conversas vão continuar nos próximos dias.

A liga local indicou que avalia propor às equipes uma redução salarial de 20%, a ser aplicada para todo o restante da temporada. A federação espanhola anunciou um pacote de cerca de R$ 2,7 bilhões disponíveis para os times das duas primeiras divisões pegarem empréstimos e sobreviverem à crise. A ideia da entidade é fixar um prazo de até seis anos para receber o dinheiro de volta.

FRANÇA - No Campeonato Francês, a mobilização sobre a pendência salarial partiu de Olympique de Marselha e Lyon. Para economizar, as duas diretorias fizeram o elenco receber 70% do valor. Durante a suspensão do calendário, os demais 30% serão pagos pelo governo, mas de acordo com um teto de repasses do equivalente a R$ 26 mil mensais para cada atleta. Outras equipes menores do país estudam replicar a medida.

Na Inglaterra, como ainda não houve um acordo coletivo na liga nacional mais cara do mundo, as atitudes tiveram início dentro das próprias equipes. Na segunda divisão, por exemplo, o Birmingham City fez os jogadores de salários mais altos (cerca de R$ 150 mil) aceitarem receber 50% menos pelos próximos quatro meses. Outro time do mesmo escalão, o Leeds United, aceitou uma proposta apresentada pelo elenco de renunciar a uma parte dos vencimentos para bancar os funcionários.

Nesta quarta-feira, a União dos Jogadores Profissionais, espécie de sindicato local, revelou que quer marcar uma reunião urgente com dirigentes das duas principais divisões da Inglaterra para discutir como amenizar os prejuízos das equipes durante a pandemia. Uma das ideias é reduzir os salários em 20%.

Na Itália, o país tem discutido como diminuir o impacto financeiro a partir da ajuda de subsídios vindo de empresas de apostas esportivas. O presidente da Federação Italiana de Futebol (FIGC, na sigla em italiano), Gabriele Gavina, já manifestou o interesse em fixar uma redução coletiva dos salários. "Não pode ser um tabu falar em reduzir os salários. Devemos entender o cenário emergencial que nos afeta e nosso mundo deve ser capaz de mudar também", disse.

Por outro lado, o presidente da associação de jogadores da Itália, o ex-volante Damiano Tommasi, afirma que esse assunto só deve ser debatido depois de o país conseguir deter o avanço da pandemia. "Os primeiros interessados na sustentabilidade do sistema são os jogadores. Nós estamos conscientes que esse é um tópico a ser discutido, mas não é hora. O problema do corte de salários deve ser discutido posteriormente", comentou.

BRASIL - A discussão tem sido liderada pela Comissão Nacional de Clubes (CNC) de um lado e a Federação Nacional dos Atletas Profissionais de Futebol (Fenapaf) do outro. Os principais entraves são acordar a data e a duração das férias coletivas, fora a parcela de redução salarial a ser aplicada caso a paralisação do calendário seja mais longa do que o período de descanso. Nas primeiras conversas, os jogadores recusaram ter os vencimentos diminuídos e exigem que a CBF seja avalista de possíveis atrasos referentes aos salários de março.

Pontos moeda