A história da primeira medalha olímpica do Espírito Santo
Dono da primeira das 11 medalhas olímpicas de atletas capixabas conta que não queria ir para as Olimpíadas, mas acabou entrando para a história
O ano era 1988. Sem internet, sem WhatsApp, sem redes sociais. O futebol já era a paixão nacional e uma geração de grandes jogadores se apresentava ao mundo, sem ainda saber que boa parte dela conquistaria o mundo seis anos depois, na Copa do Mundo de 1994, nos Estados Unidos.
Entre nomes como Mazinho, Jorginho, Taffarel, Bebeto e Romário, estava o capixaba Geovani Silva, já ídolo do Vasco, onde era o “Pequeno Príncipe”.
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CRITÉRIOS DIFERENTES NA CONVOCAÇÃO
O meia Geovani tinha 24 anos na época em que, diferentemente de hoje, não havia restrição de idade para a convocação olímpica no futebol. Atualmente, somente jogadores sub-23 podem disputar os Jogos — com três exceções por seleção —, mas naquela época a única restrição é que os convocados não poderiam ter disputado uma Copa do Mundo.
Geovani já brilhava pelo time profissional do Vasco. Pela seleção brasileira, tinha sido campeão mundial sub-20 em 1983, no México, sendo artilheiro e melhor jogador da competição.
A lista de convocados pelo técnico Carlos Alberto Silva contava com cinco jogadores que seriam campeões mundiais em 1994 pela Seleção: Taffarel, Jorginho, Mazinho, Bebeto e Romário. E outros nomes que se tornaram craques como o meia Neto, do Corinthians.
VEJA OS CONVOCADOS
GOLEIROS: Taffarel (Inter) e Zé Carlos (Flamengo)
ZAGUEIROS: Ricardo Gomes (Fluminense), André Cruz (Ponte Preta), Batista (Atlético-MG) e Aloisio (Inter)
LATERAIS: Jorginho (Flamengo), Luis Carlos Winck (Inter), Mazinho (Vasco)
MEIO-CAMPISTAS: Andrade (Flamengo), Ademir (Cruzeiro), Valdo (Grêmio), João Paulo (Guarani), Geovani (Vasco), Neto (Corinthians), Milton (Coritiba), Careca (Cruzeiro)
ATACANTES: Bebeto (Flamengo), Romário (Vasco) e Edmar (Corinthians)
"EU NÃO QUERIA IR ÀS OLIMPÍADAS"
O capixaba Geovani não queria disputar as Olimpíadas. Acabou convencido pelo diretor Paulo Angioni, hoje dirigente do Fluminense. E foi o capitão do Brasil durante a competição.
"É verdade! Naquela época, eu não queria ir pra Olimpíada porque considerava a Olimpíada uma competição amadora, achei que não valeria a pena participar. Mas depois de uma conversa com o Angioni, que hoje é diretor do Fluminense, eu pensei bastante. Ele disse 'você não sabe a festa que irá perder!´'. Então, eu decidi participar e não me arrependo. Realmente, foi uma experiência marcante para mim", conta o Pequeno Príncipe.
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SEGUNDA FINAL CONSECUTIVA DO BRASIL
O Brasil foi a Seul, na Coreia do Sul, tentar buscar o ouro que havia escapado quatro anos antes na final da Olimpíada de Los Angeles-1984, quando perdeu a decisão para a França por 2 a 0.
Sob o comando do técnico Carlos Alberto Silva, a seleção brasileira venceu Nigéria por 4 a 0, Austrália por 3 a 0 e Iugoslávia por 2 a 1 na primeira fase da Olimpíada de Seul. Nas quartas de final, bateu ninguém menos que a Argentina por 1 a 0, gol de Geovani.
Na semifinal, contra a Alemanha Ocidental, a seleção precisou dos pênaltis para se classificar para a final. Neste jogo, Geovani levou cartão amarelo e ficou fora da decisão. A decisão foi contra a então União Soviética, que venceu por 2 a 1 e levou o ouro.
PRIMEIRA MEDALHA DO ESPÍRITO SANTO
A medalha de prata nos Jogos de Seul-1988 foi a segunda medalha olímpica do futebol brasileiro. E foi a primeira do Espírito Santo.
A conquista do craque Geovani "abriu a porteira" e, depois dela, vieram mais 10 medalhas para atletas capixabas.
CAPIXABAS MEDALHISTAS OLÍMPICOS
OURO
Alison/Bruno Schmidt (vôlei de praia) - Rio-2016
Luan (futebol) - Rio-2016
Richarlison (futebol) - Tóquio-2021
PRATA
Geovani Silva (futebol) - Seul-1988
Fábio Luiz (vôlei de praia) - Pequim-2008
Alison (vôlei de praia) - Londres-2012
Esquiva Falcão (boxe) - Londres-2012
BRONZE
Sávio (futebol) - Atlanta-1996
Cesar Quintaes (natação/4x100m livre) - Sydney-2000
Larissa França (vôlei de praia) - Londres-2012
Yamaguchi Falcão (boxe) - Londres-2012
ORGULHO POR SER DO ESPÍRITO SANTO
Geovani Silva aprendeu cedo a dar valor às conquistas como atleta capixaba. Ainda muito novo, aos 18 anos, deixou a Desportiva Ferroviária para brilhar pelo Vasco. Mas sempre fez questão de abrir portas e valorizar o esporte do Estado.
Acabou "premiado" sendo o primeiro capixaba medalhista olímpico.
"É um orgulho para mim, principalmente em poder trazer essa honra para o Espírito Santo, que é tão pouco lembrado no meio esportivo. Eu realmente me sinto orgulhoso daquilo que vivi. Claro, seria muito bom termos conquistado o ouro, sem dúvidas, mas fica comigo o prazer e o orgulho de até onde eu pude chegar no evento e pela vitória que eu pude dar ao meu Estado", conta, emocionado.
E 34 anos depois daquele pódio, no qual aparece sempre chorando nas poucas imagens ainda disponíveis, hoje Geovani transforma as lágrimas que eram de tristeza pela perda do ouro em lágrimas de emoção e reconhecimento pelo grande feito como atleta olímpico.
"Sempre que lembro do que conquistei, fico muito orgulhoso por essa conquista. Eu não pude estar com os companheiros na decisão, pois estava suspenso e, por isso, não joguei a final. Mas ainda fiquei com a alegria e satisfação de poder dizer que conquistei o prata naquele evento, algo que está totalmente marcado em minha vida e que tem um significado valioso para mim".
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