Esportes

Quem é Isaquias Queiroz, dono de cinco medalhas olímpicas na canoagem

Baiano de 30 anos nasceu em Ubaitaba, perdeu um rim quando criança e é hoje um dos maiores medalhistas olímpicos da história do esporte brasileiro

Redação Folha Vitória
Foto: Alexandre Loureiro/COB

A grande arrancada na decisão do C1 1000m nos Jogos Olímpicos de Paris-2024, subindo do quinto lugar para a medalha de prata serviu de superação e alívio para Isaquias Queiroz.

Esperança de pódio brasileira, o canoísta de 30 anos chegou pressionado à França, vinha da frustração pelo último lugar no C2 500m e não escondeu que também teve de superar decepções e problemas psicológicos para subir ao pódio pela quinta vez e poder homenagear o filho.

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Muitos atletas de alta performance vêm sofrendo para manter a cabeça boa antes de competições importantes como a Olimpíada e com Isaquias não foi diferente. Após fechar em segundo em sua principal prova olímpica nesta sexta-feira (9), ele desabafou, feliz pela volta por cima e por conseguir a medalha.

"A sensação é de alívio, felicidade... muita felicidade. Não foi um ano fácil para mim e para minha esposa. 2023 foi um ano diferente e especial, quando eu percebi o que não é ser campeão mundial e super atleta. E sim ser um humano com problemas físicos e psicológicos. Tive que me remontar. Tive que correr muito para ficar em forma. Não é fácil ficar fora de pódios", contou Isaquias, ressaltando a temporada sabática na qual passou sem disputas para descansar o corpo e a mente e ficar próximo da família em Ilhéus, na Bahia.

"CIDADE DAS CANOAS"

Isaquias nasceu na “cidade das canoas”, significado em tupi-guarani de Ubaitaba, na Bahia. O local de nascimento já predestinava o que o canoísta viria a conquistar remando em uma canoa, mas não sem antes superar alguns obstáculos.

Foto: Alexandre Loureiro/COB

O menino cresceu numa família humilde, ao lado de nove irmãos. O pai morreu quando o campeão olímpico ainda era criança e a mãe, Dona Dilma, sustentava a casa como servente na rodoviária da cidade.

Com apenas três anos de idade, uma panela de água fervente virou sobre Isaquias, que ficou um mês internado, com queimaduras em diversas partes do corpo. Sem se recuperar a ponto de conseguir alta do hospital, Dona Dilma assinou um termo de responsabilidade, o levou para casa e cuidou dele até a recuperação.

Aos 10 anos, Isaquias subiu em uma mangueira para ver uma cobra morta, se desequilibrou e caiu de costas em cima de uma pedra. A pancada provocou uma lesão séria no rim, com hemorragia interna, que o levou a uma cirurgia para retirada do órgão. O incidente gerou o apelido de “Sem Rim” ao, agora, cinco vezes medalhista olímpico. Isaquias costuma brincar que "perdeu um rim, mas ganhou um terceiro pulmão".

Pouco tempo depois, a canoagem entrou na vida do garoto. Isaquias começou a participar do Projeto Segundo Tempo, que oferecia prática esportiva para crianças e adolescentes de Ubaitaba.

O "goleiro" Isaquias queria o futebol, mas a canoagem velocidade dominou o coração do menino, inspirado por outro filho ilustre da “cidade das canoas”, Jefferson Lacerda, pioneiro da modalidade no Brasil, que competiu em Barcelona-1992, na primeira vez que canoístas brasileiros estiveram nos Jogos.

AO LADO DE LENDAS DO ESPORTE

Isaquias abriu mão de parte da carreira e só foi ao Mundial de 2023 para se garantir na Olimpíada. Fechou pela primeira vez na história da competição sem medalhas, mas conseguiu chegar à Paris mais relaxado e era só alegria nesta sexta-feira.

Foto: Alexandre Loureiro/COB

Com a prata em Paris, ele tem agora cinco medalhas olímpicas e se iguala aos velejadores Robert Scheidt e Torben Grael na lista dos maiores medalhistas olímpicos do esporte brasileiro. O trio só fica atrás da ginasta Rebeca Andrade, que tem seis medalhas.

"Chegar aqui com a prata é ser campeão olímpico para mim. Cheguei à seleção em abril e tive que correr muito para chegar aqui. Fico feliz de poder chegar a essa quantidade de medalhas (cinco). Queria que fossem mais duas, com o ouro seria melhor ainda, mas estou feliz por ter ganhado a de prata e chegar na marca de Robert Scheidt, Torben Grael, não tem como tirar o brilho desses caras, são os pioneiros do Time Brasil", endossou o canoísta.

"ACEITAR QUANDO PERDEMOS"

Na quinta-feira, Isaquias havia disputado a final do C2 500m ao lado do jovem Jacky Godmann, mas acabou ficando na oitava colocação. A dupla foi quarta colocada em Tóquio-2021 e considerava estar ainda mais preparada para a disputa em Paris.

A decepção por não ter chegado ao pódio no C2 foi uma motivação a mais para o baiano de Ubaitaba.

"Eu fiquei muito triste de não estar no pódio nas duplas. É um peso que eu tiro das minhas costas agora. Poder chegar em Paris, ser medalhista de prata e porta-bandeira. Lógico que a gente fica triste quando perde. Ver os adversários ganhando. Mas acima de tudo fica o respeito. Temos que aceitar quando perdemos. Não significa que somos ruins, e sim que eles foram melhores. Ganha quem tem a unha maior", concluiu.

HOMENAGEM AOS FILHOS E MEDALHA QUEBRADA

Isaquias aproveitou para homenagear o filho Sebastian, de seis anos, sua inspiração nas competições.

Foto: Alexandre Loureiro/COB

"Sebastian me disse: 'pai quero medalha de ouro'. Não vai dar ouro, mas vou ao pódio", celebrou o atleta do Flamengo, que na hora de receber a medalha comemorou de maneira diferente para atender seu herdeiro.

"Meu filho me pediu pra fazer o 'Kamehameha' e eu disse: 'tá bom, vou ter que fazer porque ele pediu'. A gente assiste muito Dragon Ball e fiquei muito feliz de subir no pódio mais uma vez."

Durante as comemorações com os filhos, Sebastian e Luigi, porém, a medalha caiu no chão e foi danificada, o que fez a equipe do canoísta negociar com o Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos a liberação de uma nova medalha.

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