Campeões nas ondas: irmãos indígenas fazem história no esporte do ES
Nicollas e Kauã, de 14 e 10 anos, respectivamente, são tupiniquins, vivem na aldeia Caieiras Velha, em Aracruz, e são referências para jovens indígenas do Brasil inteiro
Eles são irmãos, vivem na aldeia indígena de Caieiras Velha, em Aracruz, e mesmo com a pouca idade já se acostumaram a ser referências para outros jovens indígenas não só da mesma aldeia, mas de comunidades do Brasil inteiro.
Os irmãos Nicollas e Kauã Raich são dois dos destaques do Circuito Estadual de Bodyboarding.
VEJA TAMBÉM:
> 1º Rede Vitória Open de Tênis começa nesta sexta-feira; confira a programação
> VÍDEO | Medalhistas olímpicos, irmãos Falcão lamentam morte de Maguila
> Capixaba é convocada para a Copa do Mundo de pickleball; conheça o esporte
Nicollas, 14 anos, é o mais velho e conquistou, no domingo (20), o título da categoria sub-16 na terceira etapa da temporada, realizada na praia de Itaparica, em Vila Velha.
Kauã, 10 anos, não foi ao pódio desta vez, mas já mostrou o seu talento como campeão estadual iniciante em 2023 e também já foi vice-campeão brasileiro de kickboxing.
RARIDADE NO ESPORTE DE ALTO RENDIMENTO
Ser um atleta indígena de destaque no cenário nacional do alto rendimento ainda é um feito raro na história do esporte brasileiro, apesar das raízes culturais do País.
O representante mais conhecido na atualidade é o lutador Alex Poatan, campeão do UFC e neto de nativos indígenas da tribo Pataxó.
Mas este é um cenário que os dois irmãos, da tribo Tupiniquim, esperam ajudar a mudar em pouco tempo. Eles curtem ser vistos como referências para novos indígenas chegarem ao esporte.
“É tranquilo pra mim e também é muito gratificante saber que eu tô incentivando as novas gerações a entrar no esporte, não só no bodyboarding, mas em todas as modalidades. É uma coisa muito gratificante pra mim”, conta Nicollas.
A mãe deles, Fabiola, conta que a família recebe mensagens de outras comunidades, buscando informações sobre os meninos.
“Eles levam numa boa, pois eles têm orgulho da etnia deles. Eles sempre levam isso com eles para as competições. Tanto que, na prancha do Kauã, tem uma assinatura dele”, explica a mãe dos meninos: “Eles servem de inspiração não só da aldeia aqui em Aracruz, mas vários outros lugares do Brasil”.
Para chegarem cada vez mais longe, eles vendem doces e fazem rifas para competir, já que os custos de treinos, viagens e competições são bancados, hoje em dia, pelos pais e avós. Nada que diminua os sonhos e a dedicação dos jovens indígenas.
TREINOS COM O PAI
Os dois irmãos são treinados pelo pai, Max Ryan Raich. O sobrenome é de origem alemã, do lado paterno da família. Ele conta que também foi bodyboarder, o que facilitou o caminho para os meninos começarem a pegar onda.
“Minha relação com o bodyboarding começou aos sete anos, nas praias de Manguinhos e Carapebus. Dali pra frente, me apaixonei pelo esporte”, lembra Max.
O mais difícil, porém, foi aprender a separar o limite entre ser pai e ser treinador. “No início foi bastante difícil separar isso, pois como pai há muita ligação entre nós. Mas, hoje em dia, sou pai no dia a dia e, quando começamos a treinar, sou o treinador.”
Max também treina outras crianças e jovens na escolinha Nova Geração, no litoral de Aracruz. As pranchas que Nicollas e Kauã ganham nos campeonatos são doadas para outros meninos na Barra do Sahy, onde eles treinam. A ideia é fomentar o esporte na região.
“A minha expectativa é que eles consigam alcançar seus sonhos e objetivos e que eles possam ser exemplo para outras novas gerações. É muito gratificante ser isso tudo hoje em dia, não só na nossa comunidade, mas sim no Brasil e até fora do Brasil. Várias crianças que têm grande potencial estão aparecendo por causa deles, sendo inspirados a competir. Não tem explicação, é só gratidão”, agradece Max.
ENTRE AS ONDAS E AS LUTAS
Nicollas e Kauã também treinam kickboxing. Mas a arte marcial perde espaço para as ondas na preferência dos dois.
“Eu sempre gostei de manobra radical, tipo skate, bicicleta. E escolhi o bodyboarding porque tem muita manobra radical. Aí eu fui evoluindo e fui gostando mais ainda!”, revela Kauã.
Ele admite que o coração bate mais forte pela prancha do que pelas luvas:
“Eu prefiro o bodyboarding pela história que eu tenho desde criança e eu gosto de coisa radical. No kickboxing, faz menos de um ano que eu pratico”.
ESTUDIOSO E SONHADOR
Nicollas é estudioso. Aos 14 anos, está o 9º ano do Ensino Fundamental, fez prova para o Ifes e para o concorrido ITA e vai prestar Enem. Também é fluente em Inglês.
Com o título da terceira etapa do Estadual, ele está na briga pelo título da temporada na categoria sub-16. A etapa decisiva acontece nos dias 14 e 15 de dezembro, na Barra do Jucu, em Vila Velha.
“Eu tô bem ansioso porque eu creio que vai ser uma batalha bem difícil, né? Os caras também surfam muito”, conta Nicollas.
Estudioso e talentoso, ele se inspira em outros bodyboarders de destaque no Estado e no mundo.
“As referências que eu tenho são Lucas Nogueira, Eduardo Freitas, Tanner McDaniel e Tristan Roberts. E os meus amigos que treinam comigo direto. Mas tenho muitos ídolos e não vou citar todos porque vai dar um livro muito grande (risos).”
Em ascensão no esporte, Nicollas sonha alto. E já sabe até quais são as ondas dos seus sonhos.
“Meu maior sonho no esporte é competir numa etapa do Mundial. E se eu pudesse escolher, seria nas Ilhas Canárias, que eu considero uma das melhoras ondas do mundo! Outro sonho meu é poder surfar na Skeleton Bay (Costa dos Esqueletos), na África do Sul. É minha onda favorita, vejo vídeos de lá direto. Outro sonho é poder montar um projeto pra incentivar as novas gerações no esporte”, sonha Nicollas.