Esportes

Filho de africano, capixaba é a mais nova estrela da natação brasileira

Matheus Ngome é a atração do Troféu Sudeste Petiz; com quatro ouros e recorde brasileiro, ele é parado a todo momento com pedidos de fotos e autógrafos e sonha com as Olimpíadas

Flávio Dias

Redação Folha Vitória
Foto: Flávio Dias
Matheus Ngome com três das quatro medalhas de ouro que ele já conquistou no Troféu Sudeste

A natação está no DNA do jovem Matheus Machado Ngome. Sua avó, Maria Regina Padilha, é até hoje nadadora de águas abertas, mesmo aos 71 anos. A paixão de dona Regina pela natação passou para os filhos dela e chegou com tudo ao neto.

Aos 12 anos, Matheus surge como a nova estrela da natação brasileira, responsabilidade que ele encara numa boa, com tranquilidade e, principalmente, com conquistas dentro da piscina.

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CHUVA DE MEDALHAS

Nesta sexta-feira (18), entre uma prova e outra do Torneio Sudeste Petiz, que termina neste sábado (19) no Álvares Cabral, em Vitória, Matheus foi parado o tempo todo com pedido de fotos e autógrafos. Os pedidos vieram de colegas, de adversários e de nadadores de outras categorias.

O motivo de tanta badalação? Uma chuva de medalhas de ouro e recordes brasileiros. Matheus, como diz a gíria do esporte, é “diferente”.

Só nesta sexta-feira, foram duas medalhas de ouro em duas provas disputadas: campeão nos 50m livre e nos 100m borboleta.

Os dois ouros se somam às duas medalhas douradas conquistadas um dia antes: nos 200m livre, com 2min08s13, quase quatro segundos à frente do segundo colocado, Pedro Facina Rocha, do Natação Americana (SP), que fez 2min1204; e nos 100m costas, com 1min08s05.

Foto: Divulgação/CNRAC

Não bastassem os ouros, Matheus também bateu o recorde brasileiro da categoria nos 50m livre nesta sexta-feira ao vencer a prova com o tempo de 25s45. O recorde anterior era de Lucas Dé dos Santos, do Natação Americana, que fez 25s84 em 2022.

A conta não termina aqui, já que o capixaba volta à piscina neste sábado para o último dia da competição e é favorito a mais um ouro, agora nos 100m livre. E com boas chances de novo recorde brasileiro da prova.

“Já foram 12 recordes brasileiros batidos, em três anos nadando. Esse dos 50m livre não era meu. Agora é meu (risos)”, comemorou Matheus, minutos após bater a marca.

FILHO DE PAI AFRICANO

O pai da jovem estrela da natação é o africano Landry Ngome, nascido no Gabão e que conheceu a mãe do nadador, Paula, na África do Sul. O contato com o pai e a avó paterna é constante, pelas redes sociais. Do pai, puxou o porte físico. Matheus tem quase 1,80m de altura, ainda aos 12 anos.

Já da família da mãe, o garoto puxou a paixão pela natação. Medalhista em três estilos diferentes no Troféu Sudeste Petiz — livre, costas e borboleta —, ele tem o seu preferido na ponta da língua.

“Adoro nadar borboleta, sempre gostei. Senti uma paixão desde a primeira vez que nadei borboleta. Também me destaquei bastante nele, aí criei uma paixão forte pelo borboleta”.

O estilo preferido do nadador foi também o que atual treinadora dele, Daiene Dias, chegar à seleção brasileira, com direito a medalha de bronze nos 200m borboleta nos Jogos Pan-Americanos do Rio/2007.

AUTÓGRAFOS E ROTINA DE ESTRELA EM ASCENSÃO

A sensação ao ver Matheus na piscina e também fora dele é de que está ali uma estrela em ascensão da natação brasileira. No melhor sentido da palavra. Humilde e atencioso com todos que pedem fotos, o capixaba conta que está ainda se acostumando à rotina.

“É uma coisa nova pra mim, que vem mais desde o começo do ano. Eu não prestava muito atenção, mas todo mundo começou a passar por mim e pedir autógrafo. Aqui mesmo passou um clube inteiro querendo pegar autógrafo. Agora tenho que criar um, né? Tem gente que quer só tocar em mim! É uma coisa nova”, conta Matheus.

Apesar da badalação, ele mantém os dois pés no chão. E faz planos ousados para o futuro na natação: ser o terceiro nadador capixaba a disputar os Jogos Olímpicos, depois de Cesar Quintaes, reserva no revezamento 4xm100m livre em Sydney/2000; e João Luiz Gomes Júnior, finalista nos 100m peito no Rio/2016.

“Vou até as Olimpíadas e mais ainda! Quero muito ir para as Olimpíadas. Realmente quero conseguir e vou. Treino todos os dias, menos domingo. Amo o que eu faço. Me dedico muito e é assim que eu consigo as marcas que eu consigo”, afirmou Matheus, recordista também nos Jogos Escolares Brasileiros (JEBs) deste ano, nos 50m borboleta, nadando com meninos até dois anos mais velhos.

DONA REGINA É A MAIOR REFERÊNCIA

Cesar Cielo? Nicholas Santos? Nada disso. A maior referência de Matheus Ngome na natação está dentro de casa. Sua avó Regina.

“Quem eu realmente admirei e me fez querer ser nadador foi minha avó, que é nadadora do mar. Desde os cinco anos, eu via quando ela chegava em casa depois da nadar. E eu ficava pensando como seria nadar. Aí, comecei a nadar na piscina. Tentei no mar também, mas me apaixonei pela piscina”, revela Matheus, que até tentou outras modalidades esportivas, como basquete, judô e triatlo, mas se apaixonou mesmo pela natação.
Foto: Flávio Dias
Dona Regina (primeira à esquerda) é a maior referência para o neto, o nadador Matheus Ngome

A idolatria por parte do neto faz os olhos de dona Regina brilharem.

“O Matheus faz tudo isso com o maior prazer. Ele, outro dia, quando terminou o treino e estávamos indo pra casa, ele falou assim pra mim: ‘Vó, eu sou tão feliz com a minha rotina!’. Eu venho todos os dias e faço esse sacrifício pra trazer, mas vale a pena”

Além das medalhas e recordes, outra marca do garoto capixaba é a “dança da vitória” no pódio. Começou por acaso, mas hoje é uma marca registrada dele.

“Eu tava muito feliz, a música tava tocando e eu comecei a dançar. Virou marca (risos). Nos 50m livre agora não rolou porque eu tava morto, Bater recorde é difícil e eu tava pra morrer”.

PRATA NO TORNEIO MIRIM

No Festival Sudeste Mirim, encerrado nesta sexta-feira, a cabralista Stella Cometti Martins foi a única medalhista do Estado.

A nadadora do Álvares Cabral foi vice-campeã nos 50m costas, com o tempo de 47s06, atrás apenas de Esther Cristina Santos, do Ranking Academia (MG), que fez 46s13. O bronze foi para Lorena Maria Morais, com 47s76, da Anel (SP).

Na classificação geral, o Álvares ficou na 24ª colocação. A Aest foi a 25ª e o Clube Ítalo Brasileiro terminou em 28º, com o Libanês na 30ª e última colocação.