Paixão pelo Botafogo chega à terceira geração da família Thebaldi
Paixão pelo Botafogo chega à terceira geração na família do servidor público Matheus Thebaldi, que sonha com título inédito da Libertadores neste sábado (30)
Uma chama que não se apaga e que resiste a gerações. E que vive um momento especial nesta semana, com a histórica primeira final do Botafogo na Libertadores. A decisão acontece neste sábado (30), contra o Atlético-MG, no Monumental de Núnez, em Buenos Aires, na Argentina. E mexe com as emoções e memórias dos botafoguenses.
Torcedores com o servidor público Matheus Thebaldi, de 43 anos. A paixão dele pelo Botafogo começou com seu pai, Péricles Thebaldi. A primeira lembrança de torcer pelo Glorioso, no entanto, não é das melhores. Foi em 1992, quando o Botafogo perdeu a final do Brasileirão para o Flamengo.
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PRIMEIRO JOGO AO VIVO FOI EM CARIACICA
Passada a primeira frustração, os anos seguintes foram de glórias, como o título da Copa Conmebol de 1993.
E experiências inesquecíveis de acompanhar jogos "in loco" do Fogão. O primeiro ao vivo foi no estádio Engenheiro Araripe, em Cariacica, no empate por 1 a 1 com o Fluminense pelo Brasileirão de 1995, ano em que o Botafogo foi campeão brasileiro pela última vez. No ano seguinte, a primeira "aventura", como conta Matheus.
"O Botafogo foi campeão antecipado da Taça Cidade Maravilhosa, organizada pela Federação do Rio. Aí, meu pai pagou uma excursão para irmos ver o último jogo no Maracanã, só que a viagem 'furou'. Ele não pensou duas vezes e me levou para rodoviária para pegarmos o último ônibus com destino ao Rio", lembra Matheus.
TRAGÉDIA EM PLENO RESSURGIMENTO DO CLUBE
O ano de 1999 ficou marcado como um ressurgimento das cinzas, assim como muitos períodos pelos quais o clube de General Severiano já passou.
Naquele ano, o pai de Matheus trabalhava em Iúna, na região do Caparaó, no sul capixaba. O Botafogo estava prestes a disputar a partida de volta da semifinal da Copa do Brasil contra o Palmeiras. Foi quando Matheus, que continuou morando em Vitória, ligou para o pai pedindo que ele o levasse ao Maracanã para ver a partida.
Foi a última vez que eles se falaram, pois, no retorno à capital, como sempre fazia nas horas livres, seu Péricles ele acabou morrendo quando o carro que dirigia colidiu com um caminhão na BR-262.
Apesar da dor, Matheus viu seu time de coração avançar para a final. Em homenagem ao pai, seguiu para o Rio de ônibus, mas, num Maracanã abarrotado com mais de 100 mil botafoguenses, assistiu a um frustrante empate que culminou na perda do título.
"Lembro que, após essa viagem, fiquei uma semana de cama. Além do emocional ainda abalado, peguei uma forte sinusite. Meu pai deixou um grande legado. Foi quando fiquei ainda mais fanático. Eu pendurava as bandeiras nas paredes do meu quarto e prometia para minha mãe que um dia iria pintá-lo de preto e branco. Claro que ela nunca foi a favor (risos)".
FRUSTRAÇÕES NÃO APAGAM A CHAMA
Como prega uma das músicas mais cantadas pela torcida alvinegra — "momentos ruins eu já vivi, mas nunca parei de cantar"—, o século XXI foi de frustrações.
A começar pelo primeiro rebaixamento, em 2002. Mas na rodada final da Série B de 2003, contra o Marília-SP, no já em desuso Caio Martins, Matheus estava lá presente, torcendo e chorando pelo renascimento do seu clube.
Também teve o tri-vice do Carioca (anos 2007, 2008 e 2009), nos quais ele esteva presente no Maracanã. Em 2010, quando Loco Abreu fez aquele histórico gol de cavadinha na final contra o Flamengo, Matheus preferiu não viajar, por já acumular a fama de "pé frio".
TERCEIRA GERAÇÃO ALVINEGRA NA FAMÍLIA
Em 2017, ano em que o Botafogo tornava a disputar uma Libertadores, nascia Miguel, seu filho. Claro que a primeira roupa na maternidade foi o kit infantil alvinegro.
O time chegou às quartas de final da competição, caindo para o Grêmio, e no ano seguinte foi campeão carioca, em cima do Vasco.
"Eu dizia que ele havia nascido pé quente, pois há muito tempo o Botafogo não conquistava um título. Depois começou novo período difícil no clube e fomos rebaixados novamente, em 2020. Foi quando falei que iria priorizar meu filho e dei um tempo de ver os jogos. Mas não durou muito tempo (risos). Em 2021, na rodada que sacramentou o Botafogo de volta à elite, contra o Operário, no Nilton Santos, lá estava eu no Rio novamente".
Aí foi a vez de passar essa paixão para o herdeiro, da terceira geração de torcedores do Botafogo na família. A primeira experiência foi em 2023, quando o time veio disputar uma partida do Campeonato Carioca contra o Resende no Kleber Andrade.
Miguel entrou em campo com os jogadores e viu o Fogão vencer o Resende por 2 a 0. Meses depois, o Botafogo retornou ao Espírito Santo para uma partida contra o Brasiliense, pela Copa do Brasil. Miguel e o pai viram um massacre alvinegro de 7 a 1.
1ª VEZ NO NILTON SANTOS
Era hora de levar Miguel para conhecer o Nilton Santos. O Botafogo era líder isolado do Brasileirão e iria encarar o Coritiba.
Matheus não pensou duas vezes: excursão para o Rio de Janeiro. Memórias foram criadas, com vitória por 4 a 1. Meses depois, nova excursão, desta vez contra o Atlético/PR. Mas essa viagem foi um tanto caótica.
"O jogo era num sábado à noite. Começaram umas falhas na iluminação do estádio ainda no primeiro tempo. Eras apagões seguidos. O jogo estava empatado em 1 a 1, o jogo toda hora parava, a torcida começou a ficar impaciente e ouvíamos uns rojões. Miguel começou a ficar angustiado e queria ir embora de qualquer jeito. Foi quando o juiz resolveu suspender a partida. Ou seja, saímos de Vitória para assistir a um tempo de jogo".
E o final da história do Brasileirão do ano passado todos já conhecem. Matheus prefere nem lembrar.
"Foi a maior frustração que já tive com o clube, até mais que nos rebaixamentos".
Mas ele não desistiu, embora quisesse. Viu o time passar bem pela fase da pré-Libertadores e seguir forte para fase de grupos. "O time deu liga, as peças que chegaram se encaixaram, devolvendo a confiança à nossa torcida". Inclusive, a confiança de Miguel, que falava que iria mudar de time se o Botafogo não ganhasse nada em 2024, para desespero do pai.
O Botafogo foi avançando e Matheus se aventurou novamente, levando Miguel em uma excursão para assistir à semifinal contra o Penarol. E deu certo: vitória por 5 a 0 e classificação garantida para a final.
Apesar da vontade, pai e filho não estarão presentes na Argentina. Matheus optou por assistir à decisão em Vitória. Mas nada de frustração. O otimismo continua em alta para, ao lado de Miguel, celebrar o maior feito da história do Botafogo!