Esportes

Quem são os destaques da novíssima geração do surfe capixaba

Espírito Santo cresce no Circuito Brasileiro de Surfe de Base e mostra que tem uma geração de jovens surfistas pronta para brilhar nacionalmente

Flávio Dias

Redação Folha Vitória
Foto: Divulgação/Fesurf
Equipe do Espírito Santo que disputou a terceira e última etapa do Circuito Brasileiro de Base

Eles são adolescentes, alguns ainda pré-adolescentes, mas já vivem uma rotina de gente grande, com treinos, cuidados com a alimentação e muita, muita competitividade. Graças a tanta dedicação, começam a se destacar no cenário do surfe brasileiro.

A novíssima geração do surfe capixaba fez bonito na temporada nacional, encerrada no início do mês na Praia do Tombo, no Guarujá (SP), com a terceira e última etapa do CBSurf Rip Curl Grom Search, o Circuito Brasileiro de surfe de base.

VEJA TAMBÉM:

> Jovem capixaba é disputado por universidades dos EUA para jogar basquete

> Vitória Va'a comemora 15 anos de vida com títulos no Estadual de Va'a

> DNA de campeões! Laisa segue os passos do irmão na marcha atlética

Com bons e ótimos resultados de Kauã Clímaco, Isaac Correia, Kauai Cogo, Erick Grattz, Kalebe Henrique, Ana D'Agostini e Alice Pitanga, o Espírito Santo terminou a temporada na sétima colocação do ranking brasileiro de base, atrás apenas das principais potências da modalidade no País. São Paulo foi o campeão geral, seguido por Rio de Janeiro e Paraná.

VEJA OS 10 PRIMEIROS DO RANKING BRASILEIRO DE BASE DAS FEDERAÇÕES

São Paulo - 2.730 pontos
Rio de Janeiro - 2.443 pontos
Paraná - 2.140 pontos
Paraíba - 2.140 pontos
Santa Catarina - 2.043 pontos
Rio Grande do Norte - 1.808 pontos
7º Espírito Santo - 1.599 pontos
Rio Grande do Sul - 1.585 pontos
Bahia - 1.543 pontos

10º Pernambuco - 1.488 pontos

DESTAQUES NO RANKING INDIVIDUAL

O crescimento do surfe de base do Espírito Santo revela para o País jovens surfistas que têm tudo para "estourar" em breve. Alguns já se colocam entre os melhores do Brasil em suas categorias.

Foto: Marcio David/CBSurf
Aninha D'Agostini venceu a última etapa do Brasileiro e encerrou a temporada como vice-campeã

É o caso de Aninha D'Agostini, 12 anos. Ela venceu a última etapa do Brasileiro e encerrou a temporada como vice-campeã brasileira da categoria sub-12, atrás somente da paulista Maria Clara Chuquer, de 10 anos.

A temporada de surfe deste ano foi muito boa e superou as minhas expectativas. Minha meta era ficar entre as três primeiras do ranking brasileiro, e, sendo campeã na última etapa no Guarujá, terminei o ano de 2024 como vice-campeã brasileira na minha categoria. Além disso, tive a oportunidade de participar de programas de desenvolvimento e treinamento de talentos femininos da Confederação Brasileira de Surfe junto com o Comitê Olímpico Brasileiro. Também conheci e treinei em outros países, como El Salvador e Havaí, além de surfar em ondas fantásticas aqui no 'quintal de casa', em Regência. Está sendo incrível!

Aninha termina o ano de 2024 como vice-campeã brasileira da sua categoria. Mas também ficou bem posicionada competindo na categoria logo acima da sua, ficando na nona posição na sub-14. O futuro? Surfar nas ondas mais importantes do mundo.

"Eu quero, um dia, ser campeã mundial e representar o Brasil nas Olimpíadas. Quero pegar ondas grandes, entubar, viajar pelo mundo e, acima de tudo, me divertir com o surfe!", conta Aninha.

LEIA MAIS: Kartódromo Fãs de Kart vai sediar a FDK Racing Cup com mais de 100 pilotos

CAMPEÃ ESTADUAL EM TRÊS CATEGORIAS

Além dela, outro nome que fez bonito com a bandeira do Espírito Santo nacionalmente este ano foi Alice Pitanga.

Foto: Acervo pessoal
Alice Pitanga fechou o ano de 2024 na liderança do ranking estadual em três categorias

Ela terminou entre as 20 melhores do País na categoria sub-14, sendo a 18ª colocada, e foi a melhor capixaba na categoria sub-16, na 13ª colocação do ranking brasileiro. Alice foi ainda melhor na categoria sub-18, ficando em 11º lugar do ranking final da temporada de base.

"A minha temporada foi boa. Eu acho que eu poderia ter ido melhor, mas tô feliz com a minha performance e agora é só melhorar. O surfe é meu estilo de vida, eu sou muito feliz com o que eu faço e eu quero ser surfista profissional. Quero entrar para o WCT, onde estão os surfistas top de linha como Gabriel Medina, Ítalo Ferreira, Tatiana Weston-Webb. Eu quero ser profissional", garante Alice.

Alice Pitanga tem 14 anos e venceu o Circuito Estadual Amador em três categorias: sub-14, sub-16 e sub-18.

Ela e Aninha D'Agostini competem no Estado surfando entre os meninos. Ao final da temporada, a Federação de Surfe do Espírito Santo (Fesurf) soma as pontuações para definir o ranking feminino final da temporada.

MENINOS EM ALTA

O Estado botou dois surfistas no Top 10 do ranking brasileiro da categoria sub-12:  Kaleb Henrique e Eric Grattz.

Kaleb, 11 anos, terminou a temporada como  oitavo colocado do ranking e teve também grandes resultados no Estado, vencendo o Circuito Serrano em três categorias (sub-12, sub-14 e sub-16) e o Circuito Capixaba de surfe de base em duas categorias (sub-12 e sub-14).

Foto: Marcio David/CBSurf
Kaleb Henrique terminou a temporada entre os 10 melhores surfistas do Brasil na categoria sub-12

"Foi um ano muito bom. Tive ótimos resultados, evoluí bastante no surfe de performance e ainda estou inovando com algumas manobras para 2025. Mesmo sendo ano sub 12, com 11 anos, consegui fazer pódios em praticamente todos eventos que participei", comemora Kaleb.

Fã do bicampeão mundial Filipe Toledo e da medalhista olímpica Tati Weston-Webb, Kaleb já sabe o que quer para o ano que vem: mais títulos.

"Quero viajar mais, surfar mais, acertar minhas novas manobras. Vou treinar para que em 2025 eu seja bicampeão das categorias que disputei e ganhei em 2024. Quero ser campeão paulista e quero ser campeão brasileiro sub-12 em 2025. E gostaria muito de poder fazer viagens internacionais", revela.

Com o surfe no DNA, Eric Grattz é filho do ex-surfista profissional Michel Grattz. Assim como seus colegas de delegação capixaba, Eric compete em mais de uma categoria e tem mostrado que pode ir bem longe na modalidade.

Foto: Marcio David/CBSurf
Eric Grattz com o técnico Eduardo de Souza durante a última etapa do Circuito Brasileiro de base
"Minha temporada foi muito boa, gostei bastante. Surfei bem, fiquei muito feliz com minhas conquistas. Ano que vem vamos com tudo pra chegar na final do Brasileiro e realizar este sonho. Quero só realizar sonhos, ser feliz, ganhar campeonato importantes, ganhar o Circuito Brasileiro. Vou treinar bastante pra conseguir isso", afirma o jovem surfista.

Para ele, a inspiração está dentro de casa, com o pai e com a mãe, Michele Valadares. "Minha maior fonte de inspiração são os meus pais. Meu pai me ajuda muito sendo também o meu técnico e minha mãe é fisioterapeuta e já consegue tratar quando eu tenho alguma lesão. É muito bom pra mim e pra minha família".

"EU QUERO ME DIVERTIR"

Integrante da novíssima geração do surfe capixaba, Kauai Cogo é sobrinho de um dos maiores nomes do esporte no Espírito Santo, o surfista Krystian Kymerson, bicampeão brasileiro profissional e campeão pan-americano.

Kauai, 13 anos, também correu o Circuito Brasileiro de Base. Ele ficou entre os 20 melhores do Brasil na categoria sub-14 e entre os 25 primeiros do ranking brasileiro na sub-16. E conta qual é a sua principal tarefa, dada pelos seus pais: aproveitar.

Foto: Daniel Cruz
Kauai Cogo tem 13 anos e é mais um dos nomes da novíssima geração do surfe capixaba

"Eu tenho só 13 anos e meus pais, todo ano, falam pra eu só me preocupar em aproveitar o processo. Claro que eu quero ganhar todos os campeonatos, mas eu estudo muito, só surfo nos fim de semana e, por isso, sei que é mais difícil competir com meus amigos que surfam todos os dias. Gosto de representar o nosso Estado no Circuito Brasileiro, pois assim eu viajo e vejo vários amigos que eu tenho no Brasil todo. Eu gosto de competir pra caramba, mas não é fácil não ser um atleta bom e um estudante ainda melhor", conta o jovem surfista, que mesmo levando numa boa a rotina, tem também planos mais ousados para o esporte:

"Eu quero me divertir, continuar viajando e surfando e brincando com meus amigos. Mas quero ser campeão brasileiro, do mundo e também ganhar medalha nas Olimpíadas um dia".

O tio famoso é uma das suas referências nas ondas.

"O meu tio me chama pra surfar e me leva pra viajar com ele quando minha mãe deixa. Ele que é minha inspiração. Mas eu também me inspiro no Pedro Scooby e no Lucas Chumbo, que eles são da 'big waves' e eu gosto disso. E também me inspiro no Gabriel Pastori e no Trekinho, que viajam pelo mundo todo surfando e essa vibe eu gosto muito também".

FEDERAÇÃO COMEMORA CRESCIMENTO E BOA SAFRA

Em 2022 e 2023, o Espírito Santo terminou entre os 12 melhores estados do Brasil nas categorias de base do surfe brasileiro.

O salto para a sétima colocação é bastante comemorado pelos atletas e também pela Federação de Surfe do Espírito Santo (Fesurf).

"Foi um resultado muito bom este ano, com um salto significativo, avalia o presidente da Fesurf, Alberto Muniz, que comemora também a qualidade da nova safra de surfistas que está surgindo no Estado:

"Tem muita gente hoje acreditando mais no surfe, vendo o esporte com outra visão.  Esta geração realmente e expressiva. Tem uma rapaziada vindo aí na faixa de nove até 15, 16 anos que está despontando. É uma geração que realmente promete!".

LEIA MAIS: Os desafios para Vitória receber uma etapa da Stock Car em 2025

PAIS INVESTEM TEMPO E DINHEIRO NA FORMAÇÃO ESPORTIVA

Pai da agora vice-campeã brasileira sub-12, Benito D'Agostini conta que investir tempo e dinheiro na formação esportiva da filha traz inúmeros benefícios.

"É prazeroso e gratificante. Ver sua dedicação ao surfe e o crescimento dela, tanto no esporte quanto na educação, me motiva a seguir apoiando-a. Além disso, o surfe tem proporcionado a oportunidade de conhecer novas culturas. É um compromisso grande, mas cada conquista dela faz tudo valer a pena e é muito especial fazer parte do desenvolvimento da Ana, assim como do meu filho João, que também está iniciando no esporte", avalia Benito.

Mãe do surfista Kauai Côgo, Thiara conta que os pais também aprendem muito com as experiências vividas pelos jovens atletas.

"Investir nos sonhos dos nossos filhos é sempre um prazer! Estar junto com o Kauai nos treinos, viagens, fins de semana na praia, arrumar mala, preparar os documentos, fazer planilha de gastos, calcular se vai dá pra ir no próximo campeonato… Tudo isso é maravilhoso! A gente aprende muito com essa vida de atleta do Kauai; tem de administrar o tempo, o dinheiro, as emoções (quando perde e quando ganha) e, principalmente, as prioridades de cada momento", explica.

Thiara conta que o filho aproveita as oportunidades para aprender também sobre educação financeira.

"O Kauai tem patrocinadores e apoiadores e isso ajuda muito no orçamento dele e da casa, porque graças ao surfe e aos conteúdos nas redes sociais que ele produz, hoje a gente economiza com escola, inglês, dentista, psicóloga, nutricionista, fisioterapeuta, alguns itens alimentícios que ele ganha, equipamentos necessários para o surfe também. Além disso, desde os 9 anos ele empreende, vendendo bananinhas desidratadas por onde vai, então, ele tem uma boa base de educação financeira na prática. Já realizou oito viagens internacionais sem que eu precisasse desembolsar nenhum real! É um menino inteligente, dedicado e super correr atrás do que ele quer!".

Ex-surfista profissional, Michel Grattz entende bem a necessidade de investir para que os jovens atletas possam se desenvolver no esporte.

"Todo atleta tem este gasto com viagens, com suporte. Como eu  vim do esporte, foi natural incentivá-lo. Depois, fui vendo que ele evoluiu bem no esporte, colocamos para começar a competir e ele foi evoluindo muito rápido. Vamos investindo pra levar para campeonatos importantes, com viagens para aprimorar o surfe. É uma luta constante buscar patrocinadores e apoiadores pra buscar essa evolução".

LEIA MAIS: Campeões nas ondas: irmãos indígenas fazem história no esporte do ES