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Persistente, ciclista Henrique Avancini quer medalha na 3ª participação olímpica

Não é novidade e nem mesmo clichê dizer que um medalhista olímpico se forja na persistência. E é na base dela que Henrique Avancini vai para a sua terceira Olimpíada atrás de um pódio. Dessa vez, contudo, o atleta que cresceu na região serrana do Rio e que hoje ocupa a segunda posição no ranking da União Ciclística Internacional disputará os Jogos de Tóquio na condição de um dos favoritos – e ele está ciente disso.

“Acredito que hoje eu tenho nível claríssimo para brigar por uma medalha e tenho nível para brigar por uma vitória olímpica. Eu enxergo como uma realidade, uma possibilidade, e é o caminho que estou apontando na temporada”, disse Avancini ao Estado, em seu novo “centro de excelência”, em Petrópolis, na região serrana do Rio.

A afirmação do ciclista nem de longe deixou transparecer excesso de autoconfiança. Ao contrário, Avancini mede bem as palavras ao se expressar e tem o cuidado de dizer que não pode prometer medalha. Mas o ciclista sabe do que é capaz nas pistas, conhece bem seus adversários e carrega consigo resultados expressivos na última temporada, quando terminou em terceiro lugar geral da Copa do Mundo, competição em que subiu dez vezes ao pódio nas 12 etapas disputadas, uma delas no lugar mais alto.

O ótimo desempenho em 2019 e a possibilidade real de ganhar uma medalha nos Jogos Olímpicos de Tóquio são frutos de mais de oito anos de persistência. Avancini foi aos Jogos de Londres-2012 mesmo que tivesse feito boa parte da corrida por uma vaga olímpica sem nenhum patrocínio. Em 2016, mais experiente e bem ranqueado, disputou a Olimpíada do Rio debaixo de grande expectativa, mas sofreu um estiramento durante a prova e terminou apenas na 23ª colocação.

Os reveses anteriores trouxeram aprendizados. A falta de apoio financeiro em 2012, por exemplo, ajudou o atleta a ter um olhar também para fora das pistas. “Em 2012, 2013, tive uma grande virada de mentalidade na minha carreira. Comecei a perceber que eu não iria conseguir me desenvolver no esporte se eu não desenvolvesse meu esporte. Comecei a mudar muito minha postura de preparação e muito a minha postura como profissional”, conta.

Avancini começou, então, a dar mais atenção a aspectos envolvendo a preparação de atletas no Brasil – e não apenas a dele. Em 2015, com o auxílio do pai, Ruy, e de patrocinadores, ele criou um projeto em Petrópolis para ajudar no treinamento de novos ciclistas. Profissionais de diversas áreas, da preparação física à fisioterapia, passaram a fazer parte do cotidiano. O gerenciamento da carreira também passou a ser visto de maneira mais incisiva. “Quando a gente se reúne, ele sempre traz uma lista de demandas”, conta um executivo de uma das patrocinadoras.

Tudo isso veio num círculo virtuoso que reuniu bons resultados nas competições e um olhar sobre o que é feito lá fora, em especial em países europeus onde o ciclismo é mais desenvolvido. “Eu percebi que o mercado no Brasil estava se desenvolvendo e que havia uma certa demanda de atletas que a gente não conseguia atender com qualidade, não só na parte esportiva, mas também na questão profissional”, relembra Avancini. “Aos poucos fomos agregando conhecimento. As oportunidades que eu posso oferecer hoje aos meus pupilos, aos meus atletas, são muito mais desenvolvidas do que eu tinha pra mim mesmo na idade deles.”

O ciclista não revela uma data publicamente, mas já não esconde que o fim da carreira nas pistas já está planejado e que não deve demorar muitos anos. Antes disso, porém, muitos pódios ainda estão no seu horizonte. O mais almejado deles, daqui a seis meses.

“Ser um atleta top mundial era uma meta, era um sonho, mas era extremamente não palpável, muito distante. Hoje eu entro em 2020 como número 2 do ranking mundial e vencendo (etapa da) Copa do Mundo em 2019. Sou um candidato à medalha em Tóquio”, ressalta. “Eu nunca me senti tão tranquilo em relação a um evento esportivo. A gente já pensou bastante, já planejou muita coisa. Está tudo muito bem encaminhado. Os últimos dois anos e meio foram bem planejados, a execução foi boa e tiramos boas lições. Estou muito tranquilo.”