São Paulo – Neymar não está tendo uma boa terça-feira. No mesmo dia que prestou depoimento à Justiça da Espanha, o jogador emitiu um comunicado para criticar o procurador Ministério Público Federal (MPF) responsável pela denúncia por sonegação fiscal e falsidade ideológica, sendo rebatido tanto pelo MPF, que detalhou a denúncia, quanto pela Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR).
Em nota, a associação classista dos procuradores repudiou o texto em que Neymar sugere que o procurador da República Thiago Lacerda Nobre teria interesses “extra campo” e que “procura desesperadamente os holofotes da mídia”. “Nada mais equivocado e distante da realidade”, diz o ANPR, que acrescenta: “Ninguém está acima da Lei, seja ele trabalhador, governante ou capitão da seleção brasileira de futebol.”
“Representando mais de 1.200 procuradores da República, a ANPR assegura à sociedade brasileira que o processo que investiga as condutas de Neymar, e de seu pai e agente, em relação às obrigações tributárias, está sendo conduzido com critérios absolutamente técnicos, e com integral observância aos princípios da impessoalidade, da imparcialidade e da transparência, características do Ministério Público Federal como um todo”, diz a nota do ANPR.
A entidade sai em defesa de Thiago Lacerda Nobre, que, de acordo com a ANPR, “recebeu o processo de forma objetiva e impessoal, por livre distribuição, nos termos das normas internas do MPF”. “(Lacerda) tem atuado de forma exemplar, e a denúncia criminal está lastreada em amplo acervo probatório reunido em mais de dois anos de investigação, que inclui cooperação jurídica internacional com a Espanha e trabalho conjunto com a Receita Federal”, defende a associação.
A ANPR aproveita para cutucar Neymar. “Outros atletas de renome e fama internacional igualmente passam ou já passaram por situação idêntica, sendo processados, e muitas vezes condenados, na Espanha e em outros países, como Alemanha, Itália e Estados Unidos. Não ocorreu a ninguém, ou à opinião pública destes países, todavia, imputar ao fisco, aos órgãos de persecução criminal, ou à justiça, qualquer pecha de pessoalidade, ou de perseguição, talvez e exatamente porque é característica das democracias maduras e do estado de direito acompanharem com naturalidade o funcionamento – respeitados a ampla defesa e o devido processo legal – das forças do Estado.”
O comunicado, assinado por José Robalinho Cavalcanti, presidente da ANPR, encerra duro: “O atleta Neymar é um orgulho do Brasil. O cidadão Neymar já demonstrou em várias situações genuína preocupação social. Porém, em uma República, ninguém está acima da Lei, seja ele trabalhador, governante ou capitão da seleção brasileira de futebol.”