Rio –
O resultado era o que menos importava. Ainda assim, na manhã desta quarta-feira, eles foram melhores do que o esperado. Judoca da equipe de refugiados do Comitê Olímpico Internacional, Popole Misenga venceu sua primeira luta, deu trabalho para um campeão mundial e foi eliminado nas oitavas de final da categoria até 90kg na Olimpíada do Rio. Independentemente da derrota, Misenga saiu ovacionado, assim como a também refugiada Yolanda Bukasa, que perdeu em sua estreia.
Nascido na República Democrática do Congo, o atleta de 26 anos saiu de Kisangani – sua cidade natal – quando tinha apenas 9, fugindo da guerra que vitimou sua mãe. Capturado na selva, foi levado a um centro de crianças na capital, Kinshasa, onde aprendeu o judô. Já no Mundial de 2013, no Rio de Janeiro, após ser maltratado pelo técnico, decidiu pedir asilo ao Brasil – o treinador não o deixava comer após as derrotas.
Seu sonho de disputar uma Olimpíada se iniciou quando ele foi treinar em uma escola coordenada por Geraldo Bernardes, o mesmo da campeã olímpica Rafaela Silva nos Jogos do Rio. Escolhido para compor a equipe de refugiados do judô, treinada pelo próprio Bernardes, Misenga teve grande atuação na primeira luta e derrotou o indiano Avtar Singh, quando saiu ovacionado pelo público.
Nem mesmo a derrota na luta seguinte para o atual campeão mundial da categoria, o sul-coreano Donghan Gwak, minimizou o entusiasmo entre atleta e torcedores. Novamente muito festejado, ele deixou o tatame sob aplausos incessantes.
“Eu não imaginava, não tinha mais o sonho de estar aqui. Ele (o sul-coreano) é campeão mundial e dei trabalho para ele, pois sou aluno do Geraldo”, comentou Misenga, em entrevista ao SporTV, após a luta. “O judô salvou minha vida. Aqui no Brasil me ajudaram muito, com passagem, cesta básica, a casa onde moro. Ele (Geraldo) pagou o aluguel. Ele é meu pai”, ressaltou.
Eliminada em sua primeira luta, Yolanda Bukasa, também judoca da equipe dos refugiados, foi tão ovacionada quanto Misenga. Ela caiu para a israelense Linda Bolder, na categoria até 70kg, resultado que em nada alterou sua alegria. “Estou feliz mesmo tendo perdido a luta porque tive a chance de lutar em uma Olimpíada”, celebrou Bukasa, que também é refugiada do Congo.