O futebol pode ser encarado como um lazer ou como uma atividade divertida para fugir da agitada rotina. Mas há pessoas que enxergam neste esporte um futuro. Crianças e jovens com um talento nato com a bola sonham em construir uma trajetória nos gramados mundo afora. Entretanto, na madrugada de 08 de fevereiro de 2019, o sonho tornou-se pesadelo.
Um incêndio atingiu o Centro de Treinamento George Helal (CT), em Vargem Grande, Zona Oeste do Rio de Janeiro. Também conhecido como Ninho do Urubu, o espaço é utilizado pelas equipes do Flamengo. Jovens que sonhavam em se tornar “garotos do Ninho do Urubu” e serem estrelas dos gramados tiveram a vida interrompida.
O Corpo de Bombeiros foi acionado às 5h17 para atender a ocorrência. Depois de quase duas horas de trabalho intenso, por volta das 7h, a equipe conseguiu controlar o fogo.
O alojamento que foi atingido pelas chamas tinha uma estrutura modesta perto do complexo do CT. Instalado no final de 2010, o espaço destinado a acomodar os jogadores da base era formado por contêineres. Um novo módulo estava sendo construído para abrigar um novo alojamento da equipe. Em poucos dias, o espaço seria desativado e transformado em um estacionamento.
Pouco tempo após as primeiras informações sobre o ocorrido começarem a ser divulgadas, a hashtag #ForçaFlamengo ganhou as redes sociais. Torcedores, atletas e ex-atletas se solidarizaram com a dor das famílias. Na ocasião, o jogador do flamengo Diego Ribas escreveu: “De luto e chorando com os que choram com a dor dessa tragédia.”
O presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, lamentou a tragédia que considerou a pior nos 123 anos da história do clube e disse não poupar esforços para reconfortar a dor e o sofrimento das pessoas.
As vítimas
Dos 26 jovens que presenciaram a tragédia que completa um ano neste sábado (08), 10 morreram e outros três ficaram feridos. As vítimas tinham entre 14 e 16 anos de idade. O capixaba Jhonata Ventura, na época com 15 anos, foi o último sobrevivente a deixar o hospital. Ele teve cerca de 30% do corpo queimado.
Os atacante Athila Paixão e Vitor Isaías, o goleiro Bernardo Pisetta, o meia Gedson Santos e o zagueiro Pablo Henrique tinham apenas 14 anos, e o lateral direito Samuel Rosa tinha 15 anos. O goleiro Christian Esmério, de 15 anos, já colecionava convocações para a base da seleção brasileira. O zagueiro Arthur Vinícius comemoraria o aniversário de 15 anos no sábado (09), o volante Jorge Eduardo completaria 16 anos na semana seguinte a tragédia e o, também volante, Rykelmo Viana faria 17 anos no final do mês.
O jogador Cauan Emanuel Gomes Nunes, de 14 anos, e o goleiro Francisco Diogo Bento Alves, de 15 anos, também ficaram feridos no incêndio. Os outros 13 jovens que estavam no alojamento conseguiram fugir antes que as chamas se alastrassem.
Centro de Treinamento
O Centro de Treinamento do Ninho do Urubu é fruto de um investimento milionário. Mas, segundo a Prefeitura do Rio de Janeiro, não tinha alvará de funcionamento. O documento havia sido solicitado pelo clube em 2017, mas a ausência do certificado de aprovação emitido pelo Corpo de Bombeiros impossibilitou a emissão da licença.
O incêndio despertou o olhar das autoridades que, no dia 27 de fevereiro, determinou o fechamento do Centro de Treinamento devido aos débitos da documentação para o funcionamento do local. Só então, o clube agilizou a regularização do espaço, que foi reaberto no dia 11 de março, após autorização da justiça.
Causas do incêndio
Muito se especulou sobre o que teria motivado o inicio do fogo. No dia seguinte ao incêndio, o presidente executivo, Reinaldo Belotti, afirmou que os picos de energia provocados pela chuva na madrugada de quinta-feira (07) para sexta-feira (08), teriam motivado um curto-circuito em um dos ar condicionados do alojamento.
Em 08 de maio, três meses depois, o laudo da Polícia Civil concluiu que o incêndio teria de fato começado no ar condicionado. Segundo o laudo, os contêineres eram revestidos por uma espuma de poliuretano, material altamente inflamável que ajudou no alastramento das chamas.
A Polícia Civil indiciou, no dia 11 de junho, o ex-presidente do clube rubro-negro, Eduardo Bandeira de Mello, um técnico de refrigeração, engenheiros do Flamengo, a empresa NHJ que fabricou os contêineres, e outras sete pessoas.
Desdobramentos
Após a tragédia, quatro projetos de lei foram apresentados para a alteração na Lei Pelé (Lei 9.615, de 1998), que regulamenta as instalações e atividades ligadas ao esporte. Dentre as alterações propostas, estão a certificação das instalações físicas referentes à habitabilidade, à higiene, à salubridade e às medidas de combate a incêndios e desastres naturais, além da garantia de transporte adequado.
No sábado passado (02), o presidente do clube, Rodolfo Landim, contou em entrevista para o FlaTV que existe um projeto para construção de uma capela no Centro de Treinamento. Segundo ele, haverá um espaço na capela para homenagear as vítimas da tragedia.
O presidente contou ainda que medidas foram tomadas para evitar situações como a do ano passado. Uma delas é no modo como o CT é gerenciado. “Melhorou, e muito, a gestão do Ninho do Urubu”, defendeu.