Esportes

Tragédia no Ninho do Urubu completa um ano; incêndio deixou 10 mortos e 3 feridos

Jovens que sonhavam em ser ídolos do futebol, tiveram a trajetória interrompida

Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

O futebol pode ser encarado como um lazer ou como uma atividade divertida para fugir da agitada rotina. Mas há pessoas que enxergam neste esporte um futuro. Crianças e jovens com um talento nato com a bola sonham em construir uma trajetória nos gramados mundo afora. Entretanto, na madrugada de 08 de fevereiro de 2019, o sonho tornou-se pesadelo. 

Um incêndio atingiu o Centro de Treinamento George Helal (CT), em Vargem Grande, Zona Oeste do Rio de Janeiro. Também conhecido como Ninho do Urubu, o espaço é utilizado pelas equipes do Flamengo. Jovens que sonhavam em se tornar “garotos do Ninho do Urubu” e serem estrelas dos gramados tiveram a vida interrompida. 

O Corpo de Bombeiros foi acionado às 5h17 para atender a ocorrência. Depois de quase duas horas de trabalho intenso, por volta das 7h, a equipe conseguiu controlar o fogo. 

O alojamento que foi atingido pelas chamas tinha uma estrutura modesta perto do complexo do CT. Instalado no final de 2010, o espaço destinado a acomodar os jogadores da base era formado por contêineres. Um novo módulo estava sendo construído para abrigar um novo alojamento da equipe. Em poucos dias, o espaço seria desativado e transformado em um estacionamento.

Pouco tempo após as primeiras informações sobre o ocorrido começarem a  ser divulgadas, a hashtag #ForçaFlamengo ganhou as redes sociais. Torcedores, atletas e ex-atletas se solidarizaram com a dor das famílias. Na ocasião, o jogador do flamengo Diego Ribas escreveu: “De luto e chorando com os que choram com a dor dessa tragédia.”

O presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, lamentou a tragédia que considerou a pior nos 123 anos da história do clube e disse não poupar esforços para reconfortar a dor e o sofrimento das pessoas.

As vítimas

Dos 26 jovens que presenciaram a tragédia que completa um ano neste sábado (08), 10 morreram e outros três ficaram feridos. As vítimas tinham entre 14 e 16 anos de idade. O capixaba Jhonata Ventura, na época com 15 anos, foi o último sobrevivente a deixar o hospital. Ele teve cerca de 30% do corpo queimado.

Os atacante Athila Paixão e Vitor Isaías, o goleiro Bernardo Pisetta, o meia Gedson Santos e o zagueiro Pablo Henrique tinham apenas 14 anos, e o lateral direito Samuel Rosa tinha 15 anos. O goleiro Christian Esmério, de 15 anos, já colecionava convocações para a base da seleção brasileira. O zagueiro Arthur Vinícius comemoraria o aniversário de 15 anos no sábado (09), o volante Jorge Eduardo completaria 16 anos na semana seguinte a tragédia e o, também volante, Rykelmo Viana faria 17 anos no final do mês.

O jogador Cauan Emanuel Gomes Nunes, de 14 anos, e o goleiro Francisco Diogo Bento Alves, de 15 anos, também ficaram feridos no incêndio. Os outros 13 jovens que estavam no alojamento conseguiram fugir antes que as chamas se alastrassem. 

Foto: Reprodução

Centro de Treinamento

O Centro de Treinamento do Ninho do Urubu é fruto de um investimento milionário. Mas, segundo a Prefeitura do Rio de Janeiro, não tinha alvará de funcionamento. O documento havia sido solicitado pelo clube em 2017, mas a ausência do certificado de aprovação emitido pelo Corpo de Bombeiros impossibilitou a emissão da licença.

O incêndio despertou o olhar das autoridades que, no dia 27 de fevereiro, determinou o fechamento do Centro de Treinamento devido aos débitos da documentação para o funcionamento do local. Só então, o clube agilizou a regularização do espaço, que foi reaberto no dia 11 de março, após autorização da justiça.

Causas do incêndio

Foto: Reprodução/ Record TV

Muito se especulou sobre o que teria motivado o inicio do fogo. No dia seguinte ao incêndio, o presidente executivo, Reinaldo Belotti, afirmou que os picos de energia provocados pela chuva na madrugada de quinta-feira (07) para sexta-feira (08), teriam motivado um curto-circuito em um dos ar condicionados do alojamento.

Em 08 de maio, três meses depois, o laudo da Polícia Civil concluiu que o incêndio teria de fato começado no ar condicionado. Segundo o laudo, os contêineres eram revestidos por uma espuma de poliuretano, material altamente inflamável que ajudou no alastramento das chamas.

A Polícia Civil indiciou, no dia 11 de junho, o ex-presidente do clube rubro-negro, Eduardo Bandeira de Mello, um técnico de refrigeração, engenheiros do Flamengo, a empresa NHJ que fabricou os contêineres, e outras sete pessoas.

Desdobramentos 

Após a tragédia, quatro projetos de lei foram apresentados para a alteração na Lei Pelé (Lei 9.615, de 1998), que regulamenta as instalações e atividades ligadas ao esporte. Dentre as alterações propostas, estão a certificação das instalações físicas referentes à habitabilidade, à higiene, à salubridade e às medidas de combate a incêndios e desastres naturais, além da garantia de transporte adequado. 

No sábado passado (02), o presidente do clube, Rodolfo Landim, contou em entrevista para o FlaTV que existe um projeto para construção de uma capela no Centro de Treinamento. Segundo ele, haverá um espaço na capela para homenagear as vítimas da tragedia. 

O presidente contou ainda que medidas foram tomadas para evitar situações como a do ano passado. Uma delas é no modo como o CT é gerenciado. “Melhorou, e muito, a gestão do Ninho do Urubu”, defendeu.

Foto: Thiago Soares/ Folha Vitória
Gabriel Barros Produtor web
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Graduado em Jornalismo e mestrando em Comunicação e Territorialidades pela Ufes. Atua desde 2020 no jornal online Folha Vitória.