Esportes

Velozes & Furiosas: conheça mulheres que arrancam poeira nas pistas de kart do ES

Kartódromo em Vitória tem um grupo exclusivo com 206 mulheres, entre elas as pilotos Isa Anselmo e Kyssila Oliveira, duas craques na categoria

Foto: Thiago Soares/Folha Vitória

Mulher no volante, perigo constante? Só se for perigo para os outros pilotos, que se não pisarem fundo no acelerador vão comer poeira.

É o que acontece com quem bota o kart lado a lado com as pilotos Isa Anselmo e Kyssila Oliveira, duas mulheres que mostram muita habilidade e velocidade no Kartódromo Fãs de Kart, em Jardim Camburi, em Vitória.

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As duas dividem a paixão por pilotar e não se escondem quando precisam competir com os pilotos homens. Pelo contrário, não é incomum ver tempos mais rápidos delas em comparação aos homens.

Foto: Heitor Croce
Grid da Copa Verdão de 2023, com só uma mulher, Isa Anselmo (no canto, à direita), entre os homens

Em abril de 2023, entre 129 pilotos homens alinhados para a disputa da Copa Verão de Kart, havia uma somente mulher. E não, ela não estava ali para dar a largada ou a bandeirada final com roupas justíssimas e esbanjando sensualidade, como muitos se acostumaram a ver em filmes de Hollywood estilo Velozes & Furiosos.

De macacão, sapatilha e capacete, Isa Anselmo era a única mulher no grid. E fez bonito. Por sinal, é comum ouvir a frase “ela anda de igual pra igual com os homens” quando alguém se refere a ela. Bonita, mãe de dois filhos, casada e dona de casa, ela conta que gosta quando escuta frases deste tipo.

Eu gosto sim. Considero um elogio, pois, infelizmente, o kart ainda é um esporte predominante masculino e os tempos dos homens costumam ser melhores. Mas, com treinamento, as mulheres podem se igualar ou superá-los”, ensina Isa Anselmo.

A piloto de 22 anos, moradora de Serra, faz parte de um grupo de 206 mulheres que correm de kart. As corridas são organizadas e avisadas por um grupo de WhatsApp. E, dentro da pista, o que elas querem mesmo é não pensar em nada além da pista. Uma terapia para mulheres acostumadas a lidar com as mil e uma tarefas do dia a dia.

Foto: Heitor Croce
Isa Anselmo já se acostumou a ouvir que “ela anda igual aos homens” no kart: “Eu considero um elogio”

É um esporte que amo! Corro faça chuva ou faça sol e me ajuda a desestressar da rotina”, conta Isa, que acabou de sair do resguardo, após dar à luz o seu segundo filho, Otto, de oito meses, e já está de volta às pistas.

“Ter filho pequeno dificulta um pouquinho, mas tenho uma boa rede de apoio para me auxiliar e olhar meu filho no kartódromo enquanto corro”, explica a piloto, que também é mãe de Henrique, de dois anos.

Ela conta que começou a acelerar por influência de dentro de casa.

“Comecei a andar de kart por influência do meu marido, Felipe Pravato, e em poucos meses já participei da minha primeira Copa Verão”. E admite que, às vezes, causa surpresa em outras mulheres por gostar do cheiro de gasolina e de borracha de pneu queimando no asfalto: “A verdade é que a grande maioria das mulheres acha que o kart exige muito esforço físico, mas elas admiram meu empenho”.

Ela entende tudo de carros

Foto: Thiago Soares/Folha Vitória
Kyssila Oliveira gosta de carros e velocidade desde pequena e hoje corre em pistas de kart

De carro, ela entende. Muito! Kyssila Oliveira adora o cheiro de gasolina e tudo que envolve carros e, principalmente, velocidade. Um gosto que ela herdou de um tio e que leva até hoje para as pistas de kart.

“Desde pequena, sempre estive envolvida com carros e velocidade. Meu tio era mecânico e ele sempre modificava os carros dele pra arrancadas. Então, eu o acompanhava e ele me passou isso, tanto de entender da oficina do carro, como da adrenalina dentro do carro, nas corridas e tudo mais”, relembra Kyssila, 29 anos.

Para evoluir do apego aos motores até a paixão pela pilotagem, porém, ela teve a ajuda de um outro elemento: o videogame.

“Eu comecei a me interessar mesmo por velocidade quando eu comecei a jogar Need for Speed, que é um jogo de videogame. Eu morei uma temporada nos Estados Unidos e, quando eu voltei ao Brasil, eu precisava daquela sensação de velocidade. Eu tava chegando no País e eu não conhecia ninguém. Então, fui à procura daquilo que eu gostava. Como eu não tinha um carro ainda e também não ia acelerar na rua, eu busquei o kart”, conta Kyssila, que completa: “Tinha um kart no estacionamento de um shopping aqui em Itaparica, em Vila Velha. Eu comecei a ir lá sozinha. E passei a ir toda quarta-feira”.

A piloto, que assim com Isa Anselmo, está sempre entre as mais rápidas do Kartódromo Fãs de Kart, entre homens e mulheres, vive 24 horas por dia envolvida com carros. Isso porque ela trabalha numa concessionária de carro de luxo.

“Eu sou especialista na marca e executiva de vendas. Sou o manual humano da marca. Faço primeiros diagnósticos e tenho conhecimento de tudo, desde motor, aerodinâmica, performance, etc…”, garante.

Veja o vídeo da Kyssila dando show de pilotagem no kart

A paixão é imensa, mas ela só lamenta que ainda seja tão difícil encontrar mais mulheres nos grids.

É muito difícil encontrar outras mulheres que gostam dessa adrenalina de acelerar, de arrancar, desse cheiro de gasolina, de mexer, de ter amor e paixão por isso. As minhas amigas gostam de ver isso em mim. E sempre que eu vou eu tento arrastar algumas comigo para elas pegarem gosto também porque é uma coisa divertida. Muitas mulheres não sabem como é a experiência de acelerar, de fazer uma curva, de fazer drift! É a melhor coisa que tem. É uma terapia pra mim. Se eu tô num dia ruim, eu pego o kart e desestresso”, explica Kyssila.

Kyssila hoje tem o seu próprio projeto de velocidade. E seus olhos brilham ao explicar o que ela sente quando está atrás do volante.

“Hoje eu tenho meu carro, eu tenho um projeto, eu comprei uma BMW E36, tração traseira, 6 cilindros, 1995, justamente pra me dar essa adrenalina. E pra mim é uma terapia. No momento em que eu sento atrás de um volante, eu posso acelerar, correr, competir, fazer uma curva com ângulo perfeito, pegar ritmo de aceleração, de frenagem, passar na zebra, tudo isso é especial pra mim”.

Grupo de WhatsApp com 206 mulheres

O Kartódromo Fãs de Kart, em Jardim Camburi, tem um grupo de WhatsApp com 206 mulheres. São mulheres que estão quase sempre na pista. Presidente da Associação de Kart Amador do Espírito Santo, Renato Pereira comemora o crescimento da participação feminina na modalidade que é o “berço” do automobilismo.

Fico extremamente feliz com o crescimento exponencial de mulheres praticando o kartismo. Vimos este crescimento pós-pandemia e ele só vem aumentando mês a mês, tanto que criamos um grupo feminino de kart no WhatsApp, onde sempre passamos informações dos melhores tempos semanais e finais de cada pista que montamos. Hoje elas vêm correr sozinhas, com namorado, com esposo e com toda família. Sem limite de idade, o que nos impressiona, pois são mulheres desde adolescentes até senhoras que já são avós”, conta Pereira.

Para ele, a presença das mulheres no grid é um caminho sem volta.

“Esta diversidade de gênero só enriquece o esporte, trazendo diferentes perspectivas e novos talentos para o esporte. Queremos incentivar cada dia mais a participação feminina e estamos pensando, em um futuro próximo, numa competição com uma categoria totalmente feminina.”