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5 pontos para entender Gilberto Kassab, o “fiel da balança das eleições 2026”

5 pontos para entender Gilberto Kassab, o “fiel da balança das eleições 2026”

Ao longo de 25 anos, Roberto Reis atuou como consultor em campanhas eleitorais pelo Brasil, assessorando desde disputas pela presidência da OAB até eleições para o Governo de Minas Gerais. Para ele, a rota escolhida por Gilberto Kassab, presidente do PSD, será o melhor termômetro para antecipar o vencedor da corrida presidencial de 2026.

“Kassab, sempre pragmático e calculista, se tornou um pêndulo decisório na política nacional. Suas movimentações não apenas influenciam o jogo, mas podem determinar os rumos da eleição”, analisa Reis. Segundo ele, essa escolha será feita nos próximos 60 dias e poderá seguir dois caminhos: um alinhamento mais profundo com o Governo Lula, onde o PSD já ocupa três ministérios, ou um compromisso definitivo com Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, cuja Casa Civil está sob comando do próprio Kassab.

Com a balança pesando entre o Planalto e o Bandeirantes, Kassab mais uma vez se posiciona como um dos nomes centrais da sucessão presidencial.

Data Business conversou com Reis para entender os bastidores do xadrez político que envolve Kassab.

1. Por que Kassab será o “fiel da balança” de 2026

RR: Para onde Kassab se inclinar, o poder tende a se acomodar. Mas, claro, ele quer mais. E sabe o seu preço. A popularidade de Lula é inversamente proporcional à fatura de Kassab. Ele gosta do Lula? Sim. Mas pensa, antes de tudo, no PSD.

Hoje, Kassab está dividido. Acredito que, nos próximos 60 dias, ele vai ‘stopar’ a possibilidade de seguir convencido com Lula.

E não será por acaso. O deep state brasileiro — leia-se Centrão, empresariado e o STF — vai moldar essa decisão. Se o derretimento de Lula se acentuar nas próximas pesquisas, o que considero provável, a convicção de Kassab se consolidará. Ele está negociando hoje, mas verá que, no fim das contas, só tem uma alternativa amanhã.

2. O Palácio dos Bandeirantes em 2026

RR: O sonho antigo de Kassab é governar o Estado de São Paulo. Ao menos desde os tempos em que foi prefeito de São Paulo. Apesar de o plano A de Kassab ser ele próprio o vice de Tarcísio em 2026, se cacifar e ‘depois dar o bote’, a maré virou e o Plano B pode se tornar a melhor opção.

Se Tarcísio bancar Kassab para o governo paulista, ele não precisa mais esperar outro mandato. E aí, a campanha Kassab governador com Tarcísio presidente deixa de ser um devaneio e vira um desenho bem concreto.

3. A fusão entre PSDB e PSD

RR: Caso esse movimento ocorra, pode e deve beneficiar Kassab. É o caminho natural dos partidos. Quem já fez esse movimento, está colhendo os frutos. Pequenos partidos estão ficando sem espaço. No Brasil de hoje, o jogo é claro: quanto maior o partido, mais ele cresce. O rio sempre corre para o mar. E o PSDB? Coitado. Esse já virou passado…

4. Bolsonaro e Tarcísio estarão juntos em 2026?

RR: Sem dúvida. Uma das possibilidades é Michelle Bolsonaro ser a vice de Tarcísio. Isso traria o público feminino, conservador, bolsonarista e evangélico. O vice precisa agregar — e nisso, ela manda bem. O único detalhe: acredito que ela preferiria ser senadora por Brasília. Teria que rolar um bom convencimento. Mas Tarcísio tem cartas na manga, caso venha. Uma vice do Nordeste, por exemplo, abriria ainda mais o jogo.

Apesar de toda força de Tarcísio, ele só se movimentará com a benção de Bolsonaro. Isso não deve atrapalhar o apoio de Kassab a Tarcísio.

5. As peças no tabuleiro de Kassab

RR: Kassab está mirando um ministério estratégico, onde pode ter influência direta sobre um tema quente, muito quente e altamente regulamentável. Paralelamente, está trabalhando para emplacar Rodrigo Pacheco como vice de Lula. Essa é a minha opinião.

O problema? A popularidade de Lula só tende a cair, e amarrar essa costura toda em uma narrativa coerente vai ser um desafio, até mesmo para Kassab.

Ratinho Jr. é um bom nome, mas com força apenas regional. No fim, parece mais um balão de ensaio do Kassab do que um projeto real. E a verdade é que nem o próprio Ratinho Jr. deve acreditar muito nisso.

Em resumo, se Lula mostrar força, Kassab exigirá um preço absurdo para manter o PSD ao seu lado. Mas se Tarcísio despontar, Kassab estará pronto para virar a página e moldar a candidatura mais competitiva da direita moderada.

Luan Sperandio Colunista
Colunista
Analista político e Diretor de Operações do Ranking dos Políticos, uma das organizações mais influentes do Congresso Nacional.