O clima seco do norte do Espírito Santo tem afetado a qualidade da produção de mamão. O aumento na proliferação de ácaros tem causado prejuízos e gerado preocupações entre os produtores. Os ácaros são responsáveis pelo amarelamento e necrose das folhas, o que leva à desfolha das plantas e prejudica o desenvolvimento das frutas. Esse cenário tem sido vivenciado pelo produtor Werlei Lorencine, em Sooretama, norte do estado, que teve cerca de 30% da plantação de 10 mil pés de mamão danificada. Mais detalhes no Programa Agro Business deste domingo
Produtores relatam prejuízos nas lavouras
Embora os ácaros sejam mais comuns durante os meses quentes e secos, neste ano, mesmo durante o inverno, a incidência da praga está sendo excepcionalmente alta nas lavouras, exigindo investimentos para o controle. Um dos produtores atingidos pelos ácaros é Werlei Lorencine, de Sooretama, no norte do estado, que relata a dificuldade em controlar a praga. “Após dificuldades, agora estou conseguindo controlar. Talvez a chuva dos últimos dias tenha ajudado um pouco, além da pulverização duas vezes por semana para o controle. De 10 mil pés de mamão, cerca de 30% das plantas já foram danificadas”, explicou Lorencine. O Espírito Santo é um dos principais produtores e exportadores de mamão, sendo que os municípios mais destacados são Pinheiros, Pedro Canário e Linhares. No entanto, a exportação para a União Europeia e os Estados Unidos demanda produtos de alta qualidade, sem resíduos químicos não autorizados ou acima dos limites permitidos. José Roberto Macedo Fontes, diretor-executivo da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Papaya (Brapex), também expressa preocupação. “Estamos percebendo há alguns meses a redução do volume e da oferta do mamão ao mercado. A principal preocupação é a redução do volume porque pode ter resíduos de defensivos nesses frutos que nos impede de exportá-los. Exportar um mamão hoje com resíduos químicos não autorizados ou acima do limite máximo permitido no mercado internacional, é um risco muito alto”, explicou. A safra do mamão ocorre de maio a outubro no Espírito Santo, e durante esse período, diversas variedades da fruta são cultivadas, com destaque para o mamão papaya e o formosa. No entanto, o plantio requer atenção especial aos cuidados com o controle de pragas e doenças. Renan Queiroz, pesquisador do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), destaca a presença dos principais ácaros que causam prejuízos na cultura do mamão. “O ácaro branco reduz a produção e compromete o rendimento esperado. Já o ácaro rajado, de maior tamanho, tem preferência por folhas mais velhas, causando raspagens na parte inferior, levando à necrose e queda das folhas, o que resulta em perda de área fotossintética e, consequentemente, de produção”, explicou. Segundo ele, em 2021 começou a ser observado um fenômeno inédito em que o ácaro rajado mudou de coloração para vermelho e passou a atacar folhas jovens, uma peculiaridade que tem intrigado os pesquisadores, que buscam entender as motivações desse comportamento. “Portanto, o monitoramento constante e o controle efetivo são essenciais para enfrentar esse desafio. Novas opções de combate à praga têm se mostrado promissoras no Brasil, e os produtores devem estar atentos ao foco inicial do ataque, para que possam agir rapidamente. O uso de acaricidas e produtos biológicos à base de fungos têm sido recomendados para combater a praga e preservar a produção”, concluiu o pesquisador. A Brapex também ressalta a importância de precaução para evitar que os ácaros desenvolvam resistência aos produtos utilizados pelos agricultores. “Existe a necessidade de um monitoramento constante para evitar sérios problemas, já que os ácaros possuem um ciclo de multiplicação rápido e demonstram resistência a alguns princípios ativos de produtos químicos”, finalizou o diretor-executivo, José Roberto Fontes.