Nos últimos meses, as altas nos preços globais do petróleo vêm afetando as cadeias de suprimentos ao redor do planeta, aumentando custos aos produtores e encarecendo produtos na ponta para os consumidores. No Brasil, por exemplo, ao juntar esse fator com a crise hídrica, os combustíveis e a energia elétrica já são os principais vilões para a alta acumulada da inflação oficial medida pelo IPCA, que acumula alta de 8,24% em 2021 e 10,67% em 12 meses. Mas como o preço do petróleo e dos combustíveis afeta diretamente o agro?

Aumento da demanda por biocombustíveis e pressão de custos

Com a elevação dos preços do petróleo, a gasolina e o diesel já acumulam altas de 41% e 37% na bomba para os consumidores, respectivamente. Nesse contexto, e por depender em ampla escala da matriz rodoviária, os custos de transporte de mercadorias e insumos aumentam consideravelmente para os produtores. Além disso, o “ouro negro” é uma matéria prima básica para a produção de fertilizantes, que tiveram aumentos de preços em mais de 100% neste ano, apenas de janeiro a setembro. Por outro lado, há um aumento na demanda por biocombustíveis, produzidos pelo agronegócio brasileiro em larga escala, principalmente por meio do milho e da cana-de-açúcar. Nesse sentido, o álcool e o etanol passam a ser saídas para os combustíveis mais “tradicionais”, pressionando os preços desses produtos. Na ponta, tanto o milho e a cana ficam mais caros, quanto todos os combustíveis em geral. Na prática, os produtores também incorrem em custos mais altos, fazendo com que a alta na demanda não necessariamente gere uma margem de lucro maior.

Quais são as expectativas para esse mercado ao longo dos próximos meses?

No fim de novembro, a Casa Branca coordenou com a China, Reino Unido, Índia, Japão e Coréia do Sul uma estratégia de reservas estratégicas de petróleo, com o objetivo de reduzir os preços no mercado internacional. Biden ordenou a liberação de 50 milhões de barris de petróleo das reservas estratégicas dos Estados Unidos, por exemplo. A decisão surge em um momento em que os preços nos postos de gasolina continuam subindo ao redor de quase todos os países ao redor do globo. Caso a medida seja efetiva, uma redução nos preços da commodity podem aliviar, de certa forma, os impactos sobre a economia internacional, nacional e sobre o agronegócio. Contudo, para de fato conter esses gargalos, o mundo deve esperar pela retomada dos níveis de produção de petróleo pré-pandemia.

Stefany Sampaio
Stefany Sampaio Colunista
Colunista
Stefany Sampaio revela o universo do agronegócio capixaba, destacando dados, histórias inspiradoras, produtores e os principais acontecimentos do setor.