As mulheres estão conquistando cada vez mais espaço em posições de liderança no agronegócio, seja na gestão de propriedades e empresas ou na produção rural. E quando se fala em representatividade feminina no setor, não faltam histórias de superação, conquistas e grandes resultados. Em celebração ao Dia Internacional da Mulher, comemorado neste 8 de março, conheça histórias inspiradoras de mulheres que fazem a diferença no agronegócio capixaba.
Segundo o Censo Agropecuário do IBGE, no Espírito Santo o número de estabelecimentos rurais liderados por mulheres saltou de 8.590 em 2006 para 14.661 em 2017, um aumento de 71% – bem acima da média nacional de 44%. Mesmo assim, os estabelecimentos geridos por mulheres ainda correspondem a apenas 13,61% do total.
No estado, a presença feminina é mais acentuada na produção de lavouras permanentes, onde 57% das mulheres atuam, seguida pela pecuária e criação de animais (24%), produção de lavouras temporárias (9%), horticultura e floricultura (8%) e produção florestal (1%). Além dessas, mulheres também se destacam nas atividades de aquicultura, pesca e produção de sementes e mudas certificadas.
Leonarda Plaster: da roça à liderança no agro capixaba
Um exemplo dessa transformação é a trajetória de Leonarda Plaster, presidente e sócia-fundadora da Coopginger. Nascida em Santa Leopoldina, Leonarda cresceu na roça e acompanhou a rotina agrícola desde a infância. Após trabalhar no campo até os 22 anos, ela se formou em Direito e se especializou em Direito Tributário, atuando em escritório por cinco anos.
Contudo, a paixão pelas raízes rurais a conduziu de volta ao campo, desta vez para encabeçar um projeto que buscava valorizar os produtores locais por meio do cooperativismo.
“A ideia da cooperativa representou um desafio grande e, ao mesmo tempo, uma realização pessoal. Nunca me senti tão realizada como com o projeto Coopginger. No início, era preciso conquistar a confiança dos produtores, o que demandou muito esforço, busca por informações e superação da burocracia”, relata Leonarda. Aos poucos, a Coopginger foi se firmando e hoje mantém relações internacionais, exportando para diversos países.
Para ela, a presença da mulher no agro não é apenas uma conquista, mas uma necessidade. “Elas possuem qualidades únicas, como atenção aos detalhes, persistência e resiliência. Na nossa cooperativa, a maioria dos cargos de liderança é ocupada por mulheres, que têm se mostrado verdadeiras guerreiras.”
Tatiani Andrião Zandonade: transformando o agro com inovação e resiliência
Tatiani Andrião Zandonade é a co-CEO da Zandonade Cafés Especiais e CEO da TAZ Gestão e Inovação Empresarial, com atuação dividida entre Vila Velha e Venda Nova do Imigrante, onde sua empresa de cafés está sediada. Formada em Engenharia de Petróleo pela Universidade de Vila Velha – com bolsa integral concedida por mérito da FAPES – Tatiani já demonstrava, desde os tempos de estágio na Petrobras, um talento para inovação, tendo desenvolvido uma metodologia que auxiliou na otimização da produção de poços de petróleo no Espírito Santo.
Após a graduação, Tatiani ingressou no Sebrae/ES como Agente de Inovação, onde sua atuação transformou a realidade de mais de 40 pequenas e médias empresas no interior do estado. Durante esse período, especializou-se em gestão e inovação, tendo sido eleita a melhor Agente de Inovação do Espírito Santo.
Em 2020, Tatiani decidiu empreender para valorizar o trabalho rural, um legado familiar que a inspirava desde a infância. Crescendo entre os campos de Venda Nova, onde ajudava seus pais nas lavouras, ela sempre enxergou no trabalho do campo uma fonte de dignidade e potencial. Com a Zandonade Cafés Especiais, Tatiani promove o café de alta qualidade, mas também fortalece o turismo rural e aproxima a tradição familiar das demandas do mercado internacional. Recentemente, fechou parceria com a Universidade Vila Velha para receber grupos estrangeiros, promovendo intercâmbios que evidenciam o potencial do agro capixaba.
Além de liderar seu próprio negócio, Tatiani atua como consultora, impulsionando outros empreendimentos rurais por meio de estratégias inovadoras que visam aumentar faturamentos e reduzir custos, tornando-os mais competitivos e sustentáveis.
Tatiele Dalfior Ferreira: uma Voz de transformação no café conilon
Tatiele Dalfior Ferreira é doutora em Engenharia Química, produtora de café e cooperada da Cooabriel, maior cooperativa de café conilon do Brasil, além de sucessora e gestora de uma tradicional propriedade familiar em Governador Lindenberg, Espírito Santo.
Desde cedo, Tatiele se envolveu na organização e na gestão da propriedade, situada na região do Córrego Oriente, onde sua família construiu uma história marcada pela cultura do café – inicialmente arábica, e a partir dos anos 70, predominantemente conilon.
A herança familiar, iniciada pelos pioneiros José Leoncio Ferreira e Amabile Pedrini, ganhou novas dimensões com a gestão de seu pai, que multiplicou o patrimônio em seis vezes e ajudou inúmeros meeiros a conquistar a própria terra. Mesmo tendo trilhado uma carreira acadêmica e profissional paralela – incluindo uma passagem por Campinas como professora e pesquisadora – Tatiele nunca perdeu o senso de responsabilidade pela propriedade e sempre se envolveu ativamente na gestão desde os 13 anos.
Com o retorno à roça em 2020, durante a pandemia, Tatiele intensificou sua imersão no cultivo e na melhoria dos processos voltados para a qualidade do café conilon. Essa busca por excelência a levou a participar do projeto “Conilon Origem Singular”, coordenado pelo LAPC no IFES-Venda Nova do Imigrante e apoiado pela Cooabriel. As mudanças implementadas no pós-colheita resultaram em uma expressiva melhora na qualidade do produto, culminando no reconhecimento nacional em 2021, quando a propriedade recebeu o 18º Prêmio ABIC de Qualidade de Café.
Até conquistar o prêmio Mulheres do Agro, em 2020, promovido pela Bayer e ABAG, Tatiele não se via plenamente como uma mulher atuante no setor. Para Tatiele, a atuação feminina no agro exige uma postura de resiliência, criatividade e planejamento – características que, segundo ela, permitem às mulheres conquistar seu espaço de forma única.
Renata Erler: força feminina na revolução da pecuária
Natural de Santa Teresa e filha de produtor rural, a zootecnista Renata Erler acumula 20 anos de atuação e se destaca no cenário nacional com o método de gestão “Pecuária 360º”. Desde a infância, envolvida na criação de bovinos e no cultivo de café e tomate, Renata sempre teve o campo como referência. Ainda adolescente, ela já tinha a certeza de que sua carreira seguiria os caminhos do meio rural.
Aos 21 anos, ao se formar em Zootecnia, iniciou sua trajetória como assistente técnica em uma empresa de nutrição animal. Em um ambiente predominantemente masculino, teve que conquistar seu espaço, enfrentando o desafio de bater de porta em porta nas fazendas. “Muitos não me ouviam por ser muito nova. Mas, com o tempo, homens que acreditaram no meu trabalho abriram o caminho junto comigo”, relembra a especialista.
Após adquirir experiência em multinacionais, Renata migrou para o empreendedorismo. O trabalho de assessoria, que começou aos fins de semana e feriados, ganhou força durante a pandemia e impulsionou o crescimento da sua empresa de consultoria. A proposta de Renata é transformar fazendas em negócios rentáveis e eficientes, convertendo produtores rurais em empresários. “Uma fazenda é um negócio multidisciplinar. Qualquer ajuste em um setor afeta todos os outros. Por isso, é essencial entender essas interações para fazer os ajustes corretos”, explica.
O método “Pecuária 360º”, desenvolvido por Renata, já aumentou o lucro de algumas fazendas em até 10 vezes, sem a necessidade de novos investimentos, apenas com a otimização dos processos já existentes. Seu trabalho não se restringe às fronteiras do Brasil: consultorias na África, em fazendas de gado de corte em Angola, ampliam sua influência internacional. Em 2024, a Associação Brasileira de Zootecnistas (ABZ) a elegeu como a zootecnista mais influente do ano para o agronegócio.