Celebrado nesta segunda-feira (14), o Dia Mundial do Café homenageia um grão que carrega grande valor cultural, econômico e afetivo. No Espírito Santo, onde o café é parte essencial da identidade local, o cooperativismo tem sido um importante motor para o desenvolvimento da atividade. Atualmente, o estado conta com 23 cooperativas do ramo agropecuário, responsáveis por movimentar R$ 5,8 bilhões em 2023, de acordo com a OCB/ES. Essas cooperativas atuam em diferentes frentes, como extrativismo, agroindústria, aquicultura e pesca, com destaque para organizações como Cooabriel, Coocafé e Cafesul.
Em Nova Venécia, no norte do estado, a trajetória da família Rigato mostra como o cooperativismo pode transformar vidas. As irmãs Vânia e Lidiane Rigato cresceram entre os cafezais, aprendendo desde cedo com o pai, Hermídio Rigato — produtor rural e um dos primeiros cooperados da Cooabriel.
A história das irmãs que continuam o legado do café em Nova Venécia
Seu Hermídio começou a vida com poucos recursos. Foi meeiro, vendeu laranjas no comércio da cidade e, aos poucos, construiu seu patrimônio por meio da lavoura de café. Acreditava na força coletiva e sempre defendeu o cooperativismo como caminho para o fortalecimento do produtor.
Há cerca de dez anos, ele presenteou as filhas com uma propriedade de 46 hectares, dos quais 30% são dedicados ao cultivo de café. Após o falecimento repentino do pai, em 2023, as irmãs assumiram de vez os negócios da família. Lidiane, zootecnista, deixou a capital e voltou para o interior. Já Vânia concilia a carreira de professora com o trabalho na lavoura.
“Ele era os nossos olhos e braços nas propriedades. Muito ativo, mesmo com 75 anos, tomava conta de tudo. Quando ele se foi, a gente teve que se reinventar”, conta Vânia.
Toda a produção das irmãs é destinada à Cooabriel, que oferece assistência técnica, armazém e loja de insumos. “O que mais valorizamos é essa segurança. Podemos armazenar o café com tranquilidade e contar com apoio técnico para melhorar cada vez mais”, destaca Lidiane.
Juntas, elas têm investido em práticas sustentáveis e na expansão da lavoura. Recentemente, prepararam o solo para o plantio de 13 mil mudas e adotaram soluções como energia solar, reflorestamento, uso racional de defensivos e tecnologias para aumentar a produtividade. As propriedades também são certificadas pelo programa de sustentabilidade da Nestlé, que reconhece boas práticas ambientais e sociais.
“O momento de investir é agora, porque o preço está bom. Mas as pessoas nem sempre entendem que é justamente nesses períodos de alta que o produtor se prepara para o futuro”, explica Vânia.
Mais do que tocar um negócio rural, elas querem seguir os valores deixados pelo pai: prosperar junto com outras famílias e cuidar da terra com responsabilidade. A história das irmãs é um exemplo da renovação constante na cafeicultura e do papel fundamental do cooperativismo nesse processo.
A Cooabriel, maior cooperativa de café conilon do Brasil, com sede em São Gabriel da Palha, teve faturamento superior a R$ 2,57 bilhões em 2024 e reúne mais de 8.100 cooperados. O presidente Luiz Carlos Bastianello explica que a cooperativa tem investido na melhoria da qualidade do café como estratégia para agregar valor, estimular o consumo e abrir novos mercados.
“É importante que os produtores trabalhem continuamente em busca dessa qualidade, para que se tenha como resultado um produto industrializado com maior valor agregado. Isso pode representar não apenas garantia de mercado, mas também uma remuneração justa. A própria cooperativa conta com uma indústria, que, embora não seja de grande porte, representa um sinal claro da importância de se investir na industrialização, mas tendo sempre em vista a qualidade do café”, destacou Bastianello.
Desde 2023, a Cooabriel conta com uma planta industrial em São Domingos do Norte, com capacidade para industrializar todo o Café Guardião — marca própria da cooperativa — e também oferecer serviços de torrefação para seus cooperados.
Cooperativismo agro impulsiona o interior capixaba
As cooperativas agropecuárias têm se consolidado como aliadas do desenvolvimento regional. No Espírito Santo, o setor cooperativista movimentou R$ 14,8 bilhões em 2023, sendo R$ 5,8 bilhões provenientes das 23 cooperativas agropecuárias — crescimento de 32% em relação ao ano anterior.
O número de cooperados do agro também cresceu, passando de 38.359 para 40.784, com a adesão de mais de 2,4 mil novos associados. No total, o setor emprega cerca de 2,8 mil pessoas no estado.
Na cafeicultura, os impactos são ainda mais visíveis. As cooperativas foram responsáveis por 24% da comercialização de café verde no Espírito Santo em 2023, movimentando mais de 2,7 milhões de sacas. No comércio exterior, o desempenho também impressiona: cafés das cooperativas capixabas chegaram a mais de 27 países, com exportações que somaram R$ 87,9 milhões.
Carlos André Santos, diretor-executivo da OCB/ES e vice-presidente do Sebrae/ES, ressalta que o cooperativismo oferece melhores condições de comercialização, promove inclusão e sustentabilidade. “Quando o campo se organiza, os resultados aparecem — em produtividade, qualidade e geração de renda. Com união e inovação, colhemos frutos com sabor de café”, afirma.
“No Espírito Santo, o cooperativismo mostra que, quando o campo se organiza, os resultados aparecem — em sacas, prêmios e fortalecimento da economia. Com inovação, união e foco no futuro, o estado colhe frutos de excelência, com sabor de café”, disse Carlos André.
A força do crédito cooperativo
O Sicoob Espírito Santo, que nasceu no fim dos anos 1980 da iniciativa de produtores rurais em busca de crédito, se tornou um dos grandes apoiadores do agro capixaba. No Plano Safra 2023/2024, foram liberados R$ 2,8 bilhões. Para a safra atual, a meta é chegar a R$ 3,8 bilhões, atendendo mais de 20 mil associados.
A cooperativa tem registrado aumento expressivo na procura por crédito, especialmente para renovação de lavouras, investimentos em tecnologia, adoção de práticas sustentáveis e industrialização de produtos. Esses financiamentos fortalecem toda a cadeia produtiva e geram valor agregado.
Diferente dos bancos tradicionais, o Sicoob Espírito Santo tem dois grandes diferenciais: a capacidade de fazer os recursos de seus associados circularem dentro da própria região de atuação e a obtenção de recursos de fora da região para aplicação na comunidade onde está inserido. Um exemplo disso são os repasses do BNDES e do Funcafé.
“Atuamos como repassadores do Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé) e, nas últimas dez safras, fomos o maior repassador do Espírito Santo, o que reforça a importância do café para a economia capixaba e a participação ativa do Sicoob no financiamento desse segmento essencial”, destaca Eduardo Ton, gerente de Crédito e Agronegócio do Sicoob ES.
Ele acrescenta que o crédito rural é uma ferramenta estratégica que permite aos produtores executarem seus planos, expandirem e consolidarem seus negócios, promovendo maior competitividade, sustentabilidade e qualidade de vida no agronegócio capixaba.