Café Lindenberg é um empresário capixaba que, apesar da relevância, raramente dá entrevistas. Mas se desejasse visibilidade, estaríamos cansados de vê-lo na mídia– como ele mesmo diz. Afinal, trata-se do diretor-geral da Rede Gazeta. De forma especial, Café aceitou o convite do Podcast Digaí*, novo canal de conteúdo parceiro do Folha Business, para falar sobre temas como fake news e os desafios do modelo de negócio do jornalismo. Os principais destaques do bate-papo você confere a seguir.
Ouça no Spotify o podcast Digaí com Café Lindenberg
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“O modelo de negócio do jornalismo está sob ataque”, diz Café Lindenberg
Digaí: Na sua visão, a revolução digital traz mais ou menos liberdade na comunicação? Café Lindenberg: Como tecnologia, o digital é uma ferramenta que pode aumentar ou diminuir o grau de liberdade na comunicação. No início dessa revolução digital que vivemos atualmente, pensávamos que era para ampliar as liberdades de uma sociedade que acredita em valores democráticos. Mas o que se percebe é que, em função do poder que o digital e as redes sociais deram ao indivíduo, criou efeitos não planejados que são limitadores. As bolhas em que as pessoas se relacionam limitam a liberdade de pensamento, pois as pessoas ficam mais fechadas em suas ideologias e não se relacionam com as outras. Digaí: Como as fake news têm impactado o jornalismo? Café Lindenberg: Fake news é um fenômeno que sempre existiu. Antigamente, existia na figura da imprensa marrom, canais menores e de vida curta que surgiam para disseminar inverdades e geralmente estavam ligados a interesses políticos. Com o advento das redes sociais e o alcance que o indivíduo passa a ter, as fake news ganharam uma velocidade de distribuição maior. Em reação a isso, surgem mecanismos como agências de checagem e movimentos do próprio jornalismo profissional, feito com técnica. Digaí: Como foi o fim da edição impressa dos jornal A Gazeta? Café Lindenberg: Substituímos a edição diária impressa por uma edição diária digital. Vejo grande importância na edição diária pois funciona como uma resenha daquele dia. A navegação no site é infinita, enquanto a edição tem uma curadoria. Eu já leio o digital há bastante tempo e prefiro ler o digital. Muitos leitores sentiram saudades e até mesmo raiva do fim da edição impressa porque ela fazia parte do cotidiano. Mas essa transição para o digital é algo inexorável. O processo de produção física de um jornal impresso é muito ineficiente, porque o jornal tem a vida curta e a cadeia de produção do papel e impressão do jornal é longa. Digaí: Qual a principal mudança na forma dos canais de mídia se monetizarem? Café Lindenberg: Os jornais vivem um problema dramático de modelo de negócio. A maneira como eles ganharam dinheiro para chegar onde estão hoje não é mais viável. O dinheiro vinha de anúncios classificados, que tinham grande rentabilidade. O modelo de negócio do jornalismo está sob ataque e não é um modelo definitivo. Estamos na transição de um modelo de negócio baseado em publicidade para um formato com múltiplas fontes de renda.