Se hoje vemos a economia do Espírito Santo como aberta e globalizada, capaz de atrair indústrias e mega-empreendimentos como o Porto Imetame, temos que lembrar que nem sempre o estado foi assim. Há 50 anos, a economia capixaba era pouco industrializada. A chegada da Vale e do Porto de Tubarão em Vitória, idealizados por Eliezer Batista, foi uma grande virada de chave para o modernização do estado. A partir dela é viabilizada a passagem de uma economia sob o protagonismo de uma agricultura de baixa produtividade, para uma economia industrial urbana globalizada.
A Vale em números
“Não sou muito de hiperbolismo tropical, mas Tubarão foi a maior revolução da navegação mundial” — Eliezer Batista, ex-presidente da Vale, em depoimento sobre os 60 anos da empresa
- 82,3 milhões de toneladas de de minério de ferro foram exportadas em 2023
- US$ 100 milhões foi o custo do Porto de Tubarão, finalizado em 1966
- R$ 14,1 bilhões foi o faturamento da Vale no Espírito Santo em 2022
- A Vale representa em torno de 10% da economia capixaba
- R$ 290 bilhões é o valor de mercado da Vale na bolsa
Nos anos 60, Vale integrou mina, ferrovia, porto, navegação e vendas no ES
Orlando Caliman | A relevância do papel da Vale no desenvolvimento do Espírito Santo foi e ainda é relativamente bem maior do que nacionalmente. É a partir dela que é viabilizada, por exemplo, a passagem de uma economia sob o protagonismo de uma agricultura de baixa produtividade, fundada quase que exclusivamente no café, para uma economia industrial urbana globalizada. Essa relevância, é importante ressaltar, vai muito além das dimensões da empresa frente a um contexto relativamente pequeno representado pela economia capixaba. Afinal, se computarmos impactos diretos, indiretos e induzidos, estes últimos decorrentes dos efeitos provocados pela massa de renda gerada, chegaremos a um percentual no entorno de 10%, e em algumas ocasiões acima desse patamar. A Vale, historicamente mais conhecida como CVRD, surgiu em 1942, que valendo-se do trinômio logístico mina, ferrovia e porto fez do Espírito Santo seu elo de conexão e comunicação com o mundo. Numa leitura histórica, tornando realidade o sonho de Muniz Freire, que no final do século XIX, então governador, projetava um Espírito Santo além do café, diversificado economicamente e conectado ao mundo por portos e ferrovias. Um Espírito Santo cosmopolita. No entanto, objetivamente, a maior contribuição da Vale no desenvolvimento da economia capixaba acontece a partir da década de sessenta. Mais precisamente com a construção do Porto de Tubarão, projeto finalizado em 1966. E é quando entra mais decisivamente Eliezer Batista enquanto seu idealizador e artífice. Aliás, um projeto que acabou provocando uma verdadeira revolução na logística transoceânica, conectando portos de águas profundas por meio de grandes navios com capacidade de carga acima de 400 mil toneladas. Em verdade, considero Tubarão como o marco divisor que faz a passagem para a industrialização e globalização da economia capixaba. A partir desse marco a economia capixaba ganha escala, e escala global, além de ampliar seus horizontes de oportunidades de desenvolvimento.
- “Foi lá, nos anos 1960, que esse visionário lançou as bases da Vale moderna ao criar o inédito sistema que integrou mina, ferrovia, porto, navegação e vendas. Transformou, assim, uma pequena mineradora, que produzia cinco milhões de toneladas de minério de ferro por ano, em uma grande empresa capaz de atravessar o planeta e levar, com eficiência, nosso produto aos clientes japoneses, conquistando novos mercados. Mas, para isso, foi preciso construir a Unidade de Tubarão, um porto de águas profundas para receber navios de mais de 150 mil toneladas que ele próprio inventou” – Eduardo Bartolomeo, presidente da Vale