Uma pesquisa realizada no Espírito Santo está analisando diferentes cultivares de café arábica, contando com o apoio da iniciativa privada para garantir o fornecimento de adubos desde o plantio até a fase final de produção. O projeto, iniciado em 2019, tem a participação da Natufert, empresa de Ibatiba especializada em fertilizantes de alto desempenho com base orgânica. Na implantação de cafezais, a escolha da cultivar é fundamental para alcançar altas produtividades e garantir a longevidade da lavoura.
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Iniciativas buscam aumentar a produtividade e a qualidade do café capixaba
Em parceria com o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), o estudo busca entender o comportamento de 10 cultivares em diversas regiões do estado, considerando fatores como altitude e condições climáticas. O objetivo é avaliar a produtividade dessas variedades em sistemas de cultivo convencional e orgânico, fornecendo informações valiosas para os cafeicultores capixabas.
Otávio Araújo, coordenador técnico da Natufert, explica que a pesquisa avalia a produtividade e o comportamento de cada cultivar em diferentes tipos de solo e clima, sempre utilizando fertilizantes específicos para o manejo das lavouras.
“Essas pesquisas são fundamentais porque o cultivo de café é cíclico e precisa ser acompanhado ao longo dos anos para gerar resultados consistentes. Os dados coletados incluem produtividade e qualidade do grão, permitindo identificar quais cultivares se adaptam melhor a cada região”.
Um dos grandes diferenciais desse projeto é a proximidade com a realidade do produtor rural. “O agricultor cede a área e executa o manejo da lavoura, garantindo que a produtividade alcançada reflete as condições reais do campo”, destaca Araújo.
A Natufert contribui com o desenvolvimento do projeto fornecendo toda a adubação necessária, do plantio à colheita. Segundo Araújo, a iniciativa busca traçar um perfil do potencial produtivo e da qualidade da bebida das principais cultivares no estado.
“Cada região tem características únicas, como volume de chuvas e altitude, que influenciam diretamente no desempenho das plantas. Nosso objetivo é identificar quais cultivares se desenvolvem melhor em cada área, algo inédito no Espírito Santo.”
Cultivares e Unidades Experimentais
As cultivares de café arábica avaliadas no projeto são: Catucaí Vermelho 785/15, Catucaí Amarelo 2SL, Catucaí Amarelo 24/137, Catuaí Vermelho IAC 44, Catiguá MG2, IPR 103, Arara, Acauã Novo, Tupi e Japi.
Ao todo, já foram implantadas 13 unidades experimentais nos municípios de Mantenópolis, Alto Rio Novo, Santa Teresa, Santa Maria de Jetibá, Afonso Cláudio, Venda Nova do Imigrante, Conceição do Castelo, Brejetuba, Guaçuí e Dores do Rio Preto (onde há duas unidades).
Duas dessas unidades, localizadas em Santa Maria de Jetibá e Domingos Martins, adotam o cultivo orgânico. As demais seguem práticas agrícolas convencionais.
Os resultados da pesquisa são divulgados em eventos como o Congresso Brasileiro de Pesquisas Cafeeiras, além de servirem como base para recomendações técnicas a extensionistas e orientações aos produtores.
“Também realizamos dias de campo para apresentar os resultados aos cafeicultores. Dessa forma, eles podem visualizar na prática como o manejo nutricional correto influencia no desempenho da lavoura e na qualidade do café”, conclui Otávio.
A Natufert atende os estados do Espírito Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e sul da Bahia. Atualmente, a empresa está com um investimento em andamento de R$ 7 milhões para expandir sua área fabril, com o objetivo de dobrar a capacidade produtiva para 50 mil toneladas de fertilizantes nos próximos cinco anos.
Confira alguns resultados das pesquisas:
Os resultados apontam variações significativas na produtividade e na qualidade do café entre as diferentes cultivares avaliadas. Confira alguns destaques:
- Mantenópolis: Das 10 cultivares analisadas, seis apresentaram produtividade média superior a 41,4 sacas por hectare, com alta resistência à ferrugem e vigor elevado: IPR-103, Catucaí 785-15, Arara, Japi, Acauã Novo e Catucaí Amarelo 2SL. Além disso, houve diferenças de até 228% na peneira do tipo chato graúdo entre as cultivares.
- Santa Teresa: As maiores produtividades médias (considerando duas safras) foram registradas para as cultivares Arara, IPR-103, Acauã Novo, Tupi, Catucaí Amarelo 2SL, Catucaí 785-15 e Japi. Houve resistência total ou parcial à ferrugem. As diferenças na peneira chato graúdo chegaram a 41%.
- Afonso Cláudio: As cultivares Catucaí Amarelo 24/137 e Catucaí Amarelo 2SL se destacaram, com produtividade elevada e resistência parcial à ferrugem. A variação na peneira chato graúdo atingiu 55%.
- Venda Nova do Imigrante: As cultivares Catucaí Amarelo 24/137, Catuaí Vermelho IAC 44, Tupi, Arara e Catucaí Amarelo 2SL apresentaram alto vigor, com diferenças de até 343% na peneira chato graúdo.
- Conceição do Castelo: Cultivares como Acauã Novo, Japi, IPR-103, Tupi e Catucaí Amarelo 2SL registraram produtividades entre 57,1 e 62,2 sacas/ha, com diferenças de até 38% na peneira chato graúdo.
- Guaçuí: Destaque para Catucaí Amarelo 24/137, Catucaí Amarelo 2SL, Tupi, Catuaí Vermelho IAC-44 e Arara, com variações de até 102% na peneira chato graúdo.
- Santa Maria de Jetibá: As cultivares Catucaí Amarelo 2SL, IPR 103, Catucaí Amarelo 24/137 e Japi tiveram as maiores produtividades em duas safras, com diferenças de até 93% na peneira chato graúdo.
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