Meses atrás publicamos algumas notícias informando a realidade dos produtores capixabas no período de estiagem prolongada, bem como os seus problemas e prejuízos. Os resultados: os pastos estavam totalmente secos e muitos animais estavam morrendo de fome e sede. A situação começou a mudar nos últimos meses após o retorno das chuvas. Para muitos produtores rurais que trabalham com pastagens, a chegada da chuva é sinônimo de recomeço, pois assim é possível ter uma disponibilidade maior de capim à disposição do gado. No entanto, nos últimos dois meses do ano o cenário que presenciamos no Espírito Santo foi de muita chuva, enchentes, estradas interditadas, propriedades alagadas, rompimento de barreiras, entre outros acontecimentos em decorrência do excesso de chuvas. Acompanhe Agro Business no Instagram

Fim de ano marcado por chuva acima da média

No Espírito Santo, o mês de novembro de 2022 foi marcado pelo volume de chuvas acima da média. Os sites de meteorologia alertaram que o estado capixaba recebeu um dos maiores acumulados de chuva do país. A média de chuva em novembro varia entre 220 a 260 milímetros, calcula o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), mas choveu mais do que o previsto – entre 200 a 400 mm nos municípios. Como continuou chovendo durante o mês de dezembro, as propriedades ficaram alagadas por mais tempo porque o solo já estava encharcado devido às chuvas anteriores. Vale destacar que o agronegócio vive um momento desafiador por conta das mudanças climáticas. Em determinado momento as plantações são afetadas com fortes chuvas, geadas, ventanias e em outros com extensas estiagens. Há alguns meses a seca estava gerando impactos negativos na agropecuária, além da falta de alimentação adequada para o gado e prejuízos para os produtores com a estiagem. O excesso de chuvas e alagamentos prejudicam a produção e a colheita das frutas, verduras e hortaliças. Nesse período, o produtor Luiz Antônio Galavotti, do município de Linhares, estima que os prejuízos em suas plantações de café, mamão, coco e cacau ultrapassaram mais de R$ 1 milhão. Além de perder boa parte da produção agrícola, a pecuária de gado de corte e leite foi afetada. O gado precisou ser retirado às pressas da propriedade para ser enviado para um local mais seguro. Ele projeta que 70% dos pastos ficaram comprometidos por conta do volume de água. “Com excesso de água acumulada, o gado ficou sem ter para onde ir. Eu fui obrigado a retirar o gado e levar para a parte mais alta da fazenda. Isso sem contar o estresse que o animal passa, o gado de leite é pior ainda porque é um animal mais fraco por ser da raça holandesa. O bezerro também requer uma atenção bem maior”, destacou Galavotti. No artigo publicado na revista Conexão Safra, com o título “A chuva tão esperada que matou o pasto do capixaba”, a especialista em Gestão Pecuária de Corte e Leite, Renata Erler, explica qual é o caso de maior preocupação pela perda do capim. “É quando identificamos visualmente a lâmina de água acima do capim. É preciso ter atenção, pois o pisoteio do gado, o trânsito de máquinas, a chuva no solo descoberto ou em pastos de final de seca muito rebaixados comprometem a capacidade de drenagem no solo por causa da compactação, deixando esse pasto mais suscetível a períodos mais frequentes e mais intensos de encharcamento, provocando enfraquecimento e até morte do capim em áreas que normalmente não tinham esse problema”, ressaltou Renata Erler.

Especialista explica

Segundo a especialista, as principais causas dos problemas em áreas que sofrem com o encharcamento são: “os espaços porosos do solo ficam saturados com água e as raízes de plantas não adaptadas não conseguem obter oxigênio necessário para sua respiração, o que debilita a planta, fazendo que abaixe a resistência a doenças e provoque a morte”. Renata Erler avalia que para entender a situação é preciso ficar atento à realidade da área, o tipo de solo, o clima da região, a frequência e a permanência do alagamento na área para definir qual capim será plantado. “Dentre as opções, é melhor escolher os que apresentam maior resistência ao encharcamento, evitando reformas futuras. Para que não ocorra perda em momentos de muita chuva, é importante consultar um profissional capaz de definir o capim correto para a realidade da fazenda e estabelecer os protocolos de manejo de pastagem que garantam o resultado”.

Stefany Sampaio
Stefany Sampaio Colunista
Colunista
Stefany Sampaio revela o universo do agronegócio capixaba, destacando dados, histórias inspiradoras, produtores e os principais acontecimentos do setor.