Com as finanças em frangalhos, o Barcelona anunciou a saída de Lionel Messi do clube. Com a folha salarial do time representando 110% das receitas anuais, mesmo com o atleta disposto a cortar mais da metade de seu salário, não há condições do time catalão de mantê-lo em virtude de obstáculos econômicos e estruturais. E, nesse contexto, a saída do craque argentino pode trazer algumas lições importantes sobre economia e política para os governantes brasileiros. Acompanhe mais análises de cenário político e econômico em meu Twitter e no Instagram.

O que aconteceu com o Barcelona?

Muito prejudicado pela pandemia, o Barcelona viu sua receita despencar por um lado, e as despesas com folha salarial subirem por causa de contratos mal formulados com diversos jogadores. Com o time precisando reduzir sua folha salarial para não ultrapassar o limite imposto pela La Liga (a liga do Campeonato Espanhol), ficou inviável não apenas a permanência de Messi, mas de outros atletas no time, o que deve enfraquecê-lo esportivamente. A atual gestão do clube informou ainda que, administrações passadas deixaram um rombo orçamentário muito maior do que o projetado inicialmente: as auditorias realizadas descobriram dívidas e compromissos financeiros que somam mais do que o dobro da expectativa, um déficit anual de 490 milhões de euros. Há uma relação forte em médio e longo prazo entre gestão financeira e competitividade esportiva. Assim, o clube precisará se reestruturar financeiramente a fim de manter-se competitivo esportivamente. Números que nem os quase 700 gols e 35 títulos conquistados por Messi com o clube foram capazes de mantê-lo. Paralelamente, no Brasil o Cruzeiro vive um momento muito similar, tendo gastado muito mais do que poderia, amargando um rebaixamento para a Série B e desportivamente bem menos competitivo do que o tamanho do clube historicamente sugere. O exemplo oposto é do Flamengo, que se reestruturou no início da década e alcançou um patamar financeiro que pode investir em um time recheado de estrelas de forma sustentável. Não à toa, enfileirou títulos nas últimas temporadas. E, antes que o leitor me julgue parcial, torço para o rival Fluminense, cuja gestão pós-Unimed prejudicou por muito tempo o time em campo.

O que o Barcelona ensina ao governo e sociedade brasileira?

Desde 2014 o governo federal brasileiro não consegue gastar menos do que arrecada. Essa crise fiscal foi o que causou a grande recessão brasileira entre 2014-2016, enquanto o mundo todo crescia economicamente. Para superar isso, foi criada a regra do Teto de Gastos, dando confiança aos indivíduos, agentes de mercado e investidores na estabilidade do país. Isso possibilitou o Brasil viver uma retomada econômica, temporariamente interrompida em virtude da pandemia, e que já voltou, graças ao respeito à regra do teto. Apesar disso, há muitas pressões para o governo brasileiro gastar mais, rompendo com a barreira do teto de gastos, especialmente até 31 de agosto, data em que precisa ser aprovada a LDO de 2022, que compõe regras orçamentárias. Vale ressaltar que é um erro pensar que a irresponsabilidade com as contas públicas é uma forma de beneficiar os mais vulneráveis e menos favorecidos. Muito pelo contrário: a solidez fiscal é que permite a expansão dos programas sociais e dos gastos que beneficiam os mais pobres. Diante da crise em 2014, houve corte de mais de 90% dos programas sociais do governo federal em 2015, por exemplo. A lição retirada do Flamengo aos políticos e sociedade brasileira é que um ajuste fiscal traz benefícios de longo prazo. Já o ensinamento do Barcelona e do Cruzeiro é que endividamento e descontrole orçamentário te fazem perder grandes oportunidades, até mesmo um dos melhores jogadores da história.

Luan Sperandio Colunista
Colunista
Analista político e Diretor de Operações do Ranking dos Políticos, uma das organizações mais influentes do Congresso Nacional.