Orlando Caliman: as boas surpresas da economia capixaba

Tenho reiteradamente dito que a economia capixaba nos últimos 10 anos tem apresentado sintomas de baixa tração. Isso em razão da redução do que poderíamos denominar de força inercial da base industrial, vinculada principalmente à produção de commodities, cujo peso relativo mostra-se bem mais alto do que a média nacional. E esse baque na força de tração muito provavelmente tem por origem preponderante a diminuição do peso relativo do capital físico – CAPEX – das grandes empresas produtoras de commodities.

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Não que investimentos não tenham ocorrido, mas sim que estes se limitaram a adequações tecnológicas e modernizações nas suas operações. Pouco, no entanto, em efetivo aumento de capacidade produtiva. À exceção da celulose, que vem gradativamente avançando na verticalização para a frente. Ou seja, num processo de agregação de valor com diversificação e sofisticação em termos de tecnologia.

Num olhar para o futuro, porém, temos que pensar em novas fontes de tração. Necessariamente não apartadas da base produtiva atual. Até ao contrário, emergindo desta, numa estratégia de diversificação e sofisticação tecnológica a partir e com as próprias bases da grande indústria. Assim como na década de 80 optou-se pela estratégia de diversificação da agricultura com o café. Os resultados já sabemos.

Mas, observando em mais detalhes o que vem acontecendo na economia capixaba nos últimos 10 anos, podemos identificar avanços interessantes. Sem dúvida, frutos de uma política de desenvolvimento pautada na diversificação, na inovação e na construção de bases mais atrativas e competitivas.

Para ilustrar a afirmação, fixo-me apenas na avaliação de atividades agrupadas em três segmentos – divisões do CNAE (Classificação Nacional de Atividades Econômicas, do IBGE): Pesquisa e Desenvolvimento Científico; Fabricação de Veículos Automotores, Reboques e Carrocerias; e Educação. Para tanto, faço uso de dados de emprego – RAIS (Relatório Anual de Informações Sociais).

No caso da Pesquisa e Desenvolvimento Científico, o emprego no Espírito Santo cresceu 146% entre 2016 e 2022. Um diferencial de 84% em relação ao crescimento nacional no indicador de Competitividade. E mais, com a especialização, que mede a proporção do emprego no estado com a do país, passando de 1,2 para 2,4. Ou seja, emprega 2,4 vezes mais. 

Na fabricação de veículos, refletindo a nova indústria no Norte do estado, o diferencial de crescimento atingiu 200% no mesmo período. E na Educação, que é a base de novas fontes de tracionamento, o diferencial nacional chegou a 49%, com o grau de especialização de 1,4.

O que esses números nos mostram e ensinam, além do que representam em termos de funcionarem como portadores do novo, é que olhares e preocupações com os grandes números tendem a ofuscar olhares que podem ir para além das aparências.

*Orlando Caliman é economista, ex-secretário de Estado do Espírito Santo e diretor econômico da Futura Inteligência

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