Orlando Caliman: as evidências do novo ciclo da economia capixaba

No meu artigo anterior, abordei a possibilidade de já estarmos num novo ciclo da economia capixaba. Sem me ater ao conceito clássico de ciclos econômicos – que, aliás, não vem ao caso pelo fato de estarmos tratando de uma economia subnacional -, vale denominá-lo de terceiro ciclo, ante os dois anteriores: o do café e o da grande indústria.

Resta-nos expor o novo por meio de algumas evidências. E estas não são tão poucas. No geral é inegável que temos uma economia hoje mais diversificada, mais internacionalizada, e por consequência também mais complexa. Não ainda numa complexidade desejável e disseminada por todo o tecido produtivo.

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Mas, o que significa complexidade econômica?

Resumidamente, duas variáveis entram na composição do que aqui estamos caracterizando como complexidade econômica: a diversidade e a ubiquidade. A diversidade diz respeito a quantidade de produtos que se está produzindo. Quanto mais produtos são produzidos, melhor. Mas o que importa é que na diversidade possam ser produzidos produtos que poucos os produzem.

Assim, se um determinado país consegue produzir uma grande variedade de produtos – diversificação – e, dentre estes, também produzir uma quantidade razoável de produtos que poucos o produzem – menos ubíquo -, diz-se que este tem uma economia mais complexa e mais competitiva. E no segundo caso, são produtos que incorporam mais conhecimento – ciência – e know-how – tecnologia.  São os elementos que caracterizam o novo ciclo da economia capixaba.

No Espírito Santo já são percebidos movimentos, naturalmente ainda não disseminados como desejado, mas que apontam para uma maior complexidade da economia, conjugando diversidade, ciência, tecnologia e inovação. De outro ângulo de percepção, estamos gradualmente agregando novas capacidades e competências. Precisamos ter, agora, velocidade.

Mas, onde podemos identificar essas novas frentes de capacidades e competências?

Comecemos pelo que temos de mais autêntico e identitário: os cafés e o cluster do mármore e granito. No primeiro caso os cafés arábica e conilon. Temos muitos países que produzem, porém não com tanto conhecimento – ciência – e tecnológica – “know-how” incorporados. São produtos menos ubíquos, por consequência mais competitivos, nesse aspecto.

No caso de rochas ornamentais, temos aí o nosso mais completo, diversificado e internacionalizado arranjo produtivo. E esse avanço não acontece por acaso, mas sim, sobretudo, por um processo de incorporação de novas tecnologias, de inovação que se estende às suas cadeias de suprimento.

Mas, saindo do que nos é mais próprio e identitário, podemos ampliar o leque de frentes de sinais do novo ciclo. Mais fácil identificá-las nominando as empresas, que as vejo hoje como portadoras do “novo”, mesmo que com isso possa incorrer e alguns esquecimentos.

Dentre estas, Imetame, Estel, Fortes Engenharia, Timenow, Weg, Marcopolo, Biancogres, Fortlev e, certamente, mais outras. Mas podemos identificar também sinais nucleados por grandes empresas, como é o caso da ArcelorMittal, com novos investimentos em diversificação com laminados a frio; e Suzano, com diversificação para a frente.

*Orlando Caliman é economista, ex-secretário de Estado do Espírito Santo e diretor econômico da Futura Inteligência

Ricardo Frizera Colunista
Colunista
Sócio-diretor da Apex Partners, casa de investimentos com R$ 9 bilhões de reais sob cuidado. Seu propósito é ajudar a colocar o Espírito Santo no mapa.