Na história econômica do Espírito Santo podemos identificar com bastante nitidez dois grandes ciclos econômicos: o do café e o da grande indústria. O primeiro, que perdurou por praticamente um século, com término na década de sessenta do século passado, se bem observarmos, apesar de ter moldado fortemente nossa formação econômica e social, pelas suas características que lhes foram bem próprias, nos blindou de rupturas que nos forçassem a avançar em diversidade e progresso técnico.
Já o ciclo da grande indústria, fortemente pautada na produção de commodities, nos foi pautado de fora, na lógica de uma política econômica de fortalecimento da indústria de base nacional e integrada internacionalmente. Teve como marco decisivo o porto de Tubarão em 1966, que inaugura a integração do Espírito Santo na logística comercial transoceânica e que abriu espaço para grandes projetos industriais: Pelotizadoras da Vale e da Samarco, CST/ArcelorMittal e Aracruz Celulose, hoje Suzano.
Passados mais de 50 anos ainda é grande o peso da grande indústria de commodities. Segundo dados trabalhados por Sávio Caçador, atualmente diretor do Bandes, na sua tese de doutorado em economia, o valor da transformação industrial (VTI= Valor bruto da produção menos custos operacionais) dessa indústria, que era de 8% em 1960 atualmente encontra-se na casa de 66% do total do setor industrial. No auge chegou a 77% em 2005.
Conclusão: a grande industrial além de seu enorme peso ainda dispõe de um forte potencial inercial de crescimento. Mas, também, de potencial transformador, capaz de abrir espaços e fornecer condições para um novo ciclo.
Um novo que de antemão conta e contará com preciosos legados desta, representados, por exemplo, por infraestruturas, externalidades tangíveis e intangíveis, expressas em conhecimentos, experiências, know-how aberto, empreendedorismo e muitos outros. São os seus “spillovers” – transbordamentos de efeitos, numa tradução mais livre. Que considero o maior legado da grande indústria: qualificou e colocou o Espírito Santo em evidência.
Assim, em termos de perspectiva, e sem desgarrar-se do passado, não seria despropósito afirmar que a economia capixaba se encontra atualmente diante de um processo de transformação que a alçará a um novo patamar de complexidade, diversidade e integração interna e externa – nacional e internacional. Um novo ciclo.
É comum não darmos conta de perceber o novo que acontece ao nosso redor, em qualquer campo de observação. No mundo econômico, não é diferente. Muitas vezes, os resultados demonstrados em números não revelam de forma clara e objetiva as mudanças que ocorrem nas entranhas do mundo produtivo, em especial, aquelas de natureza qualitativa.
O certo é que muita coisa nova está acontecendo na economia capixaba, seja na agricultura, na indústria, no comércio, na logística, nos serviços e em outros campos. Como bem afirmou Léo de Castro, ex-presidente da FINDES, trata-se ainda de uma revolução silenciosa.
*Orlando Caliman é economista, ex-secretário de Estado do Espírito Santo e diretor econômico da Futura Inteligência
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