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Orlando Caliman: o risco para a economia capixaba não está no ímpeto protecionista de Trump, mas nos seus prováveis efeitos

Orlando Caliman: o risco para a economia capixaba não está no ímpeto protecionista de Trump, mas nos seus prováveis efeitos

As investidas de Trump tem colocado de ponta cabeça os mercados globais. Em meio às idas e vindas em torno de medidas tarifárias impostas até o momento, o que tem prevalecido, e em movimento crescente, são as constantes incertezas e a deterioração dos cenários de expectativas em dimensões globais. Os resultados desse movimento já são por demais conhecidos: redução do fluxo do comércio internacional e o desaquecimento econômico global. Inclusive a americana.

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Por enquanto, para o Brasil, esses avanços e recuos intermitentes da política tarifária americana tem até ajudado com a queda do dólar. Até quando, poucos especialistas se arriscam em fazer prognósticos. No entanto, o maior risco está no alongamento do horizonte temporal das turbulências geradas. Grandes cadeias globais, caso típico da indústria automobilística, mas não se resumindo a esta, podem sofrer sérias avarias. Inclusive com retornos indesejáveis para a própria economia americana. E com turbulências, mas também oportunidades chegando por aqui.

Mesmo a tarifação de 25% sobre o aço e alumínio, prometida por Trump para começar a vigorar em abril, com potenciais impactos na economia capixaba, pode não acontecer, pelo menos nas condições inicialmente colocadas. Até agora, tudo parece negociável. E ao que nos parece, no conjunto da obra de Trump, o Brasil não seria seu alvo preferido. Afinal, mesmo praticando uma tarifa média de importações de 12% contra produtos americanos, nossa balança comercial nos é desfavorável.

Voltando especificamente para o caso da economia capixaba, minha avaliação é de que o risco em perspectiva deverá advir mais de uma provável, para alguns especialistas inevitável, perda de dinamismo da economia americana do que diretamente da corrida tarifária. Ou seja, mais dos efeitos do que da origem.

Vale lembrar que os EUA são o maior mercado para as exportações capixabas. Para lá destinamos em 2024, em valor, cerca de 28% do total exportado; cerca de 3 bilhões de dólares. Dois produtos responderam por 51% desse total: Semielaborados de aço (880 milhões de dólares) e rochas – mármore e granito – (680 milhões de US$). O acumulado em participação passa a 90% quando se adiciona mais três produtos, celulose, minério de ferro e outras ligas de aço. Café verde e solúvel aparecem na sexta posição, correspondendo a 6,7% do total.

O grau de concentração da nossa pauta de exportações, sem dúvida, deve merecer atenção. E nesse aspecto, a fragilidade maior nem passa pelo risco tarifário, mas sim pela ponta de consumo que se vincula diretamente ao desempenho do PIB americano. O setor de mármore e granito, normalmente mais sensível à movimentos do PIB, estaria mais propenso ao risco. Em 2024, por exemplo, foi um ótimo ano para o setor. Isto porque a economia americana evoluiu bem.

Mas, nesse imbróglio todo, ainda é cedo para se cravar prognósticos. Por enquanto, valem os exercícios.

*Orlando Caliman é economista, ex-secretário de Estado do Espírito Santo e diretor econômico da Futura Inteligência

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Ricardo Frizera Colunista
Colunista
Sócio-diretor da Apex Partners, casa de investimentos com R$ 9 bilhões de reais sob cuidado. Seu propósito é ajudar a colocar o Espírito Santo no mapa.