A onda de protecionismo desencadeada pelo presidente dos Estados Unidos com a imposição de um verdadeiro tarifaço sobre vários países chegou ao Brasil. Produtos de aço e alumínio passarão a ser taxados em 25% para ingresso no mercado americano. E chegou especificamente ao Espírito Santo, uma vez que somos exportadores de aço para aquele país.
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O Espírito Santo tem nos Estados Unidos o seu maior parceiro comercial. Em 2024, as exportações para lá chegaram a 3,1 bilhões de dólares, de um total de 11,1 bilhões – o correspondente a 28% do total. E, especificamente, no caso do produto semiacabado de aço, o mercado americano absorveu 880 milhões de dólares.
Sem dúvida, para a ArcelorMittal representará um desafio de peso. Isso, mesmo com a experiência adquirida pela empresa quando medida idêntica foi adotada no início do primeiro mandato de Trump, que sofreu reversão com o estabelecimento de cotas. Porém, não há como negar que se estará diante de um momento de alta incerteza em torno do que poderá acontecer.
O interessante é que em 2018, quando ocorreu a reversão do tarifaço sobre o aço brasileiro, a substituição por quotas acabou até favorecendo a ArcelorMittal que conta com uma indústria de sua propriedade no Estado do Alabama para destino das suas placas de aço. No acordo daquela ocasião, que ainda vigora, foi estabelecida a cota de 3,5 milhões de toneladas. Dentro da quota o produto é isento.
A questão é que enquanto não se coloca o novo evento na mesa de negociações permanece-se num verdadeiro vácuo ou limbo. E vácuos mostram-se sempre mais prejudiciais do que incertezas. Incertezas são inerentes a qualquer negócio. Uns mais, outros menos, e com as quais as empresas já sabem como lidar embutindo-as nas suas estratégias.
O curioso é que a balança comercial brasileira em relação à siderurgia foi deficitária em aproximadamente 3 bilhões de dólares em 2024. Vendemos para os EUA basicamente matéria prima e importamos um vasto número de produtos elaborados dentre os quais máquinas e equipamentos. Ou seja, temos aí uma relação de troca que já nos é desfavorável. Com o protecionismo americano funcionando, a tendência é piorar ainda mais.
A má notícia, no entanto, contrasta com a boa. Boa não, ótima, dada pela ArcelorMittal com o seu novo projeto de produção de laminados a frio. Este sim, colocará a economia capixaba na janela de oportunidades para novos negócios e atração de investimentos em segmentos como a indústria da chamada linha branca – eletrodomésticos -, indústria automotiva, de máquinas e equipamentos e outras frentes mais.
Observando-se a lógica aparentemente ilógica de Trump, a expectativa é de que, novamente, negociações aconteçam trazendo a normalidade de volta.
*Orlando Caliman é economista, ex-secretário de Estado do Espírito Santo e diretor econômico da Futura Inteligência
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